Cinco séries para assistir se chover no fim de semana (ou se der vontade)
Talvez você tenha morrido de gastura com as tretas em série de Heinsenberg e Jesse Pinkman em “Breaking bad”. Pode também ter morrido de nostalgia vendo a galerinha da oitentista “Stranger things” viver aventuras e desventuras rodando por este mundo de bike e até indo para o invertido. É provável que você tenha um lado na disputa “Friends” versus “How I met your mother”, ou ame os dois sem distinção. “Game of thrones”, “The walking dead”, “Gossip girl”, “Lost”, “House of cards”… algumas séries alcançam sucesso tamanho que se tornam assunto coletivo.
No caso destas que mencionamos, se você não assistiu a alguma (ou a todas), certamente alguém já indicou que você o fizesse. Mas a verdade é que além do universo das mais badaladas, existe um vasto cardápio de produções interessantes nos programas de streaming e para download. Para dar uma forcinha, listamos aqui cinco delas, para você fazer uma maratona se o tempo estiver chuvoso ou se bater aquela preguicinha do rolê e a vontade de se recolher em frente à telinha. As séries estão disponíveis em diferentes canais de streaming.
“11.22.63”
Em oito episódios, a série da plataforma de streaming Hulu (concorrente da Netflix) adapta o best-seller homônimo de Stephen King. A trama acompanha Jake Epping (James Franco), um professor de língua inglesa que é encarregado, pelo seu amigo Al (Chris Cooper), a dar continuidade à sua missão de mudar a história do mundo e impedir o assassinato do presidente John F. Kennedy. Usando um portal que leva as pessoas ao ano 1960, Franco vai ao passado e volta aos dias atuais, tentando investigar os acontecimentos que levaram à morte de JFK para evitar o fatídico acontecimento do dia 22 de novembro de 1963, daí o nome da série. Franco não tem atuação digna de prêmios, mas segura bem como protagonista, e as reviravoltas do roteiro instigam o espectador (sem falar que o tema de viagens no tempo já é um clássico no imaginário popular). O programa tem o próprio escritor Stephen King e J. J. Abrams (que criou o hit “Lost”) entre seus produtores executivos, só para provar que vale a pena arriscar. Disponível no app Hulu, que é por assinatura.
“Big little lies”
Entre as muitas coisas que é, “Big little lies”, da HBO, é uma série sobre mulheres e sua resistência. Mulheres que lutam contra preconceitos, expectativas, tentações, o passado, o presente, frustrações, agressões… apesar de serem, todas, parte de uma elite privilegiada. A produção parte da investigação de um crime que permeia toda a história, com interrogatórios policiais das protagonistas e de outros personagens secundários. Mas o foco mesmo é delas, as personagens, as atrizes e as tramas e subtramas que surgem da relação entre elas.
Nicole Kidman dá vida ao enredo mais potente e mais bem retratado de todos os narrados na série, tanto que levou seu primeiro Emmy da carreira como atriz principal. A produção levou a melhor da premiação em quatro outras categorias: melhor série limitada ou telefilme, melhor direção (Jean-Marc Vallée), ator coadjuvante (Alexander Skarsgard) e melhor atriz coadjuvante (Laura Dern). O time de peso de protagonistas também tem Reese Witherspoon, Shailene Woodley e Zoë Kravitz , que dão personalidade e sensibilidade ao tema central da série, as violências contra mulheres, em um roteiro bem amarrado que prende o espectador até o último episódio. Dá para ver no aplicativo de streaming da HBO, HBO-Go, aberto para assinantes do canal na TV fechada.
“Episodes”
Esqueça o doce, porém não tão inteligente Joey, personagem eterno de Matt Le Blanc na clássica “Friends”. Em “Episodes”, produção da Showtime, o ator interpreta uma versão caricatural de si mesmo, e a graça da série está justamente aí, no constante jogo entre ficção e realidade. A série narra a história de um casal de roteiristas, Sean (Stephen Mangan) e Bev (Tamsin Greig), autores de uma série britânica de sucesso que ganha um remake em um canal dos Estados Unidos. Também responsáveis pela nova versão, os dois precisam enfrentar as dificuldades da guerra pela audiência e apelo popular em uma produção nas terras do Tio Sam, ambiente muito diferente da Londres a que são acostumados.
De humor ácido, a produção retrata de forma hilária a relação do casal principal com os produtores da emissora e o elenco da série fictícia. Fãs de “Friends” também se divertirão com piadas, referências e participações especiais dos colegas de elenco de Matt Le Blanc na produção antológica. “Episodes” não é uma obra-prima, mas diverte com um humor além das claques e mostra a faceta do autodeboche de Le Blanc, que lhe rendeu o Globo de Ouro de melhor ator de comédia em 2012. A produção teve a quinta e última temporada exibida em 2017.
“The good place”
A série estreou em setembro na Netflix, que não fez muito alarde sobre a produção. No elenco, nomes conhecidos como Kristen Bell (famosa por “Veronica Mars” e por dublar a “Gossip girl”) e o veterano Ted Danson (mais conhecido recentemente por seu papel CSI, mas eternamente lembrado por ser um dos “Três solteirões e um bebê”). A criação é de de Mike Schur, que assina sucessos de humor como “Parks and recreation”, “The office” e “Brooklyn nine-nine”. Simpática e inteligente, a comédia cria um universo próprio, esteticamente encantador e extremamente criativo.
Na trama, Eleanor (Bell) é uma garota que morre e rapidamente descobre a existência do “lugar bom”, para onde vão os que passaram a vida acumulando (ou deixando de perder) pontos para cada boa ação praticada, desde dar “bom dia” às pessoas até as mais altruístas, como ser ativista pela paz, por exemplo. Mas alguma coisa parece errada com a entrada de Eleanor no Paraíso, problema que ela tenta solucionar com a ajuda do complacente e ético Chidi (William Jackson). Danson brilha como comandante do lugar bom e seu timing para piadas, aliado ao entrosamento do elenco e ao texto afiado resultam em episódios leves, divertidos elaboradas reviravoltas. Dá sempre vontade de assistir ao próximo episódio. A primeira temporada está toda disponível, e a segunda tem um episódio lançado a cada quinta-feira.
“The handmaid’s tale”
Assim como “Big little lies”, “The handmaid’s tale” foi uma das grandes vencedoras do Emmy 2017. A série, estrelada e produzida por Elisabeth Moss (a adorada Peggy, de “Mad men”), é baseada no livro homônimo da canadense Margaret Atwood, traduzido para o português como “O conto da aia”. Na trama,a personagem principal, vivida por Moss, tem uma vida comum – estuda, trabalha, tem amigas, bebe e se diverte. De uma hora para outra, ela perde todos os seus direitos como cidadã, é capturada e separada da família, perdendo até seu nome e sendo rebatizada como Offred. Na República de Gilead, o novo país que se formou no lugar dos Estados Unidos, Offred se torna uma aia (handmaid), com a função de prover filhos para as esposas dos comandantes do país. Assim como outras aias, a protagonista foi levada para lá por ser uma das poucas mulheres férteis remanescentes em um futuro distópico em que poluição, radiação e venenos fizeram com que muitos homens e mulheres se tornassem estéreis.
A fotografia é marcante, sobretudo pelo efeito das roupas longas e vermelhas das aias, com chapéus brancos que remetem a cabrestos, uniforme obrigatório. A produção é uma feliz e acertada aposta do Hulu, que nem sempre é agradável ou fácil de se assistir por tratar de temas pesados de forma brutal, principalmente porque é possível fazer pontes diversas com a atualidade. Num presente de Donald Trumps, Bolsonaros e retrocessos de direitos fundamentais, a sensação assustadora de que Gilead é possível faz o espectador -e, sobretudo, a espectadora – assistir a cada episódio arrepiado e atento a cada detalhe. Obra fundamental.