Os perturbados são os mais evoluídos (ou como ‘Fragmentado’ pira o cabeção)
Oi, gente.
“Fragmentado” está em cartaz há semanas, no limiar de encerrar sua temporada em JF City, mas continua dando pano pra manga. Muito pano. E com muita manga. Não só porque o filme é bom demais, daqueles que você precisa assistir umas 17 vezes para pegar todas as nuances da história, da interpretação do James McAvoy, mas principalmente por tudo que ninguém, mas ninguém mesmo, esperava encontrar no longa do M. Night Shyamalan. Porque “Fragmentado” é um troço que te faz dizer “caraca!” várias vezes durante a exibição e soltar um “AAAAAAAHHHHH!!!” histérico na cena pós-créditos – principalmente se você…
Pausa. A partir de agora vamos comentar spoilers, e spoilers pesados. Por isso, SE VOCÊ AINDA NÃO ASSISTIU A “FRAGMENTADO” E NÃO QUER SABER O FINAL, NÃO LEIA ESTA COLUNA ANTES DE ASSISTIR AO FILME. Porque VAMOS DAR SPOILERS.
Entendeu?
Mas não custa nada reforçar:
ALERTA DE SPOILER.
ALERTA DE SPOILER.
ALERTA. DE. SPOILER.
Continuemos.
“Fragmentado” é um troço que te faz dizer “caraca!” várias vezes durante a exibição e soltar um “AAAAAAAHHHHH!!!” histérico na cena pós-créditos – principalmente quando você percebe que o filme é a continuação de “Corpo fechado” e, por mais que isso pareça coisa sem importância para 94,3% da humanidade, você é um nerd que fica alucinado com qualquer referência besta de histórias interligadas. Como no caso da magrela de “Punho de Ferro” que contratou uma detetive para investigar uns caras e você berra “É a Jessica Jones! É a Jessica Jones!”.
São essas coisas que fazem de “Fragmentado” um filmão da (insira o seu palavrão preferido aqui). Começando pelo filme em si, que mistura no mesmo balaio suspense, thriller psicológico, terror, um plot twist que nem parece um plot twist e que no final você descobre que é continuação de um filme de 17 anos atrás e – por que não? – cria um universo de filme de criaturas com super poderes, um “Shyamalanverse”. Não é pouca coisa, convenhamos.
M. Night Shyamalan acertou na mosca que pousou em nossa sopa – e sem quebrar o prato – ao desenvolver com genialidade a história do sujeito com 23 personalidades diferentes que sequestra três gurias, obviamente aterrorizadas ao perceberem que ele tem 23 parafusos a menos e um objetivo não muito claro na cabeça. E que se torna um cara ainda mais perturbador quando se percebe que uma das personalidades consegue simular um dos outros “eus”. E quando descobrimos que a tal “Fera” alardeada por ele é uma Fera mesmo, com o personagem do McAvoy se transformando numa espécie de super-homem canibal aparentemente indestrutível? Para quem gosta de reclamar que o Shyamalan vive de se apoiar na muleta do plot twist, a revelação no terço final do longa foi uma sambada na cara maior que o Casamento Vermelho de “Game of Thrones”.
E aí vem a danada da cena pós-créditos. Ah migos e ah migas, o que dizer do David Dunn (Bruce Willis), o herói de “Corpo fechado”, aparecendo naquela lanchonete e você percebendo que “Fragmentado” é continuação de um filme considerado “decepcionante” – e ainda por cima lançado há 17 anos? É coisa que faz a gente gritar e querer dar um abraço em quem estivesse ao nosso lado. É de cair o cachorro do caminhão de mudança ficar duas horas no cinema e não perceber que o cara criou uma franquia. É de se perguntar como o Shyamalan conseguiu fazer todo mundo, mas todo mundo mesmo, guardar um segredo desse tipo por tanto tempo: ninguém contar que um filme é continuação do outro, que o Bruce Willis participou do longa… Num tempo em que é preciso colocar nos trailers os plot twists do filme, segurar uma revelação dessas é coisa rara.
Daí você PRECISA ASSISTIR a “Corpo fechado”. E aí você percebe como os lances fazem sentido, como tudo se encaixa, ainda mais quando você descobre que o vilão de “Fragmentado” só não apareceu no primeiro filme porque seria “informação demais”. Que os cartazes dos dois filmes são parecidos e indicam que fazem parte do mesmo universo. Não vamos entregar tudo, mas podemos citar, por exemplo, quando o Sr. Vidro pergunta para o David Dunn se ele não teria escolhido (inconscientemente) trabalhar como segurança por causa dos seus poderes. Não é coincidência, certo?, que o Kevin do James McAvoy trabalhe em um zoológico antes de se tornar a Fera – ou A Horda, como é chamado no final do longa.
E posso estar numa vibe “teoria da conspiração”, mas juro que há uma cena em que você pode ver originais de quadrinhos em que aparecem duas ilustrações muito parecidas com a Fera de “Fragmentado”.
Considero uma bobagem gigantesca esse papo de que o M. Night Shyamalan “voltou à boa forma”, pois “Fragmentado” apenas reforça o talento do cineasta indiano para criar histórias que prendem o espectador. É um filme excepcional e surpreendente por todas as razões citadas, sem contar outras que descobriremos mais além. E estou com uma vontade danada de que esse rapaz lance o mais rápido possível um “Fragmentado 2”, de preferência com David Dunn e Kevin partindo pra porrada.
Os nerds gostam de sonhar alto. E os perturbados são os mais evoluídos.
Vida longa e próspera. E obrigado pelos peixes.