Lula inaugura mandato com muitos desafios

Por Paulo Cesar Magella

01/01/2023 às 02h16 - Atualizada 01/01/2023 às 02h16

O mandato Lula, a ser inaugurado neste domingo, 1º de janeiro, será marcado por desafios. A convite do Painel, o cientista político Raul Magalhães, da Universidade Federal, elencou alguns deles e antecipou disputas internas em torno da sucessão do próprio Lula, que antecipou não pretender a reeleição. “Em linhas gerais vamos ter um governo com outro tratamento dos conflitos tanto de interlocução política, quanto de interlocução com a mídia que marcaram o governo Bolsonaro, que apostava no atrito como forma de manter o seu núcleo de apoiadores. Se o governo Bolsonaro só falava para sua base o esforço desse governo vai ser falar para um leque bem maior de políticos e apoiadores que se formaram em torno da candidatura de Lula”.

O professor Raul Magalhães aponta para uma guinada na economia. “Ao garantir com a PEC o auxílio de R$ 600 no Bolsa Família, o Governo começa cumprindo uma importante promessa de campanha junto aos setores populares. Quanto à economia, o que se espera é a retomada da coordenação do Estado, um caminho contrário aos anos de Paulo Guedes”. Para o professor, a mudança mais profunda vai ocorrer no meio ambiente com a indicação de Marina Silva. “Um dos testes importantes desse governo vai ser compatibilizar a retomada do crescimento econômico com o respeito à pauta ambiental. No passado isso custou a renúncia de Marina.”

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A segurança pública será uma das áreas mais sensíveis, por ter sido, nestes quatro anos, um reduto do bolsonarismo. “É talvez o campo onde os adversários do Governo são mais encastelados criando um grande desafio a Flávio Dino, indicado para o Ministério da Justiça.

O cientista político Raul Magalhães destaca ainda que o presidente terá que gerenciar demandas internas envolvendo os próprios aliados. “No campo específico da política, se o governo funcionar, há pelo menos quatro nomes que poderiam se habilitar a suceder Lula: Fernando Haddad, Simone Tebet, Geraldo Alckmin e Flávio Dino. Aqui temos um problema de competição interna que obrigará o presidente a um trabalho intenso de articulação e controle de egos. O que vem por aí é um presidente Lula que terá de administrar uma equipe cheia de interesses nem sempre compatíveis. Ele não vai ter descanso.

O silêncio de Jair Bolsonaro é, na avaliação de Raul Magalhães, um indicativo de que o espaço à direita pode ficar vago, sendo improvável sua ocupação, de novo, pelo bolsonarismo raiz. Ele aponta como futuro player o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. “Ele aparece como primeiro nome possível para o papel de líder da oposição, o que deve gerar conflitos com o próprio bolsonarismo. Zema e Claudio Castro parecem pouco a vontade no papel de líderes nacionais, o que reforça a expectativa de centralidade de Tarcísio. Há uma oposição mais leve de Eduardo Leite, mas dificilmente ele poderá ser o verdadeiro antagonista devido ao esfacelamento do PSDB.”

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