‘Gente que fez a Tribuna’: o tempo que não parou para Henrique Leal


Por Tribuna

08/08/2021 às 07h00

O tempo não para

Henrique Leal, escritor e jornalista da Tribuna entre 1986 e 1992, Cadeira 25 da Academia Juiz-forana de Letras


Minha trajetória na Tribuna de Minas durou apenas sete lindos anos. Lembro-me que em 1986, quando finalmente concluí o curso de Jornalismo pela UFJF (sim, sou da época que os jornalistas tinham que ter diploma para o exercício da profissão…), já estava na Tribuna, sempre na área cultural, como já havia feito na Gazeta Comercial e no Diário Mercantil. Nem tentem fazer as contas: sou filho de militar que vivia sendo transferido Rio/Brasília, desde 1973. Portanto, só virei bacharel aos 28 anos de idade, mas isso é uma outra história (tive três títulos como jornalista, legalmente necessários até o esperado Jornalista Diplomado, que hoje e nada é a mesma coisa).
Pano rápido: em 1987, a Tribuna de Minas resolve adentrar, em grande estilo, no recatado e pacato mundinho do jornalismo diário de Belo Horizonte, uma das tantas ousadias do médico Juracy Neves. Ato de extrema coragem e ousadia, possivelmente apostando fichas em uma vitória de Itamar Franco ao governo de Minas Gerais, em 1988. Porém acontece o inesperado: o obscuro e azarão prefeito da cidade mineira de Contagem das Abóboras ganha a eleição. E Newton Cardoso fez-se história, até por colocar seu bloco na rua, o jornal Hoje em Dia.
Pelo que me recordo (aos 64 anos, exposto pelo Facebook, há que se atenuar…), a Tribuna diária durou uns 3 anos e outros 2 como Tribuna semanal. Para o prestigioso cargo de editor de cultura do novo jornal, qual não foi meu espanto ao saber que o meu nome fora o escolhido. Isso em equipe de pesos-pesados do jornalismo cultural, tais como Walter Sebastião e Ailton Magioli (ambos bem, vivos e aposentados, coisa rara nos dias de hoje). Anos depois, vim a saber que meu nome fora escolhido pessoalmente pelo Dr. Juracy Neves, o que em muito me envaideceu.
Acho que não fizemos feio: em 1991, a Tribuna esteve presente, como convidada (sim, jornalistas eram bem tratados…) aos Festivais de Cinema de Gramado e Brasília, entre outros eventos importantes. Confesso que quando soube que sua biografia já estava sendo escrita pelo jornalista e editor geral da Tribuna, Paulo Cesar Magella, deu-me uma pontinha de tristeza, logo dissipada pela leitura da obra, um trabalho excelente do talentoso e fiel escudeiro.
Tive momentos inesquecíveis nos meus sete anos na Tribuna de Minas, Juiz de Fora e Belo Horizonte. O jornalismo praticado na sisuda e, sem demérito algum, provinciana capital dos mineiros, jamais seria o mesmo. Sacudimos a capital. Foram anos de grandes arroubos jornalísticos. Alguns até perigosos, como a exclusiva que fiz com Cazuza, creio que em 1987, que foi capa do jornal. A Tribuna bancou minha peregrinação, do Baixo Gávea à cobertura de Cazuza em frente ao Jóquei Clube. Cazuza era um perigo e a entrevista é uma das minhas preferidas até hoje. Motivo de orgulho, sem dúvida, por fazer parte do Memorial Cazuza, mantido pela mãe do poeta, Lucinha Araújo (que recentemente aposentou-se da Fundação Viva Cazuza, criada para dar assistência a crianças abandonadas com HIV).
Parabéns, Tribuna de Minas, vida longa e sucesso, sempre.

PUBLICIDADE

Tópicos: tribuna 40 anos

Os comentários nas postagens e os conteúdos dos colunistas não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é exclusiva dos autores das mensagens. A Tribuna reserva-se o direito de excluir comentários que contenham insultos e ameaças a seus jornalistas, bem como xingamentos, injúrias e agressões a terceiros. Mensagens de conteúdo homofóbico, racista, xenofóbico e que propaguem discursos de ódio e/ou informações falsas também não serão toleradas. A infração reiterada da política de comunicação da Tribuna levará à exclusão permanente do responsável pelos comentários.