Novo fim para o lixo: aprenda a fazer compostagem em casa
Nova seção da Tribuna mostra alternativas para uma vida mais sustentável e conta histórias de pessoas que adotaram práticas ambientais simples e econômicas em busca de um futuro melhor
“Biosfera”, nova seção semanal da Tribuna, nasce com o objetivo de pensar práticas que impactam menos o meio ambiente e contribuem para um futuro melhor. Faz tempo que questões ambientais deixaram de ser assunto apenas para as futuras gerações, o que é feito agora será sentido nos próximos anos e não nas próximas décadas. Para continuar a contar histórias é preciso criar alternativas. Vamos reunir nesta seção do jornal iniciativas e pessoas que colaboram de alguma maneira para um amanhã mais verde, além de ideias econômicas, sustentáveis e práticas para você inserir aos poucos no seu dia a dia. A primeira reportagem é sobre compostagem.
Uma pequena ação feita por muitas pessoas gera impacto. Esse é o caso da compostagem, usada para diminuir a geração de lixo. De acordo com a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), 81,8 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos (RSU) foram produzidos nas residências dos brasileiros em 2022. O número alerta para a urgência em adotar outras maneiras, mais corretas, de destinar ou reaproveitar o lixo. E a compostagem é vista como uma das soluções para transformar o resto de alimentos orgânicos em adubo, que pode ser usado em hortas domésticas.
Embora seja uma alternativa mais fácil de adotar em casa, a compostagem ainda é conhecida por poucos. Com o objetivo de ampliar as informações sobre esse tema e outras práticas sustentáveis, o projeto Enactus, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), oferece ações de educação ambiental para projetos sociais na comunidade ao entorno do campus. A primeira fase do projeto foi realizada na Associação dos Amigos (Aban), no Bairro Dom Bosco, com mulheres acima de 40 anos. Lá o objetivo da composteira era ajudar a suprir a horta comunitária da instituição.
“Acabamos jogando fora as cascas e sementes, por exemplo, de muitos alimentos que consumimos. Quando despejamos esse material orgânico no lixão, geramos um resíduo muito tóxico, que pode contaminar o solo do aterro. Cerca de 80% de tudo o que é orgânico e jogamos fora poderia ser usado para produzir adubo sem agrotóxico. Além de fazer bem para a questão ambiental, também contribui para uma melhor alimentação das pessoas com produtos in natura”
Lucas Rossi, voluntário do Enactus
Agora a equipe do Enactus vai implementar o processo de compostagem com as crianças e jovens do Curumim São Pedro. Foi entregue à instituição um material didático para trabalhar com temas como reciclagem, horta e compostagem. Além disso, o grupo ofereceu uma capacitação para as educadoras do Curumim. Futuramente, o grupo está disposto a ampliar a iniciativa para outros Curumins do município. “É um processo que você tem um investimento, dependendo da composteira, mas qualquer um pode fazer, inclusive em casa, não tem perigo, não é tóxico. O Enactus tem buscado ensinar essa prática para as crianças para incentivar a interação delas com a natureza.”
Carne, não!
No geral, a composteira pode receber restos de frutas, verduras, legumes, grãos e sementes, borra de café, sachê de chá e casca de ovos. A compostagem por micro-organismo pode receber qualquer tipo de alimento, cozido e cítrico, menos carne, ossos e alimentos muito gordurosos para evitar aparecimento de animais. Já no caso da compostagem com minhocas, não podem, além dos já citados, alimentos cítricos, nem cozidos.
Eclo: transformando ciclos
Em maio do ano passado, a Câmara Municipal de Juiz de Fora instituiu uma Política Pública de Reciclagem de Resíduos Sólidos Orgânicos, que torna obrigatória a destinação ambientalmente adequada do lixo através dos processos de reciclagem e compostagem a partir de 2023, até atingir 100% dos descartes orgânicos em 2033. Com a nova lei, é proibido encaminhar os resíduos para aterros sanitários e para a incineração, exceto os “casos de calamidade pública, decreto do Poder Executivo que declare estado de emergência, e paralisação dos trabalhadores do órgão responsável pela limpeza urbana”.
No entanto, a separação e coleta de resíduos ainda é lenta no município. Pensando em criar opções para deixar mais fácil esse processo, a publicitária Luísa Carneiro decidiu criar a Eclo, uma empresa de compostagem urbana. A Eclo vai até a casa do cliente recolher o lixo orgânico e depois esse material é levado para as composteiras da sede da empresa, onde será transformado em adubo. A frequência da coleta é de acordo com a demanda do consumidor, quinzenal ou mensal, e pode ser escolhida através do site eclo.eco.br. “Nem todo mundo tem tempo, nem todo mundo tem espaço e a ideia era justamente criar essa facilidade”, conta Luísa.
Para depositar o lixo, o cliente recebe um balde, sacolas biodegradáveis feitas com mandioca e milho, além de instruções do tipo de resíduo que pode entrar na coleta. Todo mês, ele vai receber um pouco do adubo de volta ou um produto de um comércio local. “Nosso propósito é transformar o que seria um fim de ciclo. Ao invés do lixo ir para o aterro sanitário, ele inicia um novo ciclo, que é o da compostagem.”
Até o momento, quase 30 toneladas de resíduos orgânicos passaram pela compostagem da Eclo, sendo mais de 70 famílias atendidas. A iniciativa também conta com ações de educação ambiental nas redes sociais, onde Luísa ensina o passo a passo da montagem da composteira, entre outros temas. “Não é simples, mas é um processo muito possível, se você quiser”, orienta.
“A questão do meio ambiente é coletiva e individual, precisamos que cada um faça de fato a sua parte. Não podemos esperar que o outro comece, para fazermos nossa parte, nós geramos muito mais impacto do que imaginamos. É importante ter essa consciência e entender que é uma responsabilidade do público e do privado, os grandes geradores precisam fazer uma movimentação também. Isso gera mais saúde para você, para as pessoas do seu entorno e para o planeta”
Luísa Carneiro, criadora da Eclo
Como ter uma composteira em casa
Antes de levar o lixo orgânico à composteira para transformá-lo em adubo é necessário entender um pouco mais sobre o processo. No início pode parecer complicado, mas ao colocar a mão na terra e seguir o passo a passo que vamos ensinar, ter uma composteira em casa acaba sendo tranquilo e até divertido para ensinar as crianças.
Os principais modelos de compostagem são dois: a vermicompostagem e a compostagem seca. Na primeira, o processo de decomposição acontece através de minhocas que ajudam os micro-organismos presentes no solo a transformar os resíduos em húmus. Esse processo costuma ser o mais usado por ter um resultado mais rápido. Já na segunda opção, apenas os micro-organismos do solo atuam na decomposição. Por ser um procedimento sem nenhuma ajuda externa, acaba sendo mais lento, porém, permite colocar mais tipos de alimento.
Luísa explica que a compostagem do projeto Eclo é feita com micro-organismos em uma composteira de pallet, mas como esse método requer um espaço maior, ela encontrou uma alternativa para tornar o processo mais fácil de fazer em casa. A adaptação da composteira da Eclo é feita com baldes e pode usar tanto o modelo de micro-organismos quanto o de minhocas.
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Passo a passo
1. Você vai precisar de três baldes de plástico com tampa. Para a compostagem com minhocas é recomendado o balde escuro
2. O primeiro passo é fazer buracos pequenos na parte inferior e nas laterais superiores do balde para entrar oxigênio. O tamanho tem que ser suficiente para a terra não passar, mas ao mesmo tempo para que o líquido produzido pelo processo consiga escorrer
3. O terceiro passo é recortar a tampa de dois dos baldes
4. Encha o primeiro balde com terra. Se for usar minhocas, a hora de colocá-las é agora
5. Em seguida, coloque o alimento orgânico e o dobro de serragem ou de folha seca e misture os materiais
6. Quando o primeiro balde estiver cheio é só trocar a tampa (que está intacta) com a do outro balde (que está recortada) e inverter as posições dos dois baldes. Repita o mesmo processo a partir do item 4.
Observações: se sua produção de lixo for muito grande, o ideal é acrescentar mais baldes à composteira. Quando o adubo estiver completamente sem cheiro, significa que se tornou um biofertilizante pronto para ser usado na plantação de alimentos orgânicos. Esse processo dura cerca de quatro meses. Já o modelo com minhocas leva em média três meses.