A guerra e seus monstros na HQ ‘Os vampiros’

Por Júlio Black

21/07/2022 às 07h00 - Atualizada 20/07/2022 às 12h41

Oi, gente.

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Brasil e Portugal possuem laços que todos nós conhecemos, mas não é absurdo afirmar que não somos os maiores conhecedores da história de nossos antigos colonizadores (ou exploradores, vamos mandar a real). Um exemplo é a guerra travada por mais de uma década entre os portugueses e suas então colônias africanas (Moçambique, Guiné-Bissau e Angola), que terminou com a independência das três nações na década de 1970. É este conflito que serve de pano de fundo para a excepcional HQ “Os vampiros”, que chegou ao Brasil por meio da Sesi-SP Editora.

Lançada lá fora em 2018 com roteiro do português Filipe Melo e ilustrações do argentino Juan Cavia – que já haviam trabalhado juntos na trilogia “As aventuras de Dog Mendonça e Pizzaboy” -, “Os vampiros” é ambientada em dezembro de 1972, quando um grupo de soldados portugueses baseado na Guiné recebe a missão de encontrar uma base dos guerrilheiros inimigos no vizinho Senegal. É um grupo que segue a cartilha dos roteiros dos filmes de guerra: o comandante durão para quem a guerra tornou-se o único mundo que existe; o soldado gente boa que é a voz da razão; o novato que não suporta os horrores da guerra; o sortudo; e por aí vai.

Acompanhados por um guia local, eles se embrenham na selva, e não demora para o leitor perceber que – além de eventuais emboscadas inimigas – tem alguma coisa sinistra acompanhando os combatentes, que passa a deixar alguns corpos pelo caminho. Nessa jornada, conhecemos um pouco mais das relações desse grupo heterogêneo, os conflitos e traumas que muitos deles carregam, até um desfecho que surpreende o leitor.

A história de “Os vampiros” pode ser classificada de várias formas, partindo do drama de guerra ao terror, mas também tem muito suspense, terror psicológico e acerto de contas com o passado. Se a guerra é capaz de desumanizar quem dela participa, a HQ da dupla Melo-Cavia é competente ao mostrar como se dá esse processo e como ele afeta cada pessoa de forma diferente, até porque há quem não se deixe levar pela barbárie.

O roteiro de Filipe Melo é eficiente em saber construir a história, os conflitos e dramas sem pressa, pois sabe que a tensão, nesses casos, pode vir numa lenta e agoniante constante. A arte de Juan Cavia é um complemento perfeito a esse roteiro, fazendo com que o leitor se sinta junto aos soldados ao utilizar panorâmicas, close-ups e diversos ângulos para fazer de “Os vampiros” uma experiência quase cinematográfica, em que os monstros estão ao redor e também dentro do coração de cada ser humano.

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Vida longa e próspera. E obrigado pelos peixes.

Júlio Black

Júlio Black

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