Tudo o que você precisa saber sobre a febre amarela

PUBLIEDITORIAL

Infectologista do corpo clínico do Hospital Albert Sabin esclarece dúvidas sobre a doença


Por Hospital Albert Sabin

01/02/2018 às 21h05- Atualizada 02/02/2018 às 12h21

A febre amarela voltou a chamar atenção da população no início deste ano. Após um grande surto em 2016 e 2017, agora, a doença está de volta e, segundo o Ministério da Saúde, os lugares mais afetados são os estados de São Paulo e Minas Gerais, que já contabilizam, de julho do ano passado até o final de janeiro, 213 casos confirmados e 81 mortes.

Mas o que é a febre amarela? Como é transmitida? Tem tratamento? O Dr. Guilherme Côrtes, infectologista do corpo clínico do Hospital Albert Sabin, esclareceu algumas dúvidas sobre a doença.

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A febre amarela é uma doença infecciosa causada por vírus e transmitida por vetores (seres vivos capazes de transmitir um agente infectante). A transmissão acontece através do mosquito infectado e pode ocorrer em áreas rurais ou urbanas. Ou seja, a doença possui dois ciclos, mas, independentemente do local de contaminação, ela é a mesma. No meio rural, os responsáveis pela contaminação são os mosquitos das espécies Haemagogus e Sabethes e, no meio urbano, o Aedes aegypti, mesmo propagador dos vírus da dengue, Zika e Chikungunya.

Segundo o Dr. Guilherme, os sintomas iniciais da doença são muito inespecíficos, geralmente começam com dores de cabeça, dores no corpo, mal-estar geral, enjoo e náuseas. Eles são semelhantes a outras viroses e podem ser facilmente confundidos com o quadro clínico de dengue.Dr. Guilherme explica que “no início do quadro, realmente é difícil a distinção clínica. Hoje em dia, entendemos como caso suspeito qualquer pessoa que inicia quadro súbito de febre, dores no corpo, dor de cabeça e que os exames laboratoriais mostrem algum grau de inflamação hepática. A evolução da doença tende à hepatite e inflamação no fígado”.

De acordo com o Dr. Guilherme, cerca de 60% dos casos apresentam poucos sintomas ou até mesmo nenhum. Essas pessoas geralmente nem sabem que contraíram a doença. Do restante, 20% evoluem para uma resolução espontânea. O paciente tem sintomas mais intensos, mas o próprio organismo consegue controlar a infecção. O problema são os 10% a 20% dos casos que evoluem para extrema gravidade, com altos índices de letalidade. Estes casos, depois de dois a quatro dias, começam a apresentar melhora dos sintomas. O paciente pode ficar algumas horas se sentindo melhor ou até mesmo ter um a dois dias de melhora. Após este período, os sintomas reiniciam e evoluem com mais gravidade.Há vômitos e, possivelmente, fenômenos hemorrágicos e manifestações clínicas mais intensas. Estes são os casos mais preocupantes.

Não existe tratamento específico para a febre amarela, pois não existe um antiviral para conter a replicação do vírus. Para combater a doença, são adotadas medidas de terapia intensiva, nas quais os sintomas são tratados e combatidos até a infecção ser controlada pelo próprio organismo da pessoa infectada.

Prevenção e vacinação

A maneira mais eficaz para prevenir a doença é a vacinação. A vacina existe desde 1937 e é a melhor estratégia para prevenir, não somente os casos no ciclo silvestre, mas também para impedir a reintrodução da febre amarela urbana. Outra forma importantíssima de prevenção é o controle do Aedes aegypti, que, inclusive, foi a maneira como foi controlada a febre amarela urbana no Brasil e nas Américas na primeira metade do século XX.

Como proteção individual, Dr. Guilherme indica o uso de repelentes: “temos dois tipos de repelente, um à base de uma substância chamada DEET e outra à base de uma substância chamada Icaridina. Ambos têm eficácia semelhante. Eles têm particularidade em relação à concentração e a quantas vezes devem ser reaplicados, mas têm a mesma eficácia. Outra medida de proteção individual diz respeito ao uso de roupas mais compridas para evitar a picada do mosquito”. E, claro, evitar visitas a áreas consideradas de risco. Em Juiz de Fora e região, as áreas de risco são os locais onde está acontecendo mortalidade de macacos. Nesses locais está ocorrendo epidemia silvestre e, certamente, circulação viral e de mosquitos que podem transmitir a febre amarela.

Falando no macaco, é importantíssimo ressaltar que o animal NÃO transmite a doença. Pelo contrário, ele adoece assim como nós e, além disso, serve como alarme para um possível aparecimento da doença naquele ambiente.

Como dito anteriormente, a principal maneira de prevenir a doença é através da vacinação. Segundo o Dr. Guilherme, a maioria das pessoas entre 9 meses e 59 anos pode se vacinar. Pessoas com alguma contraindicação formal, como uso de imunossupressores, que fizeram transplantes, ou estão em quimioterapia, que tenham doenças autoimunes, cardiovasculares, renais, alergia a ovo ou gestantes e mulheres em processo de amamentação, devem, antes de tomar a vacina, procurar profissional para avaliar o risco versus benefício da vacinação. Esse risco versus benefício vai depender do quadro de epidemia da doença.

Em relação a pessoas acima dos 60 anos, Dr Guilherme explica que “há uma preocupação adicional em relação a risco de efeitos colaterais, uma vez que costumam ter imunidade mais baixa. Mas são eventos raros e, certamente, no contexto epidemiológico atual, é importante que idosos saudáveis, sem comorbidade, vacinem-se, porque é uma faixa etária que tem sido bem acometida pela doença”.

Dúvidas em relação a vacinação ainda podem surgir, por isso Dr. Guilherme esclarece algumas delas:

Quem já tomou uma dose, deve tomar outra?

Quem já tomou uma dose anterior pode até tomar outra dose, mas apenas uma dose é necessária para dar imunidade em adultos.

Caso a pessoa não lembre se já tomou alguma dose e tome novamente, pode ser prejudicial?

Para quem não lembra, ou não tem cartão vacinal, o melhor é tomar a vacina e ter a certeza de que está imunizado. Não há problema em tomar uma segunda dose, caso tenha tomado previamente alguns anos atrás.

Quais são as possíveis reações à vacina?

Normalmente, a vacina é muito bem tolerada e segura. Mas, pode ocorrer febre, dor no corpo, dor de cabeça e outros eventos adversos mais raros.

Para finalizar, Dr. Guilherme considera importantíssimo ressaltar que “Juiz de Fora, como cerca de 90% dos municípios brasileiros, está infestada pelo Aedes aegypti. O que estamos vivenciando agora com esses casos de transmissão rural/silvestre é que existe o risco iminente de introdução de febre amarela urbana. Além da vacinação é extremamente importante que as pessoas redobrem os cuidados para controle do mosquito. Essa é uma ação extremamente importante para prevenir a reintrodução da febre amarela na nossa região”.

Agora que você já está informado de todos os detalhes da febre amarela, fique atento aos sintomas, evite as áreas de risco e, principalmente, ajude a combater o mosquito da dengue. Se suspeitar de algum sintoma ou pretende se vacinar, não hesite em consultar um médico. E, se precisar, conte sempre com a equipe do Hospital Albert Sabin.

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