Porque as motos tipo scooter estão tomando Juiz de Fora
Prestes a bater o recorde histórico de vendas pelo segundo ano consecutivo, ‘lambretas’ caem de vez no gosto brasileiro
Um incauto que chegue à Europa hoje, acostumado ao ziguezaguear frenético dos motofretistas e cachorros loucos entre os corredores das ruas brasileiras, pode estranhar a quase inexistência de motocicletas de baixa cilindrada pelas ruas de Paris ou Roma. Por outro lado, zumbem vespas e motonetas e scooters e CUBs, ciclomotores de toda sorte. Uma predileção pelos modelos automáticos, baratos e econômicos que, mostram os números, torna-se cada dia mais comum também entre os consumidores do Brasil. No ano passado, quando a venda de motos no país caiu 14,71%, o segmento de scooters foi o único que cresceu e bateu seu recorde histórico no país, passando a casa das 50 mil unidades comercializadas. Em 2018 a tendência deve se confirmar: segundo números da Fenabrave, juntando as categorias scooter e CUB, que engloba as famosas cinquentinhas, já foram emplacadas 223.814 unidades, contra 202.341 no mesmo período de 2017.
Campeã disparada nas vendas gerais de motocicletas no país, a Honda lidera também o segmento de scooters e CUBs: Honda Biz, Honda Pop e PCX são as que mais vendem, seguidas de longe pela Yamaha NMax, que apresentou crescimento importante em 2018, passando da sexta para a quarta posição, desbancando a Shineray XY 50, que foi para sexto lugar, atrás também da Yamaha Neo. Aqui cabe um importante esclarecimento: o que diferencia scooter de CUB. Nas scooters o piloto conduz sentado, com os pés apoiados em um assoalho, e não há marchas. PCX e Yamaha NMax se enquadram na categoria scooter. CUBs (do inglês Cheap Urban Bike, ou seja, moto urbana barata), exigem que o piloto conduza montado, com os pés apoiados em pedaleiras, e existem marchas, ainda que seqüenciais. Honda Biz e Yamaha Crypton são CUBs.
Quem explicou à reportagem foi o gerente geral da Independência Motos, concessionária Honda em Juiz de Fora, Gianfranco Viana. Há anos no mercado, ele percebeu a acentuada procura pelas scooters e CUBs a partir de 2010. Viana enxerga três motivos principais para o crescimento do segmento: economia, simplicidade e mobilidade urbana. “Quem procura uma scooter quer se diferenciar dos motociclistas, quer ser enxergado como alguém que usa o veículo como meio de locomoção e não de trabalho. Além disso há a facilidade de pilotagem, é só acelerar e frear. E a economia: uma PCX, por exemplo, faz uma média de 30 a 35km com um litro de gasolina, e a Honda Biz, 50km/l.”
Meio de transporte
O personal trainer Marco Oliveira, 40 anos, é um dos novos adeptos das scooters. Para facilitar seus deslocamentos pelo trânsito urbano entre academias e aulas particulares, abandonou uma moto de alta cilindrada, deixou o carro na garagem e comprou uma Honda PCX. Buscava economia de combustível e de manutenção, e foi surpreendido. “A maior diferença que eu notei foi na pilotagem: além de ser muito simples, cansa pouco. Nas motocicletas ‘normais’, especialmente de alta cilindrada, troca de marcha, acionamento de freio, desaceleração muito forte… parece que não, mas isso tudo fadiga o piloto. Eu só consegui perceber isso na scooter, uma economia não só financeira, mas de energia física para o decorrer do dia. Fora a mochila, que era um item obrigatório antes, e que na PCX eu não tenho mais extrema necessidade, vários objetos eu carrego no bagageiro”, afirma Marcão, referindo-se ao compartimento sob o banco.
Professora e contadora de histórias, Kátia Badaró, 44, é apaixonada por motocicletas. Antes teve uma elétrica Kasinski, mas como “Juiz de Fora é uma cidade cheia de morros e ela não aguenta subir”, optou por uma Yamaha Crypton T 115. “Eu e meu esposo temos carro, mas prefiro a moto para trabalhar e resolver outras coisas. O estacionamento é muito mais fácil, e o custo/benefício é maravilhoso”, elogia a professora. A mesma facilidade que buscava o músico Glauco Batista, 46, dono de uma cinquentinha Shineray. “Eu queria maior mobilidade e facilidade de estacionamento. E tem a economia: boto R$ 30 de gasolina por mês e rodo todo dia. Ando muito mais nela que na minha Harley-Davidson, que com R$ 30 roda uma semana e olhe lá”, brinca o cantor, dono de uma HD 883 Iron.
‘Minha outra moto é uma Harley’
O perfil de Glauco Batista, proprietário de moto de alta cilindrada que usa scooters ou CUBs no rolê cotidiano, segundo Gianfranco Viana, é bastante comum. Acaba que o “motão” é que fica em segundo plano em termos de utilização. “Muitos motociclistas de clube têm scooter ou CUB para usar no dia a dia. Porque as motos deles são pesadas, de manutenção cara, grandes demais para o trânsito urbano. Então trilheiros, adeptos de motos esportivas, de big trails, de customs tendem a adquirir scooters para sua mobilidade diária”, explica Viana. Uma maneira, também, de não perder o prazer do vento no rosto.
É o caso do administrador de empresas Heder Jorge Fernandes, que tem uma Harley-Davidson Fat Boy — além de um carro e uma caminhonete. “Nem estão saindo da garagem ultimamente”, conta o feliz proprietário de uma Yamaha NMax 160cc. “A economia proporcionada diante do que eu gastava antes com motos maiores e carro, por si só, já vai pagando o investimento a médio e longo prazo. Para transitar no dia a dia é ótima, mesmo com chuva, porque praticamente nem molha as pernas, o que não ocorre com a moto convencional. E ainda tem o fato de não precisar ficar naquele movimento de troca de marcha, o que dá mais conforto.”
E na estrada, pode?
Em termos legais, não há impedimento algum – exceto para os ciclomotores de até 49cc, proibidos pelo Código Brasileiro de Trânsito de circular em vias de trânsito rápido. Fora isso, o que conta é o gosto e a disposição do freguês. “Para viagens curtas como Lima Duarte, Bicas, é bem prática. Além disso tem uma relação reduzida que lhe proporciona boas subidas tanto na estrada como na cidade, com velocidades até 110km/h”, relata Heder Fernandes sobre sua NMax. Mas há quem estique trajetos maiores. “Tem cliente meu aqui que já foi até o Nordeste em cima de uma Honda Biz. Vai muito da preferência de cada um por mais conforto, mais potência”, explica Gianfranco Viana, lembrando que, na categoria scooter, há disponíveis no mercado brasileiro modelos que vão de 125cc até 750cc, caso da maxi-scooter Honda X-ADV, propícia para longas viagens. Para ele, é um movimento natural que aos poucos as “lambretas” tomem o lugar das motos de baixa cilindrada no país, a exemplo do que já ocorre na Europa. “Elas chegaram para ficar.”
Veja abaixo o preço sugerido (preço de saída) dos modelos citados nesta reportagem:
Honda Biz 125: R$ 9.590
Honda Pop 110: R$ 5.598
Honda PCX: R$ 11.990
Honda X-ADV 750: R$ 52.500
Yamaha Neo 125: R$ 8.290
Yamaha NMax 160: R$ 12.190
Yamaha T115 Crypton: (fora de linha)
Shineray Retrô 50: R$ 5.702