A volta de ROM, o Cavaleiro do Espaço

Por JÚLIO BLACK

17/05/2017 às 07h02 - Atualizada 12/05/2017 às 16h23

Oi, gente.

Os leitores veteranos de quadrinhos, em sua maioria, devem se lembrar das aventuras de ROM, o Cavaleiro do Espaço, um dos mais pitorescos personagens da Marvel e que teve quase todas as suas aventuras publicadas por aqui pela Editora Abril nos anos 80, primeiro em “O Incrível Hulk” e depois em “X-Men”. O encerramento da sua guerra contra os Espectros marcou também o sumiço do herói do Universo Marvel, e numa era anterior à internet era difícil entender por que um personagem tão legal tomou Doril e sumiu. Agora nós sabemos o motivo, que explicaremos no decorrer da coluna, mas o mais importante é saber que ROM voltou aos quadrinhos, desta vez publicado pela IDW Publishing a partir do ano passado – e já tivemos a oportunidade de ler às primeiras edições.

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Antes de comentar as novas histórias, é preciso explicar para os neófitos e relembrar os veteranos a trajetória de ROM, e, por consequência, explicar o sumiço e o retorno em outra editora. ROM, na verdade, era um projeto de figura de ação (ou boneco, para quem não leva o assunto a sério) oferecido à Parker Brothers, que topou fabricar o produto. Só que a empresa era especialista em jogos de tabuleiro e tinha medo de não saber vender o… boneco, então fechou um acordo com a Marvel para criar uma série em quadrinhos com o personagem. Daí que surgiu “ROM: The Spacekinght”, lançado pela Marvel nos Estados Unidos em dezembro de 1979.

Com roteiro e desenhos de dois nomes que provocam saudades nos fãs, Bill Mantlo e Sal Buscema, “ROM”, teve toda uma mitologia criada para si. O personagem era nativo do planeta Gálador, um mundo altamente desenvolvido e pacífico que se torna alvo do ataque dos Espectros, uma raça derivada dos Skrulls criada pelos Celestiais que, assim como a espécie da qual se originou, tinha a capacidade de assumir diversas formas. Além disso, aprenderam a utilizar tecnologia mesclada com magia negra, o que os tornava ainda mais perigosos.

Para impedir sua extinção, os galadorianos desenvolveram uma tecnologia que unia armaduras poderosas ao corpo de voluntários para combater os Espectros, e ROM foi o primeiro deles. Os Cavaleiros Espaciais de Gálador conseguiram derrotar seus inimigos, mas os Espectros que sobreviveram se espalharam por milhares de planetas da galáxia, obrigando os combatentes galadorianos a se espalharem e encontrarem os inimigos.

Os 200 anos de conflito levaram ROM até a Terra, onde os Espectros se infiltraram em diversos postos-chave do planeta graças a sua capacidade de assumirem formas humanas. Com poucos aliados por aqui, ROM passou a ser visto como um alienígena hostil que matava a sangue frio humanos indefesos, e por esse motivo chegou a enfrentar heróis como os X-Men, Homem-Aranha, Hulk e Doutor Estranho, entre outros. Quando conseguiu convencer os super-heróis da ameaça dos Espectros, os aliens maus foram definitivamente banidos do planeta.

Por uma dessas ironias do destino, o ROM dos quadrinhos fez muito mais sucesso que o próprio boneco, que vendeu pouco principalmente porque era muito mal feito. Já a trajetória do Cavaleiro Espacial nas HQs rendeu uma série com 75 edições, das quais as primeiras 65 foram publicadas no Brasil. O problema é que o contrato de licenciamento expirou, e como a figura de ação de ROM foi um fracasso a Parker Brothers decidiu não renová-lo. E aí ROM caiu num limbo, pois a Marvel não poderia mais republicar suas histórias. Mesmo assim, a editora chegou a publicar “novas” aventuras do personagem com outro nome, pois poderia utilizar toda a mitologia de ROM, incluindo o planeta Gálador e os Espectros, menos o nome original e o visual do herói, incluindo aí a icônica cabeça que mais parece uma torradeira.

Além de boas histórias – pelo menos para a época, creio eu, pois faz uns 25 anos que não lia nada do herói -, a passagem de ROM pela Marvel deixou de lembrança o seu neutralizador, arma que utilizava para mandar os Espectros para o Limbo e que ganhou uma nova versão nas mãos do mutante Forge. Foi essa arma que o mala do Henry Peter Gyrich utilizou para tentar anular os poderes da Vampira, porém acertando a Tempestade, em uma história beeeem antiga dos X-Men.

Mas então o tempo passou, a Hasbro comprou a Parker Brothers e ficou com os direitos do ROM, mesmo sem fazer nada com ele. Até chegar a um acordo com a IDW Publishing, que também é responsável pelas séries dos Transformers e G.I. Joe nos EUA, e daí o nosso herói espacial voltou aos quadrinhos no ano passado, com roteiro de Chris Ryall e Christos Cage e desenhos de David Messina e Paolo Villanelli. E com uma origem um pouco diferente. Já o universo… Quanta diferença.

Para começar, a Hasbro tem os direitos apenas do nome e do visual do herói. Por isso, agora ele é natural do planeta Eloria e faz parte da Ordem dos Cavaleiros da Estrela Sol, que reúne recrutas de inúmeros planetas para combater os Espectros. A armadura que ele utiliza não foi criada por nenhuma espécie, mas surgida devido ao contato com um minério misterioso. E os Espectros não são mandados para o Limbo, e sim exterminados por meio do Nulificador.

O visual também mudou bastante. Se a armadura de ROM na Marvel era simplória, aqui parece mais uma versão em miniatura dos gigantescos robôs de “Evangelion”, com maior mobilidade e recursos que não existiam na série original. E os Espectros são muito mais ameaçadores que outrora, com traços físicos diferentes de acordo com sua casta e que lembram as criaturas de “O Labirinto do Fauno”.

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As histórias são mais violentas e adultas que na época da Marvel, e a trama é desenvolvida de forma que dá vontade de acompanhar a saga de ROM não apenas para observar as semelhanças e as diferenças em relação aos “anos Marvel”, mas porque a HQ é realmente boa. Dentre os achados estão os Cavaleiros que não têm pena de passar fogo em quem estiver pela frente e a crueldade sem limite dos Espectros, que possuem um plano mais desenvolvido e estratégico que o simplório “conquistar o planeta” de antigamente.

E ROM não está sozinho na parada. Para quem gosta de universos expandidos e a danada da continuidade, a série do herói espacial habita o mesmo universo dos Transformers e G.I. Joe, que já deram o ar da graça na revista, além dos Micronautas, que também foram publicados pela Marvel e que agora estão com a IDW.

A torcida, agora, é para que todo esse material seja publicado no Brasil. Porque o negócio aqui não é saudosismo barato: ROM realmente merece ser (re)descoberto pelos leitores.

Vida longa e próspera. E obrigado pelos peixes.

Júlio Black

Júlio Black

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