Mais que ganhar volume, G310 R renova imagem da BMW
Inicialmente, a chegada da G310 R foi sempre interpretada com sendo a busca da BMW pela popularização da marca. Uma moto mais barata, capaz de atrair um leque mais amplo de consumidores e gerar maiores volumes de produção. Ou seja: uma lógica generalista para uma marca de luxo. Mas o que se viu a seguir provou que não era nada disso. A BMW queria, sim, ampliar seu público, mas verticalmente. Isso porque o grande sucesso da marca, a GS 1200 R, é um modelo com mais de 30 anos de estrada e tem um perfil de público de homens acima de 40 anos. Ou seja: é uma marca envelhecida. A ideia foi, então, criar uma porta de entrada para um consumidor mais jovem, mas sem vulgarizar a marca. Tanto que, em nove meses de mercado, a BMW enviou às concessionárias menos de 700 unidades da G310 R – média de 75 unidades por mês. E esta média ainda caiu para 55 motos mensais neste ano, principalmente por causa da chegada da versão trail, a G310 GS.
O modelo passou a ser montado em Manaus em meados no ano passado, com a maior parte das peças vindas da Índia. Mas a G310 R segue estritamente o padrão da marca em relação à qualidade de peças e de montagem. Vários detalhes deixam antever a preocupação da BMW em dar um ar requintado e tecnológico ao modelo. O painel é em cristal líquido com o velocímetro digital, e o conta-giros, em barras. Ali há também mostrador de combustível e de marcha e ainda um computador de bordo, com dados de consumo e distância, entre outros.
A suspensão dianteira é invertida, que dá mais agilidade na condução esportiva por aliviar o peso na roda. Já a traseira é monoamortecida e tem balança em alumínio. Os freios a disco nas duas rodas são ByBre, uma marca mais popular da Brembo que tem fábrica na Índia. Os faróis dianteiros são halógenos, mas a lanterna traseira é em led. Várias peças acentuam o ar esportivo da naked alemã. Em torno dos faróis e sob o motor há pequenas carenagens. À frente dos telescópicos, projetam-se duas pequenas aletas do para-lama dianteiro. Outras duas nas laterais, logo abaixo da logomarca da hélice encravada no tanque, ajudam a conduzir o fluxo de ar para o radiador à frente do motor.
O motor de 313 cm³ é montado sobre coxins de borracha, para minimizar as vibrações típicas de um propulsor monocilíndrico que gira alto – a potência máxima de 34 cv chega apenas aos 9.200 giros. Ele tem duplo comando no cabeçote, arrefecimento líquido, injeção eletrônica de combustível e é gerenciado por um câmbio de seis velocidades. O conjunto é pendurado em um chassi tipo treliça, enquanto a parte traseira é fixada em um subchassi. Esta arquitetura ajuda na centralização das massas para melhorar a dinâmica do modelo.
Um fator que torna a vida da G310 R mais difícil é a concorrência de boa qualidade. A motocicleta alemã custa R$ 21.900, preço que a coloca em confronto direto com dois modelos naked japoneses: Yamaha MT-03, de R$ 21.550, e Kawasaki Z300, de R$ 20.900. Embora não sejam marcas de luxo, ambas têm prestígio, utilizam materiais de qualidade na construção de seus modelos e têm bom padrão de acabamento. O que joga contra a BMW é que as duas são bicilíndricas e mais potentes. MT-03 tem 42 cv, e a Z300, 39 cv.
Impressões ao dirigir
A BMW bem que tentou. A marca bávara colocou coxins de borracha nos apoios do motor e entre o chassi e os pequenos quadros que sustentam as pedaleiras. Ainda assim, o motor monocilíndrico da G310 R vibra com vontade. Isso limita um pouco o convívio com a motocicleta naked. Para uso breve, ela é esportivamente instigante. Em uso mais longo, é cansativa. Ou seja: funciona bem em uso urbano, mas para encarar trechos rodoviários mais extensos, é preciso preparo físico e algumas paradas no percurso – inclusive porque o tanque de apenas 11 litros não oferece grande fôlego.
Utilizada da forma apropriada, a G310 R é muito interessante. O ronco rouco do motor de 34 cv convida o piloto a torcer o manete do acelerador. Com um torque de 2,9 kgfm e pouco menos de 160 kg de peso, a aceleração da pequena BMW é rápida e decidida – o zero a 100 km/h é estimado em 7,2 segundos, com velocidade máxima de 150 km/h. A sensação durante o uso na faixa de giros entre de 4 mil e 9.500 rpm é que o motor está sempre cheio. Neste ponto, a transferência de potência para a roda traseira é imediata.
A boa ciclística do modelo acompanha bem este desempenho. As mudanças de direção são feitas com facilidade e de forma muito ágil. Além disso, é bastante estável e encara trechos sinuosos com muita elegância, principalmente por conta do peso bem centralizado e do entre-eixos curto. Mas exatamente esta concentração de massas faz com que sofra um pouco com ventos laterais – ou ao passar por um veículo grande que venha no sentido contrário.
A posição dos comandos, o acabamento e a posição de pilotar são exatamente o que se espera de um modelo que leva a assinatura da BMW. Já os retrovisores são, de certa forma, vítimas do design. Para respeitar o visual da naked, a BMW coloca espelhos pequenos e pouco projetados, que acabam sendo também pouco úteis. Mas é inegável que o estilo do modelo é bastante atraente.
Ficha técnica
BMW G310 R
Motor: A gasolina, quatro tempos, um cilindro, quatro válvulas, 313 cm³, duplo comando no cabeçote e arrefecimento líquido. Injeção eletrônica.
Câmbio: Manual de seis marchas com transmissão por corrente.
Potência máxima: 34 cv a 9.200 rpm.
Torque máximo: 2,9 kgfm a 7.500 rpm.
Diâmetro e curso: 80 mm x 62,1 mm.
Taxa de compressão: 10,6:1.
Suspensão: Dianteira com garfo invertido telescópico com 140 mm de curso. Traseira monoamortecida com braço oscilante em alumínio e 131 mm de curso.
Pneus: 110/70 R17 na frente e 150/60 R17 atrás.
Freios: Disco de 300 mm na frente e disco de 240 mm atrás com ABS.
Dimensões: 2,01 metros de comprimento total, 0,85 m de largura, 1,37 m de distância entre-eixos e 0,79 m de altura do assento.
Peso seco: 158,5 kg.
Tanque do combustível: 11 litros.
Produção: Manaus, Brasil.
Lançamento: 2017.
Preço: R$ 21.900.