5 obras criadas em tempos pandêmicos

Tribuna lista produções clássicas que mostram como outras pestes e pandemias inspiraram as artes


Por Cecília Itaborahy, estagiária sob supervisão de Wendell Guiducci

26/02/2021 às 07h00

A pandemia continua e, muitas vezes, a gente perde a esperança e acha que nunca vai acabar. Mas, calma: vai acabar, sim! Enquanto isso, para mostrar que existe luz no fim do túnel e que, mesmo com tudo isso, a criatividade não acaba, selecionamos cinco obras criadas em tempos pandêmicos que merecem ser (re)lembradas. Elas podem funcionar como um respiro para agora e ainda nos ensinam a lidar com esses tempos sombrios. Vale ressaltar que no presente também tem muita coisa sendo feita e que é digna de sua atenção – como o disco que Gal Costa acaba de lançar, “Nenhuma dor”, e o filme “Malcolm e Marie”, de Sam Levinson, que há pouco entrou na Netflix.

“Decamerão”, Giovanni Boccaccio (1348 – 1353)

Este talvez seja o livro mais famoso escrito durante uma pandemia. Durante o surto da peste negra na Itália, dez jovens saem de suas cidades para se isolarem juntos em uma casa de campo. São ao todo cem novelas que, além de retratar os dias de isolamento, servem como documento comportamental da época.

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“Rei Lear”, William Shakespeare (1606)

Esta obra de Shakespeare foi escrita enquanto o autor estava em quarentena por causa da peste bubônica. A tragédia teatral, que resgata algumas lendas britânicas, conta sobre a loucura que acometeu o Rei Lear ao perceber que estava sendo enganado por suas filhas, Goneril e Regan, enquanto sua preferida, Cordélia, perdia a sucessão do trono. O livro é perpassado pela fúria e pelo delírio que permeiam momentos de isolamento.

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“Jesus is coming soon”, Blind Willie Johnson (1918)

Importante nome do blues, Blind Willie Johnson retrata em “Jesus is coming soon” a gripe espanhola. Nela, o músico conta sobre a doença que matou muitos nos anos 1918 e 1919. Daí o motivo pelo qual Jesus estaria “chegando em breve”, conforme o título da canção. Ela tem uma forte carga gospel e consegue retratar o desespero da época.

“Autorretrato após a Gripe Espanhola”, Edvard Munch (1919)

Edvard Munch foi um dos precursores do expressionismo alemão. Conhecido sobretudo por “O grito” (1893), o pintor norueguês sofreu diretamente com as várias doenças que assolaram sua época (1863 – 1944). Após ter sido contagiado pela gripe espanhola, Munch retrata nesta obra seu estado durante aquele tempo sombrio, em tons pálidos e fragilizado. Sua mãe e sua irmã morreram em decorrência de tuberculose pulmonar. Tudo isso influenciou e muito toda sua obra.

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“Tarde”, Olavo Bilac (1919)

A gripe espanhola chegou ao Brasil em agosto de 1918 e causou grande estrago no país. Estima-se que 35 mil pessoas tenham morrido em decorrência da doença. Uma delas foi o poeta Olavo Bilac, considerado um dos principais representantes do parnasianismo, escola literária que reverenciava a cultura clássica. Em 1919, foi publicado postumamente o livro “Tarde”, que contém vários de seus principais e últimos poemas – escritos em 1918. A obra, além de registrar sua maturidade literária, mostra aspectos, inclusive derradeiros, de despedida – totalmente influenciado pelo momento.

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