Grupo juiz-forano é um dos pioneiros no combate à corrupção


Por Juliana Netto

06/03/2017 às 19h23- Atualizada 20/12/2017 às 18h15

Em tempos de operação Lava Jato, o combate à corrupção passou a ser assunto recorrente entre brasileiros indignados com a má gestão do dinheiro público. Somada à facilidade de publicações opinativas nas redes sociais, as críticas contra tal prática ilegal tornaram-se frequente entre os internautas, mesmo que muitos deles estejam distantes das instâncias físicas da política. Para um grupo de juiz-foranos, no entanto, monitorar de perto o dia a dia do Legislativo municipal não é algo novo. Desde o ano 2000, o Comitê de Cidadania, da Comissão Arquidiocesana Justiça e Paz de Juiz de Fora (CAJP), atua, sessão a sessão, acompanhando o trabalho e as decisões de vereadores locais.

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“Tudo começou em 1999, a partir da coleta de assinaturas para aprovação da Lei 9.840, primeira lei de iniciativa popular criada para combater a corrupção eleitoral e a compra de votos. Em 2000, com a aprovação da lei, iniciamos o trabalho nas comunidades, com palestras que, dentre alguns assuntos, discutiam a importância do voto. Em 2001, iniciamos o trabalho direto de acompanhamento à Câmara”, explica Dea Emília de Andrade, uma das idealizadoras e  ex-presidente do Comitê. Segundo cálculos feitos pela pedagoga aposentada, de lá para cá, mais de 1.800 sessões foram acompanhadas. “Somando também reuniões ordinárias e audiências públicas, estamos próximos de um total de quase 2 mil encontros”, soma Dea.

Funcionamento

Atualmente composto por cerca de 15 integrantes, o Comitê de Cidadania funciona da seguinte maneira: na segunda quarta-feira de cada mês, o grupo se reúne, geralmente na Catedral Metropolitana, para, dentre outras coisas, fazer a divisão de qual sessão cada integrante ficará encarregada de acompanhar. No mês seguinte, as pautas da Casa são resgatadas, ficando registradas em documentos do grupo. A cada semestre, os dados são compilados em um informativo, desenvolvido em parceria com estudantes da Faculdade de Comunicação da UFJF e distribuído gratuitamente em escolas, comunidades e veículos de imprensa.

Um pontos de maior interesse do informativo são os dados referentes à verba indenizatória, subsídio oferecido aos vereadores para quitação de gastos como gasolina, papel, telefone, xerox, lanche e consultoria técnica. “A população se interessa muito por este gasto, porque sabe o quanto é difícil hoje o trabalhador ganhar o seu salário. Elas entendem que os vereadores têm que prestar um bom serviço sem ter um gasto muito grande”, diz Dea.

“A gente tem acompanhado e feito um trabalho para que eles diminuam esse gasto, já que a maioria usa quase o total dos R$ 8 mil por mês. Alguns gastam menos e nem por isso deixam de fazer um bom trabalho. O povo fica revoltado por eles gastarem tudo isso, fora o salário deles”, analisa. “O informativo não é um trabalho baseado em opinião, achismo ou sugestões. Tudo é feito a partir de informações oficiais, como o Portal da Transparência, além do que acompanhamos na Câmara”, explica Dea.

Pedra no sapato

Para a atual presidente do Comitê de Cidadania, Maria Aparecida de Oliveira, a atuação do grupo, embora já tenha causado certo incômodo entre os legisladores municipais, hoje é aceita e respeitada pelos políticos eleitos. “Foi bem difícil no início. Quando começamos, recebemos críticas que nos deixaram indignados. Mas, nestes quase 16 anos, sentimos que houve mudança na atitude da Câmara em relação ao comitê. Os vereadores, a partir da nossa coragem de buscar o diálogo e de pedir encontros, foram aprendendo a nos respeitar. É um ‘trabalho de formiguinha, uma pedrinha no sapato, no sentido de que não há como contestar. Temos orgulho de estar conseguindo respeito, participação. Várias pessoas buscam o comitê por causa dessa credibilidade que conquistamos. Hoje nosso informativo é muito bem recebido e divulgado nas escolas”, avalia a presidente.

Embora visto com bons olhos pela maioria, ela não esconde as críticas que recebe de pessoas que não acreditam na proposta. “Muita gente fala que não adianta ir à Câmara. Outros dizem que temos é que ir para a Halfeld fazer barulho. É um trabalho que parece sem esperança, sem objetivo, mas para nós, que acompanhamos no dia a dia, sabemos que vale a pena. Estamos fazendo uma coisa que a gente acredita, deixando uma marquinha para que a cidade possa ser melhor.”

Você pode fazer parte

Uma das mais recentes integrantes do Comitê de Cidadania é a funcionária pública Fernanda Lins Rodrigues, que entrou para o grupo no fim do ano passado, após se aposentar. “Conheci o trabalho através da imprensa e achei interessante ter algo do tipo em Juiz de Fora. Estive na Catedral, participei de uma reunião, achei super interessante como são tratados os temas e decidi fazer parte”, conta.

Na avaliação dela, embora o assunto corrupção esteja em alta, a participação popular no plenário ainda é aquém do ideal. “Eu noto um número bastante reduzido de pessoas que vão conhecer o trabalho da Câmera, de ver o que está sendo discutido. A gente vê muitos presidentes de bairros, que estão lá para acompanhar algum interesse relativo à área deles. Sonho que um dia todos tenham consciência cidadã para participar e discutir, porque, na verdade, os projetos de lei são discutidos no âmbito deles (vereadores)”, aponta.

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“Fazemos as divisões de modo que os integrantes façam uma visita mensal à Câmara. Não é uma coisa que ocupa muito, mas trata-se de algo muito importante. Sabemos como é importante acompanhar, melhorar a qualidade dos vereadores, fazer eles se voltarem mais para a comunidade, para o interesse coletivo e não ficarem só no assistencialismo e atendendo a pedidos de interesses particulares”, analisa Dea Emlía.

Na internet, o trabalho do Comitê de Cidadania pode ser conferido pelo blog comitedecidadaniajf.blogspot.com.br e pela página no Facebook.

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