‘Kingdom’, da Netflix, tem heroína em nome da ciência


Por Leandro Nunes para Agência Estado

13/04/2020 às 16h46

Desde de que renovou a maneira de se narrar uma invasão zumbi, a primeira temporada da série sul-coreana Kingdom, disponível na Netflix, surpreendeu com uma história medieval eletrizante, com tons já vistos no cinema de seu país em Train To Busan (2016).

A vantagem que faz a série arrancar na frente, para bem longe da cansativa The Walking Dead, é seu recorte histórico, ambientado no período da Dinastia Joseon (1392-1897). Em apenas seis episódios, a série narrou em sua temporada anterior, a convulsão social provocada pela contaminação de pessoas, que se transformam em monstros sedentos por carne humana.

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Da periferia do país, a massa de zumbis seguiu para a capital, casa do poder e das conspirações. O boato do rei morto cede espaço para uma disputa aberta. Quem vai ocupar seu lugar, nesse momento de crise?

O filho do rei, acusado de traição, tem outras preocupações, como erradicar a contaminação com as ferramentas mais urgentes: flechas inflamadas, armas de fogo rudimentares, barricadas e espadas.

Nesse quesito, Kingdom é dona de cenas repletas de ação que pouco lembram os massacres zumbis urbanos de outras séries contemporâneas do gênero. A metáfora de uma sociedade exaurida, rodeada de prédios e transformada em massa alienada, ganha diferentes contornos na paisagem de florestas e construções milenares da série.

De fato, uma epidemia zumbi deixa rastros particulares. O luxo vivido pelos clãs tem fim e a desigualdade social é escancarada. Um mal que não escolhe entre ricos e pobres, embora os poderosos tenham mais vantagens. Se a força militar não basta, o que pode dar fim ao caos e promover a sobrevivência de todos?

Com os mesmo seis episódios – que pode parecer pouco para uma série com mais altos que baixos – a segunda temporada de Kingdom mantém em alta temperatura a ação de zumbis correndo, lutas, investidas, mas também constrói de maneira silenciosa os segredos por trás da epidemia. Enquanto os homens vão suar sangue na batalha, a heroína tem nome e profissão: Seo-bi, a médica.

Na primeira temporada, foi a personagem da atriz Doona Bae que percebeu o ciclo de funcionamento dos zumbis. Durante a noite, os monstros despertavam para caçar. Quando o sol nascia, entravam em buracos, em estado de dormência, à espera do pôr do sol. Esse comportamento serviu muito bem ao roteiro de estreia, mantendo a tensão dos humanos, tanto na ação direta, quanto nas estratégias de defesa. Para sobreviver, um dia de cada vez.

Na segunda temporada, Kingdom avança no desenvolvimento desses zumbis, à cargo das descobertas promovidas por Seo-bi. Como é de imaginar, a potência militar não é o bastante, mesmo que sirva para acariciar o ego masculino. O embate força versus inteligência está posto. Acreditar na intuição de uma médica ou no barulho das armas?

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As revelações de Seo-bi também serão usadas pela rainha, que não abrirá mão de seu lugar. O boato sobre sua gravidez ativa uma crise política inédita. A realeza reconhece que tem o caos ao seu favor, construções seguras para viver, um exército pessoal. Mas será que pode aprisionar o conhecimento?

Ao descobrir as origens e os motivos da contaminação zumbi, Seo-bi não se surpreende. Dominar o outro sempre foi da natureza humana. Kingdom encerra a segunda temporada exaltando a batalha da médica e lhe impondo um desafio superior. A nova guerra será pelo conhecimento, contra uma ciência ainda mais antiga. Boa sorte para os zumbis.

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