O que pensam os candidatos ao Governo sobre a Zona da Mata?

Tribuna perguntou aos dez concorrentes ao Governo de Minas Gerais sobre as propostas de cada um para a região, para a retomada do desenvolvimento econômico e para o Hospital Regional


Por Renato Salles e Gabriel Magacho, estagiário sob supervisão da editora Fabíola Costa

25/09/2022 às 07h00

Daqui a uma semana, no dia 2 de outubro, os eleitores mineiros vão às urnas no primeiro turno das eleições para decisões importantes. Entre elas, a escolha do nome que irá comandar o Governo de Minas Gerais pelos próximos quatro anos. Nas discussões políticas, um termo já virou lugar-comum. “Minas são muitas”. Sim, são! Por isso, é importante saber o que os candidatos pensam para cada uma das várias Minas Gerais. Para colaborar com a reflexão do eleitorado de Juiz de Fora e região, a Tribuna procurou as dez candidaturas colocadas na disputa para identificar o que cada uma pensa sobre a Zona da Mata.

Para todos os candidatos foram feitas as mesmas três perguntas. A primeira delas é quais são as propostas de cada um para a Zona da Mata. A segunda, qual sinalização os concorrentes fazem para a retomada do desenvolvimento econômico da região. Por fim, qual solução apontam para a conclusão e o pleno funcionamento do Hospital Regional de Juiz de Fora.

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A reportagem pediu a todos os candidatos que encaminhassem respostas aos questionamentos em texto e vídeo. Alexandre Kalil (PSD), Carlos Viana (PL), Indira Xavier (UP); Lorene Figueiredo (PSOL); Lourdes Francisco (PCO); Marcus Pestana (PSDB) e Vanessa Portugal (PSTU), enviaram suas respostas em vídeo. Já Cabo Paulo Tristão (PMB) e Romeu Zema (Novo) se manifestaram apenas por texto. A única que não respondeu à demanda foi Renata Regina (PCB).

Alexandre Kalil

‘A Zona da Mata está abandonada há muito tempo’

Alexandre Kalil (PSD) é estreante na disputa para o Governo de Minas. Com 63 anos, o ex-presidente do Atlético foi prefeito de Belo Horizonte por duas vezes, tendo renunciado a seu segundo mandato para poder concorrer ao atual pleito. Em sua visão, a atual situação econômica de Minas só pode ser revertida caso o Regime de Recuperação Fiscal, que vigora no Estado, seja revogado.

“Temos que acabar com esse regime que o atual governo está impondo. Só assim o Estado poderá contratar pessoal novamente e crescer. Além disso, para o desenvolvimento chegar, nós precisamos cuidar da infraestrutura e da saúde”, indica.

Kalil apontou que o regime fiscal também impede a contratação de profissionais de saúde. “Tem um hospital aí que está sendo prometido há 200 anos”, se referindo ao Hospital Regional. “Quando era prefeito de Belo Horizonte, eu abri um hospital e posso dizer que sei que o Estado de Minas Gerais não tem capacidade de abrir hospitais. Quem abre hospital é o Governo federal, não vamos cair nessa mentira. Nós vamos abrir os hospitais porque eu já falei com o presidente Lula e ele me prometeu os hospitais regionais”, afirma o postulante, que tem o apoio direto do presidenciável Lula da Silva (PT).

Na opinião de Kalil, a Zona da Mata é uma região abandonada há décadas. “Ela já representou 42% do PIB de Minas e, hoje, tem somente 7%. Qualquer fomento é feito com infraestrutura. Não tem milagre. Não vamos inventar a roda. Nós temos é que implantar plantas industriais na região. É assim que se fomenta a economia.”

Cabo Paulo Tristão

‘Precisamos atrair indústrias de grande porte’

Também novato na disputa pelo governo de Minas, o candidato Cabo Paulo Tristão (PMB) é o segundo mais novo na disputa eleitoral do estado, com 36 anos. Em 2020, concorreu nas eleições municipais de Juiz de Fora como vice-prefeito, na chapa do General Marco Felício (PRTB). Na perspectiva econômica, o candidato indica que a região da Zona da Mata tem uma excelente localização no estado. “Nós precisamos saber usar tal vantagem para atrair indústrias de grande porte, como montadoras de automóveis e indústrias de beneficiamento de alimentos, como o caso de cooperativa de laticínios”, afirma.

Para o candidato, os principais problemas da região são as estradas com muitos buracos e sem manutenção adequada. “Temos também o problema da falta de vagas no mercado de trabalho, algo que leva os jovens a saírem da região, que um dia já foi a mais próspera de Minas Gerais. Além disso, a Zona da Mata tem vários hospitais lotados e sem perspectiva de conclusão de obras, como por exemplo, o Hospital Regional de Juiz de Fora”, indica o policial militar.

Quando indagado sobre suas propostas para garantir a finalização das obras desses equipamentos de saúde pelo Estado, Cabo Tristão aponta que, se eleito, irá fazer uma parceria público-privada para garantir o funcionamento pleno dos hospitais regionais. “Temos que transformar algo inacabado em um ‘case’ de sucesso, com uma faculdade de saúde integrada ao SUS, assim como é o Hospital Maternidade Therezinha de Jesus na cidade.”

Carlos Viana

‘Minas precisa voltar a ser competitiva’

Carlos Viana (PL) tem 59 anos, atualmente é senador por Minas Gerais e disputa, também pela primeira vez, o cargo de governador. Para o candidato, é preciso que o estado volte a ter protagonismo no cenário econômico nacional, com Minas demonstrando competitividade e atraindo mais empresas. Ao falar especificamente sobre a Zona da Mata, Viana cita que a região precisa ser pensada como um dos pólos para o crescimento industrial de Minas.

“Cada macrorregião de Minas Gerais exige do Governo central decisões e soluções diferentes. Como exemplo, nós tivemos aquela guerra fiscal absurda com o Rio de Janeiro alguns anos atrás, e a Zona da Mata perdeu muitos investimentos para o outro lado do Paraibuna. Na época, o Governo de Minas não fez absolutamente nada para atrair essas mesmas empresas”, aponta Viana, que defende que o plano de desenvolvimento do estado deve passar primeiro pela formação completa da mão de obra.

“É preciso mostrar que temos mão de obra abundante em Minas. Também precisamos pensar em um ensino diferenciado para cada região, para assim direcionar a formação dos nossos jovens para as especificidades de cada localidade “, comentou. Sobre a questão das obras dos Hospitais Regionais pelo Estado, o candidato destaca que sua ideia é utilizar esses equipamentos de saúde em parceria com o Ministério da Educação (MEC) e com as prefeituras. “Esses equipamentos são muito importantes, pois serão 2,5 mil leitos que irão nos ajudar para impedir que os pacientes viajem grandes distâncias para serem atendidos.”

Indira Xavier

‘Ausência de políticas de habitação em Minas’

Indira Xavier (UP) tem 37 anos e já concorreu ao cargo de deputada estadual duas vezes pelo estado de Alagoas, em 2010 e 2006. Depois de 12 anos de sua última disputa eleitoral, a agora candidata ao Governo de Minas ressaltou três pontos chave entre os maiores problemas da Zona da Mata: mobilidade, habitação e saúde.

“A ausência de políticas públicas de habitação faz com que a região engrosse o déficit habitacional, que é de cerca de 500 mil em todo o estado. Nosso compromisso é com a estatização do sistema intermunicipal de transportes e a revitalização das estradas, com aplicação do passe livre intermunicipal para estudantes e o retorno do uso dos trens de passageiros.”

Sobre a saúde, Indira frisa que a ausência dos hospitais regionais, somada à cobertura insuficiente dos serviços de atenção básica, fazem com que o quadro na região seja delicado. “Iremos garantir a entrega do hospital e a garantia do pagamento do piso dos trabalhadores da enfermagem. Para isso, nosso governo não fará a adesão ao Regime de Recuperação Fiscal. Só assim conseguiremos finalizar a obra e realizar os concursos públicos necessários para colocar o hospital em funcionamento”, assegura.

Sobre as ações de fomento à economia da Zona da Mata, Indira aponta que defende “a melhoria das rodovias e obras de habitação e saneamento, para assim atender as demandas da população, além de incentivar o desenvolvimento do turismo e da agricultura familiar”. “São medidas que gerarão empregos diretos, que demandarão novos concursos públicos e fomentarão a economia da região.”

Lorene Figueiredo

‘Política criminosa de Bolsonaro e Zema produziram empobrecimento’

Lorene Figueiredo (PSOL) tem 56 anos e também está pela primeira vez na disputa para o Governo de Minas. Em 2020, se candidatou à Prefeitura de Juiz de Fora pelo mesmo partido. Para ela, os maiores problemas da Zona da Mata são a fome e a ausência de serviços públicos de saúde, educação e assistência social de qualidade.

“A crise econômica, combinada à política pública criminosa e concentradora de riqueza implementada por Bolsonaro e Zema, produziu um cenário de empobrecimento generalizado da população mineira, que tem 4,5 milhões de pessoas em situação de pobreza e extrema pobreza”, indica.

Uma das propostas da candidata é a introdução de um programa de renda mínima universal para os mineiros, algo que, em sua visão, ajudaria a resolver os problemas sociais e econômicos do Estado. “A economia da Zona da Mata é caracterizada por uma diversidade significativa. Nessas condições, queremos fortalecer a construção de moradias populares e a ampliação da infraestrutura de prestação de serviços de educação, saúde, cultura e lazer na região”, assegura Lorene, que também pretende dar prosseguimento às obras dos hospitais regionais no estado.

“As obras do Hospital Regional de Juiz de Fora já se arrastam por 11 anos. A saúde não é mercadoria. Por isso, somos contrários ao avanço das parcerias público-privadas no setor de saúde e defendemos a sua operação por meio de investimentos e gestão 100% pública, garantindo a universalização dos direitos sociais”, conclui.

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Lourdes Francisco

‘Zona da Mata é uma das melhores regiões do estado’

Lourdes Francisco (PCO) tem 60 anos e está na disputa por um mandato no Palácio da Liberdade pela primeira vez. Em 2016, se candidatou a vereadora em Grão Mogol, Norte de Minas. A candidata destacou que a situação econômica e social do país não é diferente na Zona da Mata, classificando a mesma como uma das melhores no estado. “O Brasil inteiro está com problemas de desemprego, fome e outros como educação, saúde, moradia, estradas. Por outro lado, a região tem uma malha viária muito boa, com uma produção agroindustrial excelente”, enaltece.

Sobre desenvolvimento, Lourdes acredita que o investimento na industrialização alavancaria a economia. “A Zona da Mata tem uma migração muito grande por causa das oportunidades de emprego, da produção cafeeira e do álcool, com a agricultura sendo bem forte. O ideal para a região seria fomentar indústrias que se adequassem com a produção do agronegócio”, acredita a candidata, que afirma também que a questão da interrupção das obras dos Hospitais Regionais no estado se deve a uma má vontade política.

“Na verdade, o Hospital Regional de Juiz de Fora está num acordo entre a Prefeitura e o Estado que não foi cumprido por falta de vontade política, tendo em vista que o valor já foi destinado de uma verba da Vale do desastre ambiental de Mariana. Caso eu esteja no Governo, vou fazer o possível pra esse acordo ser cumprido, além de aumentar o número de médicos e fazer uma estrutura para que o SUS atenda com qualidade a população de Juiz de Fora.”

Marcus Pestana

‘Temos condições de servir bem a população’

Ex-deputado federal entre 2011 e 2019, o juiz-forano Marcus Pestana tem um currículo extenso na vida pública e, aos 62 anos, disputa pela primeira vez o Governo de Minas. Ele foi secretário de Estado de Saúde, entre 2007 e 2010, desempenhando a função quando da concepção do projeto do Hospital Regional de Juiz de Fora, obra ainda inacabada.

“Os oito últimos hospitais entregues à população em Minas nasceram na minha gestão. Eu modernizei o parque hospitalar. Sei como garantir eficiência e concluir as obras. Faltou um pouco de boa gestão. Não faltava dinheiro, eu equacionei tudo preliminarmente”, afirma Pestana.
O candidato é taxativo ao afirmar que sabe como terminar o hospital de Juiz de Fora e outros cinco em construção em Minas Gerais. “Como governador, vou retomar essas obras.” Por outro lado, Pestana elencou a retomada do desenvolvimento econômico como o principal gargalo da Zona da Mata.

“O grande desafio da Zona da Mata é a geração de emprego e renda. É dinamizar a economia que, há muitas décadas, vive um processo de crescimento muito lento.” Como solução, sinaliza apostar nas características locais. “Temos condições de servir bem a população. O que falta é custeio e boa gestão.”

O tucano considera que a retomada do desenvolvimento econômico tem que ser vista como prioridade. “Nós temos uma pecuária leiteira de baixíssima produtividade. Então, com o suporte da Embrapa, da Epamig e das universidades, temos que empreender um esforço em pesquisa e extensão para diversificar a produção.”

Romeu Zema

‘Minas voltou a ter credibilidade no Brasil’

Atual governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo) tem 57 anos e é natural de Araxá, na Região do Triângulo Mineiro. Pleiteando mais um mandato no Palácio da Liberdade, a principal aposta do candidato é continuar os trabalhos iniciados em sua gestão. “Quando assumi o Governo de Minas, as rodovias do Estado estavam em péssima condição. Não existia um programa estruturado para a recuperação da malha rodoviária, gravemente deteriorada depois de o governador anterior só fazer operação tapa-buraco”, exemplifica o governante.

“Na área econômica, também fizemos mudanças na legislação para eliminar entraves burocráticos e simplificar processos. Assim, criamos um ambiente de negócios atraente para empresas se desenvolverem. Confiança é a base disso. Minas voltou a ter credibilidade no Brasil e fora dele”, indica Zema.

Quando indagado sobre a Zona da Mata, o candidato indica que quer impulsionar a geração de empregos na região, além de relembrar que o anúncio da chegada da multinacional Ardagh Group a Juiz de Fora aconteceu na atual gestão.

O candidato aponta que os recursos para a continuidade das obras do Hospital Regional de Juiz de Fora já estão em conta, com o processo de retomada em andamento. “No meu Governo não tocamos obra sem que o recurso esteja totalmente garantido para concluí-la. Ao contrário do que o adversário tem dito falsamente, há modelos de gestão, via SUS, que vão permitir custear o hospital e ir aumentando gradativamente as modalidades de serviços prestados”, assegura.

Vanessa Portugal

‘Falta investimento nas indústrias’

A professora Vanessa Portugal (PSTU) é veterana das disputas no estado. Aos 52 anos, já disputou a Prefeitura de Belo Horizonte e foi candidata a senadora, deputada estadual e vereadora. Natural de Boa Esperança, já disputou o Governo de Minas em outras duas oportunidades, em 2006 e 2010.
Ela entende que os problemas da Zona da Mata se assemelham aos demais vivenciados em outras cidades do estado. “A falta de investimento e infraestrutura faz com que as estradas estejam completamente destruídas.” Assim, Vanessa defende que “as estradas precisam ser reconstruídas sem ser privatizadas”.

“A redução do peso da indústria na economia do estado resultou em um peso grande para a Zona da Mata, como também a falta de investimento nas pequenas e médias indústrias.’’ Ela aponta aquilo que considera como problemas econômicos do estado, com reflexos para a região. “Hoje, Minas é mais dependente da venda de grãos, do minério bruto e das commodities do que era há 20 anos. Com tudo isso, vêm problemas que se acumulam como a fome, o desemprego, a falta de investimento na saúde, na educação e na moradia.” Entre estes problemas, a candidata cita o Hospital Regional de Juiz de Fora.

“É preciso retomar a construção desse hospital. Ele precisa ser equipado. Tem que ser um hospital público e estatal, que assegure os direitos dos trabalhadores, pague o piso nacional para enfermagem e garanta que os trabalhadores possam ser acolhidos e atendidos de acordo com suas necessidades.”

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