Quadriciclos: para diversão, esporte e trabalho bruto

Embora possam circular nas ruas, ATVs têm vocação para o lazer e o esporte fora de estrada, o serviço pesado e o turismo


Por Wendell Guiducci

28/12/2017 às 07h00

Leonardo Vieira levantando poeira em seu Fourtrax no Rally dos Sertões. (Foto: Fabio Davini/Divulgação)

Brinquedo de gente grande, máquina esportiva ou instrumento de trabalho, os quadriciclos costumam fazer brilhar os olhos dos apaixonados por motor onde passam. Nas dunas de Natal ou na Serra de Ibitipoca, nas trilhas dos ralis e enduros ou nos brejos e pastos das fazendas, os ATVs (sigla para All Terrain Vehicle, algo como “veículo para qualquer terreno”) vão aos poucos se popularizando. Foi a bordo de um desses que o juiz-forano Leonardo Vieira se tornou campeão nacional em 2009, quando venceu o Rally Piocerá após percorrer 1.200km entre Teresina, no Piauí, e Fortaleza, no Ceará, em quatro dias. No ano seguinte, faturou o Ibitipoca Off Road.

Cada vez mais utilizado para lazer, trabalho e competição, o uso do quadriciclo é muito específico. Bruno Marcolino, diretor comercial da Independência Motos, que em Juiz de Fora comercializa um dos mais populares modelos, o Honda Fourtrax, informa que o bichão é desenvolvido especificamente para uso agrícola e off road. “Não tem buzina, não tem seta, não tem retrovisor nem luz de ré… ou seja, não pode circular nas ruas e rodovias, porque não atende às determinações da legislação de trânsito brasileira.”

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Todavia, a resolução 573 do Conselho Nacional de Trânsito (Contran), de dezembro de 2015, autorizou o emplacamento e circulação de quadriciclos em vias públicas de áreas urbanas – nunca em rodovias estaduais ou federais. Para isso, uma série de adaptações tem de ser feita nos veículos para que possam ser homologados. Marcolino diz que já viu um par desses circulando nas ruas. “Com pneu slim, retrovisor, luz de ré… em 17 anos que trabalho com quadriciclos, vi dois assim.” Não é de surpreender: no estado de Minas Gerais há apenas 16 ATVs emplacados e em condições de circulação urbana. Nenhum deles em Juiz de Fora. No Brasil inteiro, segundo dados de junho do Denatran, são 272.

De jipeiro a quadrizeiro

Leonardo Vieira em Ibitipoca (Foto: arquivo pessoal)

Se você perguntar para um especialista se é legal andar de quadriciclo na cidade, a resposta vem a jato: “não vai funcionar, pois no asfalto a direção fica muito pesada”. A voz aí é do campeão Leonardo Vieira, corretor de imóveis, 40 anos, que conheceu seu primeiro ATV há quase dez anos. “Sempre gostei de andar de jipe. Quando em 2008 ou 2009 fui com o pessoal do Jeep Club Juiz de Fora fazer um passeio conhecido como Passeio da Areia, que vai de Niterói a Cabo Frio pela areia, um amigo foi de quadri, e eu pedi para dar uma volta. Fiquei doido! Ele foi no meu jipe e eu no quadri dele por um longo período do passeio.”

Daí, aproveitando a região privilegiada para o off road que é a Zona da Mata, Leonardo passou a fazer trilhas em Ibitipoca, Chácara, Humaitá aos fins de semana. Logo estava competindo no Campeonato Brasileiro de Rally de Velocidade e Regularidade. Além dos títulos do Piocerá e do Ibitipoca Off Road, foi terceiro colocado no RN 1.500, nos arredores de Natal (RN), segundo no Rally dos Sertões de 2011, maior prova do mundo realizada em um único país, além de vice-campeão brasileiro de rali em 2011. Naquele ano, porém, Leonardo tirou o ATV de campo. Um grave acidente durante um treino, em que chocou seu quadriciclo contra um carro em uma estrada vicinal, resultou em uma perna quebrada e o fim das competições.

Tenho saudades. Foi o melhor ‘brinquedo’ que já tive, vivi intensamente aquele período, competi por todo o Brasil, fazendo grandes amigos e conhecendo lugares incríveis

Leonardo Vieira, campeão do Piocerá 2009

“Foi uma fatalidade. Se eu estivesse de moto, carro, bicicleta, enfim… se eu estivesse naquele lugar, naquela hora, iria me chocar com o carro. Como fiquei afastado por mais de quatro anos do quadri, vendi tudo.” Mas engana-se quem pensa que o que sobrou foi tristeza e amargura. “Tenho saudades. Foi o melhor ‘brinquedo’ que já tive, vivi intensamente aquele período, competi por todo o Brasil, fazendo grandes amigos e conhecendo lugares incríveis.”

Segurança primeiro
Além das amizades, dos títulos e das boas memórias, Leonardo, que hoje tem como esporte predileto o mountain bike, leva para a vida de sua experiência com os quadriciclos a importância dos equipamentos de segurança. “Vêm em primeiro lugar! Nunca saia sem eles. O quadriciclo é um veículo muito bacana, mas você tem que respeitá-lo, pois é diferente dos carros, das motos… tem uma dirigibilidade diferente de tudo, pois você usa o peso do corpo para fazer as curvas. No meu acidente estava com todos os equipamentos, leat brace, bota, caneleira etc.. Voei uns 30 metros e não tive um arranhão, apenas a perna que se chocou diretamente com o carro é que quebrou. Se estivesse sem bota e caneleira, com certeza teria perdido a perna.”

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Leonardo levantando voo no Rally dos Sertões (Foto: Doni Castilho)

Para quem e para quê
Além do esporte, o quadriciclo é muito usado no turismo rural e no turismo ecológico. Quem curte um passeio na natureza, como em Natal (RN), Visconde de Mauá (RJ) ou Ibitipoca, já deve ter visto e quem sabe até andado em algumas dessas máquinas. No trabalho rural os ATVs também são muito úteis, tanto para cobrir distâncias – para tocar gado, por exemplo – quanto para fazer trabalhos pesados. “Na rua não funciona, mas na área rural é top, puxa carreta, sobe pasto, faz um servição!”, garante Leonardo. Para quem quiser começar, o campeão indica o Honda Fourtrax, que, segundo ele, tem o melhor custo-benefício, partindo de R$ 26.615. “Mas tem também as Yamaha, Can-Am, Kawasaki… só desaconselho os ‘xing-ling’. Só vai passar raiva.”

Tentando “afogar” seu ATV no Rally dos Sertões (Foto: José Mario Dias)

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