‘Gente que fez a Tribuna’: as linhas e curvas de Eduardo Borges
Em celebração aos 40 anos da Tribuna, 40 profissionais que já passaram pelo jornal compartilham suas memórias, publicadas no portal, de 7 de julho a 31 de agosto, em contagem regressiva para o aniversário da Tribuna, no dia 1º de setembro
“And the Oscar goes to…”
Eduardo Borges, trabalhou na Tribuna entre 1997 e 2006
Que honra poder estar aqui fazendo parte dos festejos dos 40 anos da nossa querida Tribuna de Minas. Essa Redação ativa minha memória com cheiro, com gosto, cor e presença muito intensa. E neste momento em que temos que lidar com essa época de contradições e isolamentos, é muito estimulante e afetuoso poder dividir com vocês esse meu pequeno momento, dentro de uma constelação de muitas outras lembranças de amigas e amigos da Tribuna. Então vamos juntos, vamos lembrar, transcender e ir além.
Cheguei ao jornal em 1997, aos 21 anos, e assim permaneci por nove anos na Redação, com a responsabilidade de ilustrar eventuais matérias publicadas nos cadernos internos, ao passo que o nosso saudoso Bello ficava com a função da charge da capa. Mas de todas as minhas ilustrações, a que vem mais à lembrança foi aquela do meu trauma pelos dois Oscars que não ganhamos, pela indicação do filme “Central do Brasil” e da atriz Fernanda Montenegro, em 1999.
O Oscar naquela época aglutinava todas as atenções de um vastíssimo público que bebia, comia e respirava cinema. Rubens Ewald Filho era a quintessência dos cinéfilos, e os melhores jornais diários contratavam jornalistas conhecedores da sétima arte. Nesse contexto, em 19 de março de 1999, dois dias antes da premiação do Oscar, a querida jornalista que bebia, comia e respirava cinema, Izaura Rocha, me encomendou uma ilustração para estampar a capa do Caderno 2 com o filme “Central do Brasil” que estava no páreo. E já bastante comovido com os acasos de Dora (Fernanda Montenegro) e Josué (Vinícius de Oliveira), imaginei uma releitura do cartaz oficial do filme, mas dessa vez deitando a Fernanda Montenegro sobre o colo da estatueta dourada.
Dente por dente, olho por olho, e a expectativa pelo prêmio foi tomando as ruas numa proporção tão grande que ver a Fernandona papando o Oscar logo tinha virado obsessão e quase questão de um ajuste de contas para todo o país. E em 21 de março, já perto da meia-noite, TVs ligadas, o povo da Tribuna virando as horas assistindo ao prêmio numa pimpona mesa de bar, e bateu aquela angústia de dia de jogo da seleção para ouvir o Jack Nicholson soltar o estrondo da bomba… And the Oscar goes to… Gwyneth Paltrow! Nããão! E dá-lhe balde de água fria com a Sophia Loren: And the Oscar goes to… Roberto! Oscar para o filme “A vida é bela”. Ah! Nunca tive coragem de assistir a este filme, mas a Isaurinha assistiu!
E inúmeras vezes admirei essa Redação sorridente, de imaginação criadora, proativa a entender o lugar do outro, e atenta à pluralidade de muitos tipos de gente. Mas também constituíamos uma redação de raiz plural: fotógrafos, a senhora do cafezinho, jornalistas, diagramadores, colunistas, secretárias, arquivistas, motoristas, designers, a equipe da faxina, técnicos da computação, e ao mesmo tempo a direção do jornal. Penso simplesmente que fomos bons em tecer e somar nossos ânimos e nossos afetos. A nossa paixão circulou e cravou a potência dos textos, a beleza das páginas e fez o espírito crítico da Tribuna de Minas.
Tópicos: tribuna 40 anos