O rock sumiu das rádios; e o rádio, sumiu da sua vida?

Por JÚLIO BLACK

08/01/2016 às 07h00 - Atualizada 08/01/2016 às 08h02

Oi, gente.

A moda desta semana – acho – foi o tal meme “diferentão”, mas o que me chamou a atenção – e de diversos amigos também – foi a lista da Crowley com as músicas mais tocadas nas rádios de nosso patropi em 2015. E aí foi um Crom nos acuda para muita gente, pois o rock nacional ficou de fora da lista pela primeira vez desde que a pesquisa teve início em solo verde e amarelo, no ano 2000. Por outro lado, o que é chamado de sertanejo no século XXI ficou com 75 das 100 primeiras posições, graças a suas músicas que falam de festas, porres, pegação, dor de cotovelo, pulada de cerca e suas variações, com nomes alienígenas ao meu cotidiano como Jad e Jadson (mas que criativo!), Henrique e Diego, Lucas Lucco (só eu que achei bizarro?) e o onipresente Wesley Safadão (nome genial, música que nem prefiro comentar).

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Pelo que se leu na internet, parecia o prenúncio do Apocalipse Roqueiro, como se o ritmo musical sexagenário tivesse sido inesperadamente degolado feito um Stark de “Game of thrones”; afinal, se rock não toca em rádio é porque ninguém mais se importaria com guitarras. Mas vamos ser sinceros: será que existe motivo para toda essa gritaria? O rádio como conhecemos ainda é relevante musicalmente como há 30 anos, no estouro do BRock?

A resposta, infelizmente – ou felizmente, dependendo da emissora -, é: provavelmente não, pois os tempos são outros. Antigamente, mesmo com a existência da TV, quem monopolizava a execução de músicas eram as emissoras em AM e FM – principalmente a última -, então a execução radiofônica era quase uma garantia se tornar conhecido e fazer sucesso, com a dobradinha música na novela da Globo-playback no programa do Chacrinha/”Globo de Ouro”. E o sucesso, geralmente, vinha acompanhado pela venda de seus álbuns, fossem em vinil ou CD. Só que as vendas de compact discs continuam em queda constante, e ter música tocando no dial dificilmente vai mudar isso.

O artista, atualmente, ganha parte considerável do seu pão fazendo shows, e aí entra a questão da fidelidade do público – algo que o rock costuma ter de sobra, basta notar a galera que foi aos shows do Metallica, Bruce Springsteen, Morrissey, Muse e System of a Down nos últimos anos, mesmo que eles sejam verdadeiros fantasmas no dial das emissoras comerciais. Quantos artistas de axé, funk, pagode paulista e sertanejo, nos últimos dez ou 15 anos, sumiram do mapa por serem apenas uma nuvem musical passageira?

Além disso, hoje não dependemos somente das rádios para conhecermos coisas novas. Celulares acumulam gigabytes de álbuns; a internet está aí, com suas redes sociais, serviços de streaming, Facebook, lojas virtuais, sites corsários que podem ser acessados em PCs, tablets, smartphones, notebooks, até mesmo nos aparelhos de som dos carros. O artista não depende mais de gravadoras para produzir, divulgar e vender sua obra, gente como Arctic Monkeys e A Banda Mais Bonita da Cidade (lembra?) tornaram-se conhecidos trabalhando por conta própria, e as emissoras só vão conhecer os sujeitos, muitas vezes, depois que já estouraram – e ainda é preciso que não sofram de miopia auditiva. Não existe, por parte da maioria das rádios brasileiras, aposta no que é novo. Ao mesmo tempo, sempre há milhares de rádios around the world para se ouvir e fugir do jabá – tipo a BBC, que toca de Dead Kennedys a David Bowie e Tame Impala.

Ainda temos boas emissoras, claro, que tocam pop, rock, MPB, música clássica, inclusive em nossa JF City. Mas a grande maioria ainda acredita na sobrevivência do “jabá” (pagou, tocou), está nas mãos de empresários que acreditam que o ouvinte só gosta do que é massificado, descartável e pasteurizado (se é bom ou ruim fica a critério de cada um) ou tem a programação feita por criaturas que só sabem copiar o que toca nas capitais. É uma gente nada humilde que, infelizmente, ainda vive no passado, correndo o risco de ser atropelada a qualquer momento pelo futuro.

A verdade é que os artistas, hoje, não precisam se adaptar às rádios; as rádios é que precisam se adaptar aos novos tempos.

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Vida longa e próspera. E obrigado pelos peixes.

Júlio Black

Júlio Black

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