Eu só queria curtir ‘Gavião Arqueiro’, mas colunas não se escrevem sozinhas

Por Júlio Black

29/12/2021 às 07h00 - Atualizada 28/12/2021 às 14h37

Oi, gente.

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Escrevo a coluna desta semana na terça-feira, seis dias depois de ter assistido ao season finale de “Gavião Arqueiro” no Disney+, e ainda não sei muito bem o que escrever a respeito. Afinal, jornalista ainda é gente (“quarto poder”? HAHAHAHAHAHA, conta outra), e por isso mesmo também queremos apenas curtir a experiência de um filme, uma série, livro, peça de teatro, exposição, sem ter que tentar traduzir nossas considerações consideráveis em seiscentas, oitocentas ou mil palavras que ajudem a encher uma página ou criar conteúdo para sites de internet.

Deixa tentar explicar melhor essa parada. Jornalismo sempre foi a profissão que quis para minha vida, adoro escrever, compartilhar minhas impressões sobre determinada obra, recomendar boas coisas para os amigos, e tenho a sorte de ter uma coluna semanal para escrever o que der na telha. Mas o “que der na telha” tem limites, pois existem as séries, filmes, quadrinhos que são “obrigatórios”, que não podem ficar para depois. Então a “missão” é sentar em frente ao notebook, botar um álbum para tocar nos fones de ouvido (Nick Cave and The Bad Seeds foi a escolha do dia) e tentar escrever nossa análise e impressões sobre o tema da coluna da semana.

Pois bem, aí vem o lance do “jornalista também é gente”. Por conta do ofício, quase todo produto cultural é um tema em potencial para a coluna ou uma resenha, mas, às vezes, tudo o que queremos é apenas curtir a experiência, no máximo trocar uma ideia com os amigos. Curtir o momento e nada mais, que é o que tenho feito com “Thundercats roar” (sério, é muito legal, e nada mais tenho a dizer) e fiz com “Vingança & castigo”. Nem tudo que escrevo tem caráter de urgência, às vezes consigo me permitir assistir às coisas no meu tempo (“Servant”, que comentei semana passada, é um exemplo).

Porém, casos assim são exceção. Muita resenha é escrita sem o necessário tempo de reflexão, de troca de impressões com os amigos, aquela caminhada com o Imperador Django que serve para “digerir” o que assistimos ou lemos. Um exemplo? “Não olhe para cima”. O filme estreou na Netflix semana passada, quase todo mundo assistiu e todo mundo está a comentar. Então lá fui eu assistir ao longa de Adam McKay na segunda-feira à noite, e, mesmo sem tempo para “respirar” o filme, vou escrever a resenha assim que terminar a coluna, pois é preciso ter alguma coisa de cinema para a edição de quinta-feira.

Tá bom, chega de lamentação, vamos escrever sobre “Gavião Arqueiro”. Não vou ficar aqui a analisar se foi a melhor produção para o streaming feita pelo Marvel Studios em 2021, esmiuçar todos os detalhes da trama, especular o quanto os eventos da série podem influenciar o MCU (Universo Cinematográfico Marvel) no futuro, o que esperar da série da Eco e mil outras coisas.

Vamos ao básico. Gostei da série, muito, curti todos os episódios e a trama mais leve e despretensiosa quando o assunto é MCU, sem ter coisas gigantes caindo do céu ou ameaças alienígenas ou de outra dimensão. Adorei que tenham aproveitado vários elementos da série em quadrinhos da dupla Matt Fraction e David Aja, como a impagável Gangue do Agasalho e Sortudo, o Cachorro-Pizza, a forma como interligaram os eventos do primeiro filme dos Vingadores com as motivações para a Kate Bishop aprender a usar arco e flecha. Aliás, temos que destacar que Hailee Steinfeld foi uma das escolhas mais felizes que a Marvel fez até hoje para suas séries e filmes.

Como bom nerd, também gostei de todos os elementos exagerados das histórias em quadrinhos que entraram na série, como as inacreditáveis flechas especiais do Gavião Arqueiro, a participação de dois personagens muito aguardados pelos fãs (um deles mais que esperado, e que era capaz de arremessar a Kate Bishop a uns três metros de distância com apenas um soco, me lembrou os lendários “Sal Buscema punches”). E por falar em socos, curti o fato das pancadarias deixarem os personagens arrebentados, cheios dos curativos, hematomas e afins no dia seguinte. Bem gente como a gente, se bem que eu não aguentaria cinco minutos de porrada com quem quer que seja.

Por fim, vamos falar, claro, de Clint Barton (Jeremy Renner). O cara sempre foi o membro original dos Vingadores que era o coadjuvante dos coadjuvantes, mesmo quando passamos a conhecer um pouco mais de sua personalidade, passado, o fato de ter uma família que mantinha em segredo e isolada do mundo. Ele deixou de ser “o cara que atira flechas” apenas em “Vingadores: Ultimato”, quando vimos todo o drama por que passou.

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“Gavião Arqueiro” serviu para desenvolver a personalidade de Clint Barton, esmiuçar os fantasmas de seu passado e lidar com as consequências de seus atos, a culpa por não ter conseguido salvar a Viúva Negra (Scarlett Johansson), o peso de carregar (involuntariamente) a fama e a responsabilidade de ser um super-herói, conhecer melhor seus defeitos e fraquezas, a questão da deficiência auditiva (elemento incorporado dos quadrinhos), os laços com a família, o companheirismo e a cumplicidade com a esposa, Laura (Linda Cardellini), e até mesmo vermos um pouco das habilidades adquiridas quando era agente da SHIELD.

Tendo chegado até aqui, posso dizer que pouco importam as mais de 900 palavras que gastei na coluna desta semana; o que realmente importa é que “Gavião Arqueiro” é uma série muito legal. Vai lá curtir e, se for o caso, comentar com os amigos – ou não: afinal, não somos obrigados a ter opinião sobre tudo. A não ser que a ah miga leitora ou o ah migo leitor seja jornalista, pois neste caso nem sempre a paz (de guardar as opiniões para si) é uma opção.

Vida longa e próspera. E obrigado pelos peixes.

Júlio Black

Júlio Black

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