“WandaVision” roubou nossos corações, mas vacilou no final

Por Júlio Black

10/03/2021 às 07h00 - Atualizada 09/03/2021 às 13h41

Oi, gente.

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Acredito que os ah migos e ah migas da coluna, ciosos das carteirinhas de nerd que possuem, já devem ter assistido a “WandaVision”, primeira série do MCU (Universo Cinematográfico Marvel) no Disney+, responsável por um barulho dos infernos desde que foi anunciada e que todo mundo assistiu e comentou – então, se rolar spoiler a partir de agora, é porque confio que vocês fizeram jus à carteirinha.

Não faltou quem apontasse, graças aos trailers, ligações com a HQ do Visão escrita pelo Tom King ou encontrasse indícios de “Dinastia M” ou qualquer outra HQ em que a Feiticeira Escarlate fosse o centro da trama. Mas a verdade é que “WandaVision” seguiu seu próprio caminho, não foi nem uma coisa, nem outra. No máximo, pegou os conceitos do Visão tendo uma vida suburbana, a Wanda Maximoff recriando a realidade, com o objetivo de fazer a roda girar no MCU e assim preparar parte do que teremos nos filmes, em especial o próximo do Doutor Estranho. E, como veredito, podemos dizer que foi uma ótima série (ou seria minissérie, já que não teremos segunda temporada?), mostrando que a Marvel tem grandes e ótimos planos para suas séries no Disney+. Porém, todavia e entretanto, ficou uma sensação estranha ao final.

Vamos lá explicar: até o sexto capítulo, mais ou menos, “WandaVision” parecia uma dessas séries que arriscam em seus formatos, narrativas, conceitos, tal como “Patrulha do Destino” – que tem a vantagem de usar as histórias do Grant Morrison para os quadrinhos – e “Legion”, provavelmente a melhor adaptação das HQs para TV feita até hoje. Todo aquele lance de recriação da realidade como sitcoms de décadas variadas, a metalinguagem, o mistério, o suspense, as vítimas que “saíam do personagem”, a Wanda sendo malvada quando alguém tentava dizer “moça, isso aqui tá muito errado”, a desconfiança do próprio Visão, a turma do FBI e da Espada tentando entender qual fuzuê ela tinha criado…

E aí a série (minissérie?) foi virando uma série de super-herói mais “normal’, com a metalinguagem dando espaço à resolução dos mistérios até chegarmos ao capítulo final, com basicamente ação e porradaria, ainda que as batalhas da Wanda com a Agnes/Agatha Harkness e dos “Visões” tenha sido muito boa, principalmente o duelo verbal-filosófico dos sintozoides. A sensação da “series finale” seria a equivalente a de estar em um restaurante onde é servido primeiro o prato principal, e só depois vieram os pãezinhos e a entrada – que eram boas, claro, mas depois que se comeu o filé e a sobremesa quem vai querer torradinha?

Vem comigo no raciocínio. Se o primeiro episódio de “WandaVision” mostrasse a Wanda chegando na Espada, descobrindo o que fizeram com o Visão e depois indo lá para Westview, pirando e recriando a realidade da cidadezinha, tudo mundo diria “uau, que legal, vamos ver o que rola”. Como eles começaram no estilo “Lost”, cheios dos mistérios, adotar um estilo mais convencional de narrativa nos dois ou três episódios finais quebrou um pouco da magia. Por aqui, pelo menos, e expectativa era de termos um desfecho chocante no estilo “Guerra Infinita”; aí, quando exibiram aquele esquema da heroína enfrentando sua nêmese, foi legal, ok, mas não sensacional; afinal, vimos esse tipo de embate em “Pantera Negra”, “Homem de Ferro”, “Homem-Formiga”…

Mas calma aí, ah migo e ah miga nerd, não tô dizendo que por isso a série foi ruim, “WandaVision” foi bom demais por vários motivos. Todo episódio terminava com geral enlouquecendo para chegar a próxima semana, o roteiro era muito bom, os efeitos especiais foram coisa de cinema, toda a recriação de cenários e figurinos emulando séries como “I love Lucy”, “The Dick Van Dyke Show”, “A Feiticeira”, “Full house”… e a Elizabeth Olsen e o Paul Bettany deram um show como Wanda e Visão, seja encarnando o espírito das séries de TV ou mandando ver nas partes em que a realidade se infiltrava na ficção e o drama ficava pesado.

Tem mais? Com certeza. Já repetimos várias vezes que sabemos que o Kevin Feige não é o bandidão de “La casa de papel” para dizer que planejava fazer tal e tal coisa antes mesmo de “Homem de Ferro” chegar aos cinemas, que tudo é um grande esquema infalível, mas a Marvel sabe muito bem encaixar as peças soltas quando necessário, como as participações da Darcy Lewis e do agente Jimmy Woo. Ao mesmo tempo, vão deixando outras possibilidades: já deram os primeiros passos para a transformação da Monica Rambeau em uma das próximas heroínas do MCU, colocaram a Espada como provável substituta da Shield e a Agatha Harkness com certeza não vai ficar esquecida em Westview.

E isso não é tudo, já diria aquele famoso infomercial. Vamos falar dos momentos que explodiram nossas cabeças. Enfim teremos no MCU aquela Feiticeira Escarlate dos quadrinhos, capaz de fazer até o Thanos pensar duas vezes antes de sair de casa. Todo aquele lance da Agatha dizendo que ela é a mandachuva da Magia do Caos, mais poderosa que o Mago Supremo (Doutor Estranho), a verdadeira Feiticeira Escarlate foi o bicho, principalmente depois que ela faz a bruxa cair na própria armadilha. E fiquem ligados naquele lance da Agatha dizer que foi a Wanda que impediu o foguete das Indústrias Stark de explodir, tanto pode ser a Magia do Caos quanto o poder mutante dando as caras. Outra coisa linda de se ver foi o Visão Branco, fan service para quem leu os Vingadores da Costa Oeste nos anos 80 e que os fãs já especulavam há algum tempo.

Porém, nada explodiu mais nossas cabeças que a chegada do Mercúrio dos filmes dos X-Men no final do quinto episódio. Quando mostraram a fuça do Evan Peters eu soltei um “PQP É O MERCÚRIO DOS FILMES DO X-MEN O MULTIVERSO CHEGOU!!!”. Daí o episódio terminou, eu proferindo todos os palavrões possíveis, e A Leitura Mais Crítica da Coluna disse “me explica”. Aí eu dei uma aula sobre Fox, MCU, X-Men, Multiverso e ela mandou apenas um “tá, tem que ser muito nerd”. E se eu fosse você, você e você, não levaria muita fé na história de que o Mercúrio, na verdade, era aquele Zé Ninguém que apareceu na foto. Esse Pietro Maximoff “fake” não deve ser tão “fake” assim, vamos esperar.

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E o que teremos para o futuro? Bem, ficaremos na dúvida quanto a esse Mercúrio que não seria o Mercúrio, mas, principalmente, o lance é imaginar o que vai acontecer com a Feiticeira Escarlate agora que desbloquearam todos os poderes da personagem, que tava lendo o seu Darkhold em paz na cabaninha quando ouviu os seus filhos imaginários (Célere e Wiccano) gritando por socorro. Aliás, quem esperava por Mefisto provavelmente ouvirá, no futuro, sobre Chthon, mas vamos esperar por “Doutor Estranho no Multiverso da Loucura”. E, claro, fica a pergunta: por onde andará o Visão Branco?

São muitas as perguntas e possibilidades deixadas por “WandaVision”, que por fim cumpriu aquilo que se esperava dela: uma ótima história – ainda que perdendo o ritmo no final – e novas possibilidades para o MCU.

Vida longa e próspera. E obrigado pelos peixes.

(Aproveite para alterar suas probabilidades musicais e siga a playlist da coluna. Tem no Spotify e Deezer.)

Júlio Black

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