VHS

Por Júlio Black

12/06/2015 às 07h00 - Atualizada 12/06/2015 às 18h47

Oi, gente.

Não sei quanto a vocês, mas um pedacinho do passado parece ter resolvido me perseguir quando ligo a TV. Tudo começou com a noite em que, trocando de canal freneticamente, deparei-me com um “clássico” dos anos 80: “Ninja III – A dominação”, em que uma guria é possuída pelo espírito de um japa e sai apagando geral, enquanto outro japa caolho tenta salvá-la da maldição. Pena que não botei o filme para gravar. Em outros dias, entro pela madrugada com “Corra que a polícia vem aí 2 e 1/2”, pego o final do clássico “Apertem os cintos… O piloto sumiu” e me deparo com “Cyborg: O dragão do futuro”.

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O que todos esses filmes têm em comum? Foram lançados na virada da década de 1980 para 1990, quando os videocassetes ficaram populares e as videolocadoras podiam ser encontradas em cada esquina. Foi nessa época que, morando na mítica Duque de Caxias, nossa família adquiriu um aparelho (CCE?) de quatro cabeças e foi a uma locadora nas cercanias da Nilo Peçanha para alugar as primeiras de muitas fitas. Não me lembro de todas, mas com certeza “Indiana Jones e a última cruzada” estava no lote. A sensação de não depender da TV ou do cinema para assistir a um filme era incomparável.

Ir à locadora passou a ser um programa semanal, e até hoje me lembro de alguns títulos que povoavam as prateleiras no período. Mickey Rourke aparecia nos trailers de quase todos os filmes com “Barfly”, o inacreditável “O guerreiro de aço” (que eu assisti no Cine Paz!) podia ser alugado, e a galera da pancadaria e tiros era disputada às sextas e sábados. Tinha para todos os gostos: Chuck Norris era Braddock; Steven Seagal era “Difícil de matar”; Stallone e Schwarzenegger eram ícones supremos; Charles Bronson tinha “Desejo de matar” uma, duas, cinco vezes; “Águia de aço” tinha Louis Gossett Jr.; Dolph Lundgren era o He-Man; e Jean-Claude Van Damme era “o cara” em “O grande dragão branco”. Todos os seus filmes de pé-na-kara eram alugados – até mesmo “Retroceder nunca, render-se jamais”, em que ele fazia o mais tosco dos vilões.

E havia as comédias também: o já citado “Corra que a polícia vem aí” e suas continuações, “Os fantasmas se divertem” e a meia dúzia de “Loucademia de polícia” que tanta gente achava a coisa mais engraçada do universo – e que fez muita fita americana nada a ver com a história virar “Loucademia” de alguma coisa no Brasil.

É engraçado como as coisas podem mudar em tão pouco tempo. Pouco mais de 20 anos depois, temos (ainda?) DVDs, salas multiplex, TV por assinatura, filmes on demand e serviços de streaming como o Netflix, sem se esquecer da pirataria física e virtual. As locadoras da minha adolescência e início da fase adulta foram extintas sem dó. Este, aliás, é um dos grandes mistérios locais desde que adotei Juiz de Fora como lar: o que acontece por aqui para a cidade ter tantas locadoras? Em Volta Redonda, por onde morei por mais de 20 anos, é praticamente impossível encontrar alguma.

Em tempo: meu videocassete continua lá em casa, bem guardado.

Vida longa e próspera. E obrigado pelos peixes.

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Júlio Black

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