A Era da Esculhambação

Por JÚLIO BLACK

15/05/2015 às 07h00 - Atualizada 14/05/2015 às 15h41

Oi, gente.

Não sei quanto a vocês, mas nos últimos dias tenho pensado – e muito – no saudoso Mussum: nosso querido “grande pássaro” (by Didi Mocó), adorador da birita e mutretas, sempre a fim de mé e muié, que curtia um badernismo dos bons – mas sem esculhambação, exatamente o que a Marvel vem fazendo nos quadrinhos desde que o cinema passou a dar muito mais dinheiro que a Nona Arte.

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Seguinte: o fato de a cultura nerd ter sido abraçada pela indústria do entretenimento não quer dizer que essa galerinha esperta tenha se convertido para o “bem” – o principal lance deles é dinheiro. Os filmes da Marvel são bons porque eles se preocupam com entretenimento de qualidade para ganhar os seus dólares, mas o leitão torce o rabo porque, para isso, quem manda no pedaço não pensa duas vezes em sacrificar justamente a nave-mãe (os quadrinhos).

E aí é a gente que não gosta, claro.

Eu, pelo menos, não me importo que mudem certas coisas na transição das HQs para o cinema, são mídias diferentes, mas dá raiva quando os quadrinhos precisam se adaptar às “necessidades” da Sétima Arte. E tudo começou quando a Marvel distribuiu os direitos de alguns personagens para diversos estúdios na década de 90, época em que ela quase foi para o limbo da falência. X-Men, Quarteto Fantástico, Homem-Aranha, Hulk, Justiceiro, Demolidor, toda essa gente foi entregue para Fox, Universal, Sony. Aí descobriram que essa turminha poderia render uma grana daquelas bem violentas, e a Casa das Ideias pegou o que sobrou (Capitão América, Thor, Homem de Ferro e Hulk, este último via acordo com a Universal), ganhou bilhões, foi vendida para a Disney…

… E resolveu que era hora de sacanear com a concorrência, mesmo que sacrificando o bom senso no universo de papel. Se essa visão de sinergia (argh) ajudou a dar destaque aos Inumanos, por exemplo, vem estragando outros personagens. Pensem no Mercúrio e Feiticeira Escarlate: eles sempre foram mutantes, filhos de Magneto, e por isso apareceram no mais recente filme dos X-Men. Mas, ao mesmo tempo, também foram Vingadores, e lá estão eles em “Era de Ultron”. O que a Marvel faz? Promove a esculhambação do passado do casal de irmãos, publicando uma história “explicando” que eles não são mutantes, e sim Inumanos ou fruto de experimentos do Alto Evolucionário. Filhos do Magneto? Uma pinoia. Mercúrio perdeu os poderes na “Dinastia M” por ser mutante? Mero “detalhe”.

E não para por aí. Como os personagens mutantes estão sob domínio da Fox, a Marvel resolveu iniciar a fritura dos X-Men e companhia nos quadrinhos. Segundo rumores, a editora vai aproveitar a nova versão de “Guerras secretas” para mandar todos os mutantes para o espaço com o objetivo de minar a concorrência da Fox no cinema, dando preferência aos Inumanos – que já têm filme agendado para 2019.

Pensa que acabou, distinto leitor? Pois saiba que tem mais! O Quarteto Fantástico, também na Fox, terá filme novo em agosto. A solução da Casa das Ideias? Cancelar a revista, dissolver o grupo e colocar seus futuros ex-integrantes em outras equipes. Os leitores de quadrinhos vão chiar? Problema deles, afinal apenas um filme como o dos Vingadores rende dois bilhões de Obamas, muito mais que eles ganham vendendo gibis.

Esta é, definitivamente, a Era da Esculhambação. Ou seria esculhambaçãozis?

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Vidis longuis e prósperis. E obrigadis pelos pêixis.

Júlio Black

Júlio Black

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