Lixo orgânico é transformado em fertilizante natural eficiente

A compostagem pode evitar até 30 anos de emissão de carbono


Por Pâmela Costa, sob supervisão da editora Fabíola Costa

10/02/2023 às 07h44- Atualizada 10/02/2023 às 14h56

Foi em uma área verde de mais de 40 mil m² que surgiu a oportunidade de nutrir o solo com o que só foi possível a partir dele. E é nesse ciclo da natureza que a compostagem vem mostrar que é possível usar os recursos do meio ambiente em simbiose.

Tendo consciência de que há quem descarte o lixo e também aqueles que os transformam, a Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), por meio do Instituto de Laticínios Cândido Tostes (ILCT), há cerca de um ano e meio, colocou em prática a compostagem. Mediante a constatação da alta produção de resíduos gerados pela capina e jardinagem na unidade, foi criado o projeto que converte lixo orgânico em fertilizante natural eficiente.

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Tudo começa a partir da organização e do empilhamento. Em uma área plana, são depositados capim e galhos de árvore cortados (materiais ricos em carbono). Depois é a vez dos resíduos ricos em nitrogênio, que são as substâncias orgânicas, como borra de café, cascas de frutas e folhas verdes. Após outra camada de capim, o material deve ser revirado com frequência, e os microrganismos fazem o trabalho de decomposição final. O composto orgânico, material final do processo, serve como adubo para o uso agrícola na produção de alimentos, temperos e flores, por exemplo.

Todo esse trabalho é executado a partir das mãos de Edson Luis da Silva Veiga, jardineiro do local. Ele é o responsável por dar vida a um processo que, literalmente, rende frutos. Foi esse interesse pela natureza que o fez virar jardineiro, para estar cercado o dia inteiro por plantas. Mas nem sempre foi assim. Edson já trabalhou como funcionário do Demlurb por três anos. Ele conta que, na época, quando via mudas pelas ruas, pegava todas e, no fim do expediente, as levava para casa.

Como resultado, ele construiu um jardim florido e, também, uma conexão com a natureza. “Quando estou dentro de casa e coloco água para as plantas, elas ficam felizes. Eu sinto isso tanto na folhagem delas, quanto no cheiro que elas soltam”, conta o jardineiro. Ele fala que esse sentimento se estende para o trabalho que vem sendo feito com a compostagem na Epamig-ILCT. “Sinto-me muito feliz de estar contribuindo com o meio ambiente, principalmente porque é uma reciclagem.”

Cerca de 40% dos resíduos sólidos vão para lixões

De acordo com o Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil, publicado pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), cerca de 40% dos resíduos sólidos urbanos coletados no país ainda são destinados a lixões e aterros controlados. Para afunilar, os resíduos orgânicos correspondem a metade de todo o resíduo sólido urbano gerado.

Para reverter esse cenário, a participação de todos é fundamental, avalia o professor e coordenador do Curso de Engenharia Ambiental e Sanitária da UFJF, Samuel Rodrigues Castro. Para ele, os cidadãos podem participar ativamente desde a seleção de produtos em estabelecimentos até a destinação final ambientalmente adequada dos resíduos. “É importante saber escolher e priorizar empresas com certificação ambiental, que possuam programas com foco na redução de resíduos e produtos com multiuso e maior versatilidade e durabilidade.”

O chefe-geral do ILCT, Sebastião Tavares de Rezende, avalia que toda empresa gera impacto, então, também cabe a cada negócio tentar atenuar os efeitos no meio ambiente. “A consciência de que é preciso adotar práticas sustentáveis e soluções que gerem baixa condição de carbono é uma tendência. Mais que uma tendência, é um caminho sem volta.” Na opinião dele, priorizar uma vida ecológica nas mais diversas esferas tem seus desafios, mas é recompensador.

Alunos da instituição são convidados a colocar a mão na terra, aprendendo, na prática, a importância de transformar o resíduo orgânico em fertilizante natural (Foto: Marcelo Ribeiro)

A reciclagem como um caminho sem volta

O elevado potencial de transformação do lixo orgânico aumenta o apelo para a recuperação do material gerado, comenta a professora coordenadora do projeto no ILCT, Claudety Saraiva. Ela explica que o processo ocorre de forma simples, promovendo significativa diferença para o meio ambiente, podendo ser desenvolvido à nível industrial ou doméstico.

No caso do ILCT, o emprego de práticas sustentáveis alia responsabilidade ambiental com exemplo aos alunos. No local, o lema pedagógico seguido é de “aprender fazendo”, referência ao fato de que os estudantes participam ativamente no processo de produção dos laticínios. Com o projeto, a meta é expandir sua função pedagógica, mostrando, também, como fazer a diferença para o meio ambiente. Desde que o projeto foi implantado, não houve mais a necessidade de direcionar grande volume para os aterros sanitários.

Meta

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A meta estabelecida pelo Plano Nacional de Resíduos Sólidos – Planares é de que, até 2040, cerca 13,5% da massa de resíduos sólidos urbanos coletada receba tratamento biológico, e que haja aproveitamento de mais de 60% do biogás gerado na produção de energia elétrica para abastecimento de 9,5 milhões de domicílios. Os benefícios do lixo orgânico, no entanto, não precisam esperar até lá para serem alcançados.

Na cidade, as boas práticas como a do Instituto Cândido Tostes já podem ser sentidas. Inclusive, elas vêm em um momento necessário. De acordo com o professor Samuel Rodrigues Castro, embora a prática de coleta seletiva no país tenha avançado com a Política Nacional de Resíduos Sólidos, Juiz de Fora apresenta Índice de Recuperação de Resíduos igual a 0,26%, coletados em 2019. No mesmo ano, em estudo da Engenharia Sanitária e Ambiental da UFJF com parceria com o Demlurb, foi diagnosticado que cerca de 40% do resíduo domiciliar gerado na cidade é composto por matéria orgânica. Logo, os reflexos de uma ação que começa no ILCT, mais tarde, podem servir de inspiração também para outras residências e para a ampliação da consciência ambiental de toda a cidade.

Atualmente, Juiz de Fora conta com Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos, com disposição estabelecida pelo Decreto 14.568 de maio de 2021, além da Lei 14.402 de abril de 2022, que institui a Política Pública de Reciclagem dos Resíduos Sólidos Orgânicos, com metas estabelecidas para a implementação da compostagem no município.

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