Seriados em série, parte 3 (ou: cuidado com o capeta)

Por JÚLIO BLACK

21/10/2016 às 07h02 - Atualizada 20/10/2016 às 16h56

Oi, gente.

Foi com um pequeno atraso gigantesco que começamos a assistir a “O exorcista”, série que leva para a telinha o clássico filme de terror que tinha a Linda Blair virando a cabeça em 180 graus. É mais uma produção da leva de remakes e adaptações de filmes, livros, seriados e outras paradas, que este ano inclui os já comentados “MacGyver” e “Westworld”. Para quem gosta de terror, “O exorcista” tem a sorte de estar mais próximo em termos de qualidade da série com os robôs cowboys do que do agente que desativa bombas atômicas com um post it e vinagre de maçã.

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A série conta com um elenco interessante, que inclui Alfonso Herrera (“Sense 8”), Ben Daniels (“House of Cards”) e Geena Davis (“Thelma & Louise”, “Os fantasmas se divertem”). O primeiro episódio, muito bom, foi dirigido por Rupert Wyatt (“Planeta dos Macacos: A origem”), e tem como centro da ação Tomás Ortega (Herrera), padre de origem latina que vive em Chicago. Progressista, ele se questiona quanto à sua vocação para o sacerdócio – ainda mais devido a uma história mal resolvida em seu passado – e não leva essa história de demônio a sério. Entre uma missa e outra, ele é procurado por uma das frequentadoras da sua paróquia, Angela (Davis), pois ela acredita que uma de suas filhas foi possuída pelo Demo.

E é aí que entra o padre Marcus (Foster), que começou a aparecer nos sonhos de seu colega de batina. Ele é um religioso obcecado pela sua missão, afastado das funções na igreja após um exorcismo que deu muito errado na Cidade do México. O padre está em retiro quando Herrera, em busca de alguém com experiência em arrancar o diabo da carne das pessoas, pede sua ajuda. O episódio é marcado por vários momentos de suspense, tensão e terror, incluindo uma reviravolta bem interessante no terço final.

Numa escala de uma a cinco Linda Blairs jogando padres da escada, a nota para “O exorcista” é três, com tudo para chegar a quatro.

Outra série que conferimos foi “Bull”, mais uma produção que mescla episódios procedurais com os dramas de tribunal – o tipo de atração que o público americano gosta, mas que para nós perdeu a razão de existir após o final da incomparável “Boston Legal”. Mas resolvemos ver qual é a bossa do programa pelo fato de ser estrelado por Michael Weatherly, que durante 13 anos foi o agente especial Anthony DiNozzo em “NCIS”.

Ele interpreta o psicólogo Jason Bull, sujeito que montou um esquema megalomaníaco – e caro, muito caro – para assessorar pessoas acusadas de crimes, com direito a dezenas de funcionários para perscrutar a vida pregressa dos acusados e jurados, incluindo perfis psicológicos, hábitos de consumo, uso da internet, ficha policial, programas de TV favoritos, quantas vezes a pessoa espirra por dia etc. A partir de um algoritmo alimentado por essa infinidade de dados, seria possível saber a tendência do júri em um julgamento, quais integrantes podem ser influenciados e até mesmo qual o tipo de discurso e interrogatório a serem usados.

O problema é que é preciso ter uma quantidade absurda de suspensão de descrença para se deixar levar pela história. Primeiro porque é difícil acreditar que um psicólogo consiga ter toda a estrutura mostrada no episódio piloto, que inclui ainda um tribunal de mentirinha em que advogados e clientes são “treinados” com um júri formado por pessoas com perfis parecidos com os dos jurados. Toda a parte tecnológica dá de sete a um naqueles laboratórios chiques da franquia “CSI”, e se um psicólogo pode montar toda essa parafernália é de se acreditar que a polícia poderia fazer o mesmo, e assim elucidar crimes com muito mais facilidade. E não poderia faltar a reviravolta final, com o verdadeiro culpado assumindo o crime.

Ainda que Michael Weatherly seja um ator carismático, seu personagem é mais um a repetir o clichê do sujeito esperto capaz de notar coisas que as pessoas “normais” não percebem, como padrões de comportamento, os braços cruzados quando se é confrontado, o quadro fora do lugar, o piscar de olhos quando na hora de mentir e coisas do gênero. “Bull” trata apenas de copiar de forma preguiçosa programas como “Lie to me”, “The mentalist”, “Psych” e “Monk”. Numa escala de zero a cinco Danny Cranes fumando charutos com Alan Shore, a nota é um.

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Por enquanto é isso aí, semana que vem tem mais.

Vida longa e próspera. E obrigado pelos peixes.

Júlio Black

Júlio Black

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