Quadrinhos em série(s)

Por Júlio Black

21/11/2018 às 07h05 - Atualizada 20/11/2018 às 15h57

Oi, gente.

Acredito que boa parte das leitoras e leitores deste espaço esteja vivendo (assim como eu) a “Era do Impossível”, em que há tanto volume de informação, entretenimento, compromissos, redes sociais etc., que é… impossível acompanhar tudo (se algum teórico da comunicação já tiver escrito algum artigo sobre “A Era do Impossível”, não estou plagiando, é mera coincidência). É preciso saber filtrar as opções, o que nem sempre é possível.

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É o caso (mais uma vez, vou repetir isso forever) das séries em geral e dos seriados que adaptam histórias em quadrinhos em particular. Sem fazer força, dá para listar mais de 20, e como precisamos ter vida social, emprego, cuidar de filho, ser bom marido etc., é preciso dar aquela tradicional selecionada.

Para a semana, vamos comentar três produções: “Preacher”, que acompanho desde 2016, e outras duas boas novidades, “Fugitivos” e “Happy!” – esta, assim como “Preacher”, já havia sido comentada anteriormente, mas só os dois primeiros episódios.

Então vamos lá.

Vida longa e próspera. E obrigado pelos peixes.

 

PREACHER

O terceiro ano da série que adapta a demente HQ criada por Garth Ennis e Steve Dillon tem apenas dois defeitos: ter jogado para escanteio (pelo menos por enquanto) a busca por Deus, que mal aparece na temporada, e ter ficado em segunda marcha nos episódios iniciais. Mas depois temos um festival de violência, obscenidades, dilacerações, vísceras, mortes, blasfêmias, humor negro, perversidades, sangue aos decalitros, bem de acordo com a revista publicada pela Vertigo entre 1995 e 2000, e ficamos todos felizes.

Assim como nas temporadas anteriores, “Preacher” ignora algumas histórias, adianta outras, mistura diversos arcos e cria tramas inéditas, como a fuga do Inferno de Eugene, o Aserface (Ian Colletti), e ninguém menos que Adolf Hitler (Noah Taylor). Do original, a série junta em momentos variados histórias que lemos nos encadernados “Até o fim do mundo”, “Orgulho americano” e “Rumo ao Sul”. Assim, o telespectador é apresentado a novos personagens, como a sádica família de Jesse Custer (Dominic Cooper) em Angelville, quando precisa ressuscitar Tulip (Ruth Negga); além de lidar com o passado, Jesse precisa recuperar o poder do Gênesis e entra em confronto com Herr Starr (o ótimo Pip Torrens, responsável por um dos melhores personagens da série) e o líder do Graal, o grotesco Grande Pai D’Aronique (Jonny Coyne). E não podemos esquecer das várias cópias de Humperdoo (Tyson Ritter), descendente direto de Jesus Cristo e que sofre os efeitos da tentativa de manter sua ascendência “pura”.

Cassidy (Joseph Gilgun), o vampiro beberrão, encontra um semelhante em Nova Orleans, que vive cercado por jovens otários que também querem se tornar criaturas da noite. E o Santo dos Assassinos (Graham McTavish), mesmo que tenha aparecido menos do que merecia, continua disposto a matar o Pastor. E o final da temporada já deixou um gosto do que virá, mas não vamos revelar. Vale dizer que terá muita coisa boa de outro encadernado, “Guerra ao sol”, com elementos de “Orgulho americano”.

 

FUGITIVOS

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Não é nada que vá mudar nossas vidas, mas “Fugitivos” teve uma primeira temporada surpreendentemente boa, ainda mais se compararmos com “The Gifted”. Não sei se ajudou o fato de mal ter lido alguma HQ da série criada em 2003 por Brian K. Vaughan e Adrian Alphona, mas a sensação foi a de conhecer algo novo e legal.

A atração acompanha seis jovens que vivem na Califórnia, estudam na mesma escola e que, apesar de bem diferentes entre si, tinham uma sólida amizade até a irmã de uma das meninas morrer de forma trágica e misteriosa. Poderia ser uma espécie de “Barrados no baile com poderes”, mas o barato da história é que todos eles têm relações complicadas com seus pais, entre si e, aos poucos, descobrem que cada um possui poderes bem peculiares.

Até aí, tudo ok. Só que eles descobrem que seus pais são vilões que participam de uma organização secreta (O Orgulho) e obedecem a um vilão ainda mais poderoso e com planos beeeeem sinistros. Ah, e tem um dinossauro fêmea na história – que em sua primeira temporada mostra os jovens tentando descobrir qual é a dos seus pais com O Orgulho e fazer as pazes entre si, além de flashbacks e subtramas que ajudam a entender todo o contexto à medida que se desenrolam.

HAPPY!

Taí uma série que demorei para terminar, mas fiquei feliz por assistir. “Happy!” adapta a HQ publicada pela Image em 2012 e assinada pelo iconoclasta escocês Grant Morrison, decidido a realizar o seu “conto de Natal” bem peculiar. Em oito episódios, acompanhamos as desventuras de Nick Sax (Christopher Meloni, nascido para o papel), ex-policial que caiu em desgraça e hoje ganha seu pão amassado pelo Tinhoso exercendo o ofício de matador de aluguel. É durante uma de suas missões, em que apaga alguns mafiosos – inclusive o que possuía a senha para uma senhora fortuna -, que o infeliz sofre um infarto, vai parar no hospital e…

…Conhece Happy (voz de Patton Oswald), um unicórnio voador azul, tagarela, de bom coração e que o procurou por um bom motivo: encontrar e salvar uma garotinha sequestrada por um Papai Noel mendigo e maníaco, que mantém outras crianças em cativeiro. Nick Sax acredita, no início, que Happy é fruto de delírios causados por remédios, mas logo descobre que o bichinho é “real” e que terá bons motivos para tentar achar as crianças raptadas.

É a partir dessa trama que “Happy!” ganha o telespectador. Estão ali alguns dos elementos que Grant Morrison tanto gosta – metalinguagem, ironia, humor negro, violência gráfica, cenas desagradáveis, personagens desajustados, outros tantos caricatos -, mas é um conto de Natal sombrio, muito mais amargo que agridoce, com personagens que duvidam ter qualquer chance de redenção, mesmo esta sendo a época do ano em que as pessoas buscam perdoar os erros alheios, confraternizar e ter otimismo em relação ao futuro. Afinal, estamos falando essencialmente de gente que caiu em desgraça, é corrupta, criminosa ou que apanhou da vida mais do que muitos aguentariam.

O último episódio é tão emocionante que chega a dar um tiquinho de raiva o gancho que eles deixaram para a segunda temporada, afinal os oito episódios já contaram toda a história dos quadrinhos. Cercas coisas são tão boas que mereciam não correr o risco de ser estragadas.

Júlio Black

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