Simpatia pelo Demônio, Ano Dois

Por JÚLIO BLACK

15/04/2016 às 07h00 - Atualizada 15/04/2016 às 08h44

Oi, gente.

O segundo ano de séries que tiveram uma primeira temporada arrebatadora sempre é cercado por expectativas imensas, colossais, e nem todas conseguem segurar as pontas. “True detective”, por exemplo teve um segunda temporada ok, mas que foi renegada pela maioria do público porque todo mundo queria Matthew McConaughey e Woody Harrelson de volta. “Heroes”, a série em que todo mundo precisava salvar a cheerleader, já patinava no primeiro ano e foi só piorando a partir de sua segunda jornada na TV. “Lost”, por sua vez, seguiu espetacular com a descoberta do que havia dentro da escotilha e terminou com os portugueses em alguma região polar avisando Penelope Widmore que haviam encontrado o nosso querido “brotha” Desmond – já o terceiro ano…

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Pois bem, toda essa introdução foi necessária para dizer que a season 2 de “Demolidor” (Netflix) tem muito mais a ver com “Lost” do que com “Heroes”, e ainda conseguiu sobreviver à comparação que tanto mal fez a “True detective”. Em bom português: foi ótima, sensacional, espetacular, acachapante, viciante, linda de se ver e recomendar para os amigos. Mesmo com a mudança no showrunner da produção, ela soube se manter fiel ao que funcionou em 2015: roteiro muito bem amarrado, cenas de ação espetaculares, visual soturno, fan service (a palavrinha da moda para a comunidade nerd), fidelidade aos quadrinhos, adaptação na medida do que era necessário, personagens carismáticos e bem desenvolvidos.

Essa parte dos personagens, aliás, foi o que mais me chamou a atenção. A série soube muito bem ir além no desenvolvimento das personalidades e motivações de cada um, obviamente com alguns ganhando mais espaço que outros. Foi bom reparar, também, como a produção soube tratar a relação entre eles, em especial o trio Matt Murdock, Foggy Nelson e Karen Page. Menos presente do trio, Foggy é o cara que sofre por tentar manter sua ética profissional enquanto luta contra o viciado sistema representado pela promotora Reyes e as rachaduras surgidas em sua amizade com Matt Murdock. Não tem como não ser fã do sujeito.

O advogado cego (e seu alter ego vigilante), por sua vez, nunca teve suas convicções tão abaladas à medida em que a temporada se desenrolava, tendo que se dividir entre a fidelidade aos amigos ou ao seu mentor, Stick, a dificuldade em cumprir seus compromissos “civis”, o relacionamento com Karen, a volta de Elektra, o questionamento sobre sua atuação como vigilante e o confronto físico e ideológico com o Justiceiro. Poucas vezes se viu numa série de TV um personagem apresentar tantos conflitos e aspectos a serem explorados, e “Demolidor” soube lidar com isso muito bem.

Apesar de todas essas nuances, Matt Murdock/Demolidor teve dois “oponentes” à altura. Karen Page deixou de ser apenas a secretária que precisava ser salva na maior parte do tempo para se tornar uma figura ativa, com personalidade e um desejo de justiça raramente visto. Em muitos episódios, ela foi responsável por fazer a história andar, ao procurar descobrir a verdade a respeito de fatos obscuros ou mal explicados – em particular, no caso da chacina contra a família do Justiceiro.

E o que dizer de Frank Castle, minha gente? O Justiceiro não chegou apenas para ficar, ele merece ter uma série com a caveira estilizada na logo e tudo mais a que tiver direito. Jon Bernthal mostrou que é um ator de muitos, mas muitos recursos, sabendo dar ao personagem a ferocidade, desespero, raiva, loucura e presença física necessárias, promovendo com o Demolidor alguns dos melhores diálogos vistos em programas do gênero. A transposição para a telinha de arcos dos quadrinhos como “Bem-vindo de volta, Frank”, de Garth Ennis, foram essenciais para conquistarem fãs como A Leitora Mais Crítica da Coluna.

A presença de Elektra acabou sendo ofuscada com tanta coisa boa acontecendo, talvez pelo fato da origem da personagem ter sido a que mais sofreu alterações em relação aos quadrinhos. Todavia, a química entre ela e Matt Murdock funcionou muito bem, e o destino dela ao final da temporada promete fortes emoções para o próximo ano.

Não queremos dar spoilers, mas o segundo ano de “Demolidor” teve, ainda, o retorno de um dos personagens mais populares da primeira temporada, mostrando que a perda da batalha não significou o final da guerra, e algumas citações a “Jessica Jones” (incluindo um crossover) que o ah migo leitor e a ah miga leitora terão que assistir para entender. Em sua segunda temporada, “Demolidor” continua como a melhor série televisiva inspirada nos quadrinhos, e já aguardamos ansiosos a chegada do Ano Três – sem contar que “Luke Cage” vem aí, e o bicho vai pegar.

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Vida longa e próspera. E obrigado pelos peixes, Joey Ramone.

Júlio Black

Júlio Black

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