Mil e uma utilidades


Por Bárbara Riolino

04/02/2017 às 07h00

Um cômodo que se transforma em escritório, sala de jogos ou de ginástica e quarto de visitas quando necessário. Parece que estamos falando de um projeto de casas futuristas, onde tudo se altera em um piscar de olhos. Mas não. A ideia de reunir tudo em um só lugar é uma estratégia adotada por muitos arquitetos para contemplar desejos de clientes que buscam por mais espaço, funcionalidade e dinamismo em casa. Com plantas cada vez mais estáticas, e com metragens restritas, a solução é enxergar o espaço de uma outra perspectiva, verificando pontos que podem ser aproveitados para armazenar objetos e quartos e salas que possam ter mais de uma função.

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“A primeira coisa a se fazer é conversar com o cliente para compreender quais são suas demandas. Tudo deve ser levado em conta antes de iniciar o projeto, como ter conhecimento de sua rotina, horários, se tem costume de receber visitas ou hóspedes, se trabalha em casa e se mais de uma pessoa vai utilizar aquele espaço”, afirma a arquiteta Luciana Teperino, responsável por muitos projetos domésticos moldados para o aproveitamento de espaços pequenos.

Um destes projetos foi apresentado no ano passado durante a mostra Casa Design, quando a arquiteta projetou uma casa completa, no estilo loft, com direito a armários, cama de hóspedes e até escritório, em um espaço de 26 metros quadrados. “Começar a trabalhar com o aproveitamento do espaço surgiu de uma necessidade pessoal, ao montar o meu apartamento, que tem 53 metros quadrados. Depois disso busquei mais referências e compreendi que a busca pela integração dos espaços é de muitas pessoas também. Hoje faço da minha casa um mostruário para o meu trabalho, que é uma maneira dos meus clientes entenderem as propostas para os seus lares”, ressalta.

Cômodos

Salas e quartos são os cômodos mais fáceis de serem transformados em ambientes multifuncionais. “Neles conseguimos acrescentar os escritórios, camas de hóspedes e espaço para atividade física, por exemplo. Qualquer atividade que não vai acontecer sempre, e nem em horários simultâneas, é possível ser realizada em um quarto que não está sendo usado ou até mesmo o quarto do casal. A ideia de instalar o painel da TV junto com uma bancada de escritório é uma alternativa interessante. O espaço pode ser usado por até duas pessoas ao mesmo tempo”, observa Luciana. A arquiteta diz que os ambientes molhados como banheiro e a cozinha são os mais complicados de trabalhar. “Entretanto, a integração entre a sala de estar e a cozinha pode aumentar a sensação de espaço. Porém, nem todos gostam que esses ambientes fiquem sempre abertos. Uma boa opção é usar divisórias móveis, como portas de correr, que permitam o controle da abertura e fechamento entre esses espaços”.

Planta livre

As divisórias móveis são as melhores formas de criar uma casa ou apartamento multifacetado. Se a concepção do projeto tiver sido feita sob uma planta livre, melhor ainda. Um projeto conceito criado por Luciana oferece ao morador a ideia de ter sala e quartos espaçosos, que são divididos por paredes que se movimentam por corrediças fixadas do teto e no piso. As duas paredes responsáveis por esta divisão têm a profundidade de um armário comum, e armazenam, além dos objetos tradicionais, móveis como cama, mesa e cadeiras que ficam embutidos, podendo ser retirados apenas quando necessário. Contudo, a realidade que se vê nos projetos atuais de apartamentos é diferente disso. “Geralmente, não podemos quebrar uma parede para ampliar algum cômodo e integrá-lo a outro espaço, pois isso pode comprometer a estrutura do prédio como todo”, observa.
O ideal nos dias de hoje, segundo Luciana, seria as construtoras investirem em plantas livres, para que as pessoas possam dividir melhor os seus espaços conforme a demanda. “Muitos dos meus clientes cresceram em casas grandes e foram para apartamentos pequenos. O choque desta mudança é grande, e a sensação deles é que não será possível ter tudo o que desejam. As pessoas precisam mudar este olhar e compreender o espaço que possuem. Comprar um apartamento maior, hoje, é muito caro e nem sempre isso quer dizer que será melhor. Talvez mudar para um lugar menor é a chance de entender que não é preciso muita coisa para viver bem.”

Aproveitamento de espaços

Para quem tem muitos objetos em casa e quer armazená-los de forma discreta, a dica é utilizar os espaços aéreos e investir em armários que se portem de maneira neutra. Nestes casos, toda a atenção precisa estar voltada para o design dos móveis. “O design precisa ser o mais clean, sem puxadores e outros detalhes, para passar imperceptível. Tente aproveitar todos os espaços, inclusive, ir até o teto, mesmo que o acesso precise de uma escada. Lembre-se de separar os objetos de acordo com o uso, como roupas de camas e edredons por exemplo, que ocupam muito espaço mas não são utilizados sempre. Outra dica para disfarçar armários é trabalhar com o fechado e o vazio, ou seja, compartimentos com portas e outros sem”, explica a arquiteta. Para que o projeto fique harmônico, Luciana aponta a necessidade da escolha de uma paleta de cores que ofereça tons neutros como branco, off white, cinza e até o preto, que podem ser trabalhados de forma uniforme.

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