Programa de avaliação ganha importância no mercado de autos
A compra de um carro sempre envolve mais aspectos emocionais que racionais. Design, conforto e até potência têm um poder de atração forte entre os consumidores. Mas, com o passar dos anos, os brasileiros foram sendo estimulados a se interessarem mais pela questão da segurança na hora de escolher um automóvel. Mudanças na legislação, como a que implantou airbags frontais e ABS obrigatórios em todos os modelos produzidos a partir de 1º de janeiro de 2014, foram decisivas nesse ponto. Mas outro fator vem chama a atenção e começa a ganhar mais destaque: os testes de impacto promovidos nos modelos vendidos no país. É aí que entra o Programa de Avaliação de Carros Novos para América Latina e Caribe, o Latin NCAP. O instituto utiliza métodos de ensaio internacionalmente reconhecidos e qualifica entre zero e cinco estrelas a proteção oferecida pelos modelos para ocupantes adultos, crianças e até pedestres.
Neste ano, por exemplo, já foram realizadas cinco séries de testes pelo programa. A última delas, a quinta, resultou em qualificação máxima para os novos Toyota Corolla e Volkswagen Polo. Tanto o sedã quanto o hatch conseguiram cinco estrelas na proteção do ocupante adulto e também do Infantil. “Esses últimos resultados são uma consequência da reação dos consumidores e da resposta dos fabricantes e do mercado, pois estão introduzindo níveis de segurança cinco estrelas além, e bem antes, de qualquer regulação governamental em toda a região”, avalia Alejandro Furas, Secretário Geral do Latin NCAP.
O Volkswagen Polo, produzido no Brasil e nos últimos dias, foi avaliado em relação ao impacto frontal, lateral e lateral de poste. Para alcançar a qualificação máxima, foram necessários ter de série os airbags laterais, que protegem cabeça e tórax dos passageiros da frente. Já para crianças, além da boa segurança em impactos, há ancoragens Isofix, interruptor para desligar o airbag do passageiro e cintos de três pontos em todas as posições traseiras. “Os fabricantes estão mostrando compromisso com relação a veículos mais seguros, embora faltem regulamentações sólidas de segurança em toda a região”, afirma Ricardo Morales Rubio, presidente da Comissão Diretiva do Latin NCAP.
No caso do Corolla, o sedã médio já tinha obtido cinco estrelas na proteção de adultos em sua avaliação anterior, em 2014. A unidade testada agora tinha de série sete airbags. A possibilidade de colocar o dummy _ boneco utilizado na avaliação, com dimensões próximas às de uma criança de três anos de idade _ olhando para trás melhora a proteção infantil no impacto frontal, o que ajudou o sedã a alcançar as cinco estrelas.
Outros carros, porém, não tiveram tanta sorte em testes aplicados recentemente. O Fiat Mobi ganhou somente uma estrela nos testes de colisão para proteção a adultos e duas estrelas para passageiro infantil. Chevrolet Onix se saiu ainda pior: nenhuma estrela para adultos, mesmo com airbags frontais, e três estrelas para crianças. Renault Captur e Peugeot 208 também foram postos à prova. O primeiro faturou quatro e três estrelas, respectivamente, enquanto o hatch garantiu duas e três estrelas.
História de impacto
Os testes do Latin NCAP começaram em 2010, mas somente em 2014 a entidade se tornou uma associação formal. E, apesar de suas avaliações serem realizadas na Alemanha, suas classificações não podem ser comparadas diretamente às do Euro NCAP. Por lá, a classificação final é feita a partir de cinco testes diferentes: frontal, lateral, de poste, efeito chicote e pedestres. O Latin NCAP apenas aplica o teste de batida frontal e batida lateral para elaborar a classificação de estrelas de cada carro. O impacto lateral de poste ocorre apenas para os modelos que podem alcançar a nota máxima. Testes de efeito chicote e para pedestres, de acordo com o Latin NCAP, serão instituídos conforme “o programa for se desenvolvendo”. Atualmente, uma boa avaliação em relação a pedestres recebe apenas um diploma.
A escolha dos modelos testados se dá em função de um ranking dos mais vendidos. Uma lista é produzida com todas as cifras obtidas na comercialização dos veículos nos países avaliados, bem como um índice de vendas proporcional (per capita) por país. Depois, a associação seleciona os mais bem-sucedidos em tantos países quanto possível. Os modelos escolhidos são de versões com o equipamento mais básico disponível em qualquer país do mercado latino-americano. Mas qualquer fabricante pode patrocinar uma avaliação, entregando uma unidade de outra configuração. Mesmo assim, o Latin NCAP também avaliará a variante mais simples, caso a fabricante apresente um carro com mais equipamentos.
Os testes de impacto frontal são sempre realizados na mesma velocidade, de 64 km/h. A escolha não foi aleatória: esse valor é o mais adequado para uma simulação de colisão entre carros de tamanho semelhante que estejam a uma média de 55 km/h. De acordo com estudos de acidentes com mortos e feridos graves, esta é uma velocidade média de grande parte dos acidentes registrados.