Versão Elite tenta manter Cobalt na briga dos sedãs compactos
O investimento das marcas generalistas nos utilitários esportivos compactos afetou o futuro de outros segmentos. Um deles foi o de sedãs médios, nicho que já teve uma dúzia de concorrentes e hoje só é disputado de fato por quatro modelos. A vocação familiar — similar à dos três volumes —, aliada à suspensão elevada, fez com que os SUVs pequenos abocanhassem boa parte desse mercado, inclusive por terem preços semelhantes. Para cobrir esta lacuna, algumas marcas lançaram sedãs compactos mais modernos enquanto outras passaram a oferecer conteúdos mais sofisticados nos modelos já existentes. A Chevrolet foi uma das primeiras a apostar nisso, ao incrementar a variante mais cara do Cobalt. Lançou até uma nova, a Elite, com uma assinatura visual diferenciada e acabamento superior. Hoje, é ela a que chama mais atenção no catálogo do carro, já que carrega de série tudo que um Cobalt pode oferecer.
Para atrair atenção ao sedã compacto, a Chevrolet aposta em melhorar a imagem do modelo com novos recursos. Entram aí a luz de neblina traseira, sistemas Isofix e Top Tether de ancoragem para cadeirinha infantil, alerta de baixa pressão dos pneus, serviço de resposta automática em caso de acidente e botão de emergência no sistema OnStar. Na área de segurança, porém, a marca não foi além. O Cobalt só traz na linha 2018 o que a lei manda: airbags frontais e freios ABS. Controle eletrônico de estabilidade e de tração ficou de fora. Visualmente, depois que passou por uma profunda mudança visual no face-lift promovido no fim de 2016, o sedã da Chevrolet só trocou o posicionamento dos logos de identificação do nome do carro e da versão na base da tampa traseira. O primeiro ficou na esquerda e o segundo, na direita — como funciona o padrão global da marca.
Um dos principais trunfos do Cobalt é seu bom entre-eixos, de 2,62 metros. Além disso, chama atenção o porta-malas de 563 litros, o maior entre os sedãs à venda no mercado nacional — o Toyota Etios perde apenas por 1 litro. No pacote da variante Elite, direção elétrica progressiva, ar-condicionado; trio elétrico, chave tipo canivete com controle remoto de abertura das portas, sensores de estacionamento traseiros, faróis de neblina, computador de bordo, rodas de alumínio de 16 polegadas, câmara de ré, sensor de chuva, sistema de acendimento automático dos faróis e banco traseiro bipartido estão entre os oferecidos. Em relação à conectividade, o Cobalt Elite recebe central multimídia com tela sensível ao toque de 7 polegadas compatível com Android Auto e Apple CarPlay.
Sob o capô, a versão traz o mesmo propulsor utilizado pela variante de entrada LTZ. Trata-se do 1.8 Eco de até 111 cv de potência e 17,7 kgfm de torque, este último disponível em 2.600 rpm com etanol e em 2.800 com gasolina. A transmissão é sempre automática de seis marchas — o câmbio manual fica restrito ao Cobalt LTZ. No entanto, o preço da versão, próximo aos R$ 75 mil, não é muito atraente, principalmente porque a idade do sedã da Chevrolet se fez sentir diante dos últimos lançamentos promovidos entre os sedãs compactos, como Volkswagen Virtus e Fiat Cronos. Atualmente, o sedã compacto da Chevrolet emplaca coisa de 1.300 unidades mensais e tem a função estratégica de complementar o line up de sedãs da marca, que tem o também compacto Prisma e o médio Cruze como carros-chefe.
Impressões ao dirigir
O Chevrolet Cobalt foi um sedã compacto que estabeleceu um novo padrão quando chegou ao mercado em 2011, em função de seu amplo espaço interno. Muitos outros modelos vieram na mesma trilha, com porte e entre-eixos maiores. Depois ganhou algum fôlego em 2016, quando recebeu um face-lift que deixou para trás o desenho “quadradão” que carregou por longos anos. Mas agora novos padrões se estabeleceram entre os sedãs compactos no Brasil, com a chegada de modelos com mais tecnologia. O Cobalt vai precisar se reinventar novamente para acompanhar este segmento.
Não que o Cobalt tenha se tornado um modelo totalmente obsoleto. O três volumes tem suas qualidades e na versão Elite consegue ser atraente. Os revestimentos em couro marrom e preto fazem uma combinação que até transmite algum requinte ao habitáculo simples. E também a central multimídia MyLink, que já foi revolucionária por ter sido a primeira adotada em veículos de entrada no Brasil, mas que hoje não chega a surpreender tanto — apesar da compatibilidade com os sistemas Android Auto e Apple CarPlay. Os bancos são macios e o espaço é amplo. Achar a melhor posição para dirigir é fácil e todos os comandos estão bem localizados e têm leitura simples. O volante tem boa pegada e o porta-malas facilita a vida de quem usa o carro para viajar com a família ou a trabalho, com seus fartos 563 litros de capacidade.
Em movimento, o Cobalt também privilegia o conforto. As trocas de marchas são suaves e o sistema interpreta bem a intenção das pisadas do condutor. Arrancadas e retomadas são eficientes — muito em função de o torque máximo estar disponível já aos 2.600 giros quando abastecido com etanol e 2.800 rpm quando com gasolina. O resultado é um vigor satisfatório e respostas até rápidas. O comportamento também é bom nas curvas e a direção se mostra firme mesmo em velocidades elevadas. O ganho de velocidade é melhorado quando se opta pelas trocas de marchas manuais. O problema é o insosso botão utilizado para isso, localizado na própria alavanca do câmbio.
Ponto a ponto
Desempenho
O motor 1.8 litro de 111 cv e 17,7 kgfm de torque com etanol no tanque move o sedã compacto de forma satisfatória. O torque máximo a 2.600 rpm permite arrancadas e retomadas até instigantes, levando-se em consideração a proposta mais conservadora do modelo. A transmissão automática de seis velocidades trabalha harmoniosamente com o motor, com bom tempo de troca e respostas imediatas às pisadas no acelerador. Nota 8.
Estabilidade
O Cobalt Elite não tem nenhuma vocação esportiva. Mas o sedã compacto se mantém estável tanto nas curvas quanto nas retas em velocidades mais elevadas. As rolagens de carroceria até aparecem, mas nada muito diferente da realidade da categoria. A sensação de segurança se mantém presente sempre, desde que não se leve o modelo ao limite. Até porque ele não conta com qualquer tecnologia de segurança nesse sentido. Nota 7.
Interatividade
Os comandos são bem simples e de uso intuitivo. A tela “touch” de 7 polegadas ao centro do painel da versão Elite é fácil de mexer e o sistema multimídia é compatível com os sistemas Android Auto e Apple CarPlay. A configuração ainda conta com o serviço do OnStar e volante multifuncional. Decepcionante é o botão localizado na lateral da alavanca do câmbio automático, para as trocas manuais. Nada instigante. Nota 7.
Consumo
No Programa Brasileiro de Etiquetagem do Inmetro, o Cobalt Elite registrou médias de 7,6/10,0 km/l na cidade/estrada com etanol e 11,1/14,4 km/l nas mesmas condições com gasolina no tanque. Recebeu nota A na categoria e B no geral. São números bem aceitáveis para um sedã compacto de boas dimensões. Nota 8.
Tecnologia
A plataforma do modelo é a Gamma II, usada mundialmente pela GM para modelos compactos de tração dianteira. Não é sofisticada, mas é razoavelmente recente, de 2010. Os recursos tecnológicos do Cobalt Elite não vão muito além da conectividade, já que não há qualquer salvaguarda de segurança, além das obrigatórias por lei e do sistema Isofix. Nota 6.
Conforto
O espaço traseiro é amplo para pernas e cabeças e mesmo um quinto elemento não chega a incomodar em distâncias médias. Os bancos revestidos em couro possuem boa densidade e a suspensão absorve com eficiência os desníveis das ruas brasileiras. O isolamento acústico, porém, deixa um pouco a desejar quando se extrai mais vigor do trem de força. Nota 8.
Habitabilidade
Há nichos suficientes para acomodar os objetos que precisam estar mais à mão do motorista, como de costume nos carros da Chevrolet. Além do habitáculo espaçoso, é fácil entrar ou sair do veículo devido ao bom ângulo de abertura das portas. O porta-malas é outro ponto a favor e acomoda expressivos 563 litros. Nota 9.
Acabamento
O Cobalt é um carro extremamente racional, que não prima pelo luxo. Os plásticos rígidos são abundantes, mas a versão Elite traz revestimentos em couro que dão à cabine alguma dose de charme. Há detalhes também em preto brilhante no centro do painel, na moldura do sistema multimídia e nas extremidades, nas saídas laterais do ar-condicionado, além de cobrir parte da alavanca do câmbio. Não é o melhor em sua categoria no que diz respeito ao interior, mas também não chega a fazer feio. Nota 8.
Design
Quando o face-lift do Cobalt chegou, em 2016, serviu para deixar para trás o visual quadrado que foi motivo de críticas ao sedã desde o seu lançamento. Agora, no entanto, as mudanças estéticas não impressionam tanto – principalmente porque já há lançamentos mais recentes que concorrem com o carro. Os faróis afilados e com dupla parábola, aliados às lanternas deitadas e repartidas pela tampa do compartimento de bagagens, até formam um conjunto bonito. Mas nada que faça tanta diferença frente aos rivais. Nota 7.
Custo/Benefício
O Chevrolet Cobalt Elite custa a partir de R$ 74.350, mas seu único opcional está na cor da carroceria, que pode sair R$ 1.400 a mais em alguns tons metálicos — exceto o azul, cuja diferença não é cobrada. Um Volkswagen Virtus Comfortline 200 TSI, ou seja, de versão intermediária, tem menor requinte mas é melhor equipado e tem motor 1.0 turbo de 128 cv, que é mais eficiente e potente, e custa o mesmo. O mesmo acontece com o Fiat Cronos 1.8 automático, de 139 cv. Completo, o novo sedã da Fiat ainda pode ganhar chave presencial, retrovisores com rebatimento elétrico, quadro de instrumentos personalizável, sensor crepuscular e de chuva e ar-condicionado digital e ser vendido por R$ 77.730. Definitivamente, a vida não está fácil para os modelos que atuam na mesma faixa de valor do Cobalt. Nota 5.
Total
O Chevrolet Cobalt Elite somou 73 pontos em 100 possíveis.
Ficha técnica
Chevrolet Cobalt Elite
Motor: Gasolina e etanol, dianteiro, transversal, 1796 cm³, quatro cilindros em linha, duas válvulas por cilindro e comando simples no cabeçote. Injeção e acelerador eletrônicos.
Transmissão: Câmbio automático de seis velocidades em modo sequencial à frente e uma a ré. Tração dianteira. Não possui controle de tração.
Potência máxima: 111 cv a 5.400 rpm e 106 cv a 5.200 rpm com etanol e gasolina.
Torque máximo: 17,7 kgfm e 16,6 kgfm a 2.600 rpm com etanol e 2.800 rpm com gasolina.
Suspensão: Dianteira do tipo McPherson, com braço de controle ligado e barra estabilizadora. Traseira semi-independente, com eixo de torção e barra estabilizadora soldada no eixo. Não possui controle de estabilidade.
Pneus: 195/65 R15.
Freios: Dianteiros a disco ventilados e traseiros a tambor, com ABS.
Carroceria: Sedã em monobloco com quatro portas e cinco lugares. Com 4,48 m de comprimento, 1,73 m de largura, 1,51 m de altura e 2,62 m de entre-eixos. Possui airbags frontais.
Peso: 1.129 kg.
Capacidade do porta-malas: 563 litros.
Tanque de combustível: 54 litros.
Produção: São Caetano do Sul, São Paulo.
Itens de série: ar-condicionado, direção hidráulica, trio elétrico, alarme, faróis de neblina, sensor de estacionamento, computador de bordo, rodas de alumínio, volante multifuncional, controle de cruzeiro, sistema multimídia My Link, serviço de assistência OnStar, bancos com revestimento em couro, câmara de ré e sensor de chuva e de luminosidade.
Preço: R$ 74.350.