No centro da meta
A Renault acertou em cheio quando lançou, em 2007, o Sandero. A marca francesa buscava, há tempos, afastar o rótulo de “importado” de seus veículos produzidos no Brasil e, de quebra, ampliar seu “market share” no mercado nacional. Embalada principalmente pelas boas vendas do seu principal hatch compacto – perto dele, o Clio se posiciona quase como um subcompacto -, o fabricante ultrapassou os 7% de participação no mercado nacional. E segue com bons emplacamentos, mantendo o modelo no 9º lugar da lista de carros mais vendidos no país. E 66% das vendas da Sandero são realizadas na versão intermediária Expression, sendo três em cada quatro com motor 1.0 – o outro é com motor 1.6.
O Sandero manteve em sua nova geração o porte acima de seus concorrentes diretos. São 4,06 metros de comprimento, 1,73m de largura, 1,54m de altura e bons 2,59m de entre-eixos, o que ajuda a proporcionar um espaço interno próximo ao de um hatch médio. A plataforma é a mesma anterior, com evoluções. Mas o principal avanço ocorreu na questão estética. A recente e profunda remodelação acompanha o atual “family face” da Renault no mundo, com o grande logotipo da marca na parte central da grade dianteira, acompanhado por um largo friso cromado que se estende até os faróis. Completam o visual moderninho as lanternas traseiras redesenhadas e os para-choques mais volumosos.
Sob o capô, a versão Expression 1.6 carrega o mesmo motor da de topo, a Dynamique. Trata-se do velho conhecido 1.6 8V que estreou no Brasil ainda na primeira geração do Clio, em 1996. O propulsor libera 106/98cv e 15,5/14,5kgfm quando abastecido com etanol/gasolina. O câmbio de série é manual de cinco velocidades, mas a marca francesa oferece uma transmissão automatizada de cinco marchas. Nesta nova geração, não há câmbio automático e nem o motor 1.6 16V de 112 cv – quando abastecido com etanol -, que equipava os modelos sem embreagem.
A lista de itens de série não chega a ser farta, mas é bem precisa. Os “favoritos” ar-condicionado, direção hidráulica, vidros dianteiros e travas elétricas e som com CD e Bluetooth saem de fábrica na versão Expression. Como opcional, além das cores metálicas, há apenas um pacote que inclui a central multimídia com tela sensível ao toque de sete polegadas e navegador GPS, além de sensores de estacionamento traseiro. O kit custa R$ 1.500 e pode receber, como acessório nas concessionárias, uma câmera de ré.
A Renault cobra atualmente R$ 40.500 iniciais pelo Sandero Expression 1.6. São R$ 1.910 a mais do que os R$ 38.590 pedidos na época de seu lançamento, em julho último. Pela vistosa cor da versão avaliada, a Azul Techno, é preciso pagar mais R$ 1.200. Somando tudo isso aos R$ 1.500 do pacote para ter o sistema Media Nav, o Sandero Expression 1.6 completo sai da loja por R$ 43.200. Uma prova de que a Renault já conseguiu afastar a ideia de fabricante estrangeira do consumidor brasileiro. Por conta disso, num futuro próximo, o custo/benefício pode não ser o principal chamariz de seus produtos.
O Renault Sandero é um carro com apelo extremamente racional. Seu espaço interno é amplo e há boa capacidade do porta-malas, de 320 litros. A posição mais alta de dirigir é confortável – auxiliada pelos bons ajustes de altura do banco do motorista e do volante – e a visibilidade é bem eficiente tanto na dianteira quanto na retrovisão. Depois do face-lift em sua nova geração, seu design tornou-se mais moderno e vistoso, principalmente na cor Azul Techno, do exemplar testado.
O motor 1.6 8V Hi-Power entrega até 106cv de potência e 15,5kgfm de torque quando abastecido com etanol. Trata-se de um propulsor bem aproveitado no trânsito intenso das cidades, com boas saídas de sinal e retomadas. Seu desempenho também agrada nas rodovias, com boas ultrapassagens e direção precisa. Não chega a ser um modelo que inspire esportividade, mas não faz feio diante dos concorrentes mesmo quando se leva o veículo com quatro passageiros a bordo.
A transmissão – no caso, a manual de cinco velocidades – trabalha em sintonia com o motor. O pedal da embreagem um pouco alto e os engates próximos podem dificultar a vida dos condutores num primeiro momento. Mas basta um pouco de convivência com o carro para se adaptar a esses detalhes. Há um aviso no quadro de instrumentos sobre a hora certa de mudar a marcha, tanto para cima quanto para baixo. É uma boa ajuda a manter um consumo mais moderado. Porém, como se trata apenas de um sinal luminoso e não sonoro, é preciso estar sempre olhando para perceber o momento exato. O que não é muito seguro, principalmente em tráfego urbano.
A suspensão privilegia o conforto e filtra bem as irregularidades das ruas brasileiras, o que o torna um modelo indicado para uso familiar. As rolagens de carroceria são praticamente imperceptíveis e é bem fácil manter o Sandero na linha reta, mesmo em velocidades elevadas. Apesar de não contar com dispositivos de segurança como controle eletrônico de estabilidade, o hatch dificilmente se mostra instável em curvas. Desde que, é claro, não seja levado ao seu limite. A até 120km/h, tudo se comporta de maneira previsível e coerente.
A falta de um acabamento ligeiramente superior decepciona. Os plásticos rígidos têm um visual mais bruto que o da geração anterior na versão Expression. Quando se adquire o opcional sistema de entretenimento e navegação, a situação se ameniza com a moldura prateada e plástico em preto brilhante ao redor da peça. Mas fica no ar o tempo todo no habitáculo a condição de carro popular, um traço que muitas fabricantes já conseguiram diminuir em seus modelos com preço acima dos R$ 40 mil.