Só dá cerâmica


Por Bárbara Riolino

27/05/2017 às 07h00- Atualizada 29/05/2017 às 09h26

Adriana Lopes foca seu trabalho em peças utilitárias feitas de cerâmica com a técnica da alta temperatura. Foto: Leonardo Costa
Adriana Lopes foca seu trabalho em peças utilitárias feitas de cerâmica com a técnica da alta temperatura. Foto: Leonardo Costa

A cerâmica reúne os quatro elementos da natureza: terra, água, fogo e ar. É da terra que a argila é extraída e, para ser modelada, necessita ser hidratada com a água. Após ser trabalhada, a peça fica exposta ao ar para secar e depois ser submetida ao forno, onde recebe a primeira queima, também conhecida como biscoito. Depois desta etapa, esmaltes e outros acabamentos podem ser aplicados. O processo é concluído em uma nova queima. Após horas de espera, o resultado é sempre uma surpresa, conferindo personalidade e originalidade a cada peça, que pode servir para adornar a casa, compor a mesa das refeições ou turbinar o acervo culinário.

O que diferencia o trabalho de cada ceramista é a técnica escolhida. Para quem foca em utilitários, como é o caso da artista plástica Adriana Lopes, a alta temperatura é indicada, por dar mais resistência e durabilidade ao produto final. Adriana – que já foi adepta da técnica japonesa raku – hoje produz pratos, talheres, copos, xícaras, travessas. “São processos totalmente diferentes, as peças em raku são mais finas, ideais para adornos”, explica. “Mesmo com o uso do torno, uma peça não fica igual à outra. E esse é o charme: permitir que cada ceramista possa ter a sua assinatura e o seu estilo”, acrescenta Adriana, que, nos últimos anos, elaborou receitas para produzir seus próprios esmaltes, utilizando elementos presentes na natureza.

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Já o artista plástico Matheus Burger desenvolveu esmaltes a partir de cinzas provenientes de vegetais e da pigmentação da própria terra. “Um dos fundamentos da cerâmica é viver da terra e daquilo que ela nos dá. Ao coletar o barro, preciso pensar no impacto que aquela retirada terá na natureza. Uma peça é fruto de um processo muito complexo, por isso pode custar caro. Cada peça precisa ficar, pelos menos, 20 horas no forno (a gás ou elétrico), tanto na queima de biscoito como na fixação do esmalte”, destaca Matheus.

O artesanal e a gastronomia

Os ceramistas Priscilla de Paula e Matheus Burger abrem seu ateliê, no São Mateus, para oficinas e mostras de seus trabalhos neste fim de semana. Foto: Leonardo Costa
Os ceramistas Priscilla de Paula e Matheus Burger abrem seu ateliê, no São Mateus, para oficinas e mostras de seus trabalhos neste fim de semana. Foto: Leonardo Costa

O design e a arquitetura, há alguns anos, têm se voltado para materiais que fogem ao processo industrial. Cada vez mais os projetos de interiores agregam elementos presentes na natureza, como madeira e fibras naturais. A cerâmica engrossa esse coro. “Teve um período que o design investiu em uma estética muito fria, tudo branco. Agora percebe-se o retorno de formas mais quentes e orgânicas. Uma peça em cerâmica proporciona o contato com o outro. É uma arte interativa. Cada experiência é única e dependerá da argila, do fogo e das forças que atuam sobre ela”, destaca a artista plástica Priscilla de Paula, que também trabalha com o barro.

Outro fator que contribuiu para a recente valorização da cerâmica utilitária é o interesse das pessoas pela gastronomia. Na visão de Adriana Lopes, a degustação do alimento ocorre por meio de todos os sentidos. “É o utilitário que ganhou o artístico”, pontua. Entretanto, esta relação entre a cerâmica e a alimentação não é de hoje. Segundo Burger, no processo cerâmico africano, os recipientes eram feitos no mesmo forno que a comida. “Comer em um pote de cerâmica é diferente de comer em um pote qualquer. Vemos hoje a redescoberta de uma tecnologia ancestral e primitiva, que tem muito mais a dizer para o futuro do que para o passado”.

Atividades no Dia do Ceramista

O Dia do Ceramista é comemorado neste domingo (28) em todo o país. Para marcar a data, o Coletivo Cerâmica MG promove o evento “2º Ateliers de portas abertas”, que reúne 33 ateliês de cerâmica do Estado. Participam da iniciativa ceramistas de Belo Horizonte, Contagem, Esmeraldas, Ouro Preto, Brumadinho, Uberaba, Prados, Nova Lima e Juiz de Fora.

As atividades englobam oficinas, queimas e abertura de fornos, experiências em modelagem no torno e à mão, além de exposição de peças, vivências artísticas, oficinas de pintura, brindes e atividades para crianças. O objetivo é compartilhar saberes com o público e aproximá-lo desta arte milenar bastante explorada no Estado, que o torna um importante polo de criação e produção do país.

A cidade é representada pelo ateliê Jardins Cósmicos, dos artistas plásticos Priscilla de Paula e Matheus Burger, que ficará aberto no final de semana para oficinas infantis e adultas. Os artistas ainda vão oferecer aos visitantes a experiência de criarem sua própria Hikaru Dorodango, uma técnica japonesa que consiste em moldar uma esfera brilhante e delicada, semelhante a uma bola de mármore ou de bilhar. A superfície lisa é obtida por meio do polimento com as próprias mão.

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