‘The Boys’ só melhora com o tempo

Por Júlio Black

03/08/2022 às 07h00 - Atualizada 02/08/2022 às 14h08

Oi, gente.

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“The Boys”, série do Prime Video que adapta a HQ de Garth Ennis e Darick Robertson, conseguiu o que é difícil, mas muito difícil mesmo, quando falamos de seriados: não apenas manter o nível, mas (provavelmente) fazer uma terceira temporada ainda melhor que as anteriores. Desde o início, aliás, a produção poderia ter escolhido o caminho fácil de fazer apenas uma sátira violenta e iconoclasta de histórias de super-heróis, o que talvez cansasse o público em pouco tempo; porém, ainda bem que escolheram o caminho mais difícil, que envolve desenvolver os personagens e as relações entre eles, tratar de temas sérios e contemporâneos, construir uma trama que se expande e se conecta nos momentos certos.

(Claro que as cenas de violência gráfica chocante, grotescas, perturbadoras, continuam lá, mas elas são parte importante da história, e não são esfregadas na telinha apenas para satisfazer o fetichismo de alguns por violência ou para agradar a quem curte o gore pelo gore. Se o Capitão Pátria explode uma cabeça, se braços e olhos são arrancados, tripas acabam expostas ou nos deparamos com um pênis de cinco metros de comprimento ou em chamas, acredite: há uma razão para estarem ali.)

O terceiro ano de “The Boys” segue a apresentar e criticar temas como assédio, racismo, o culto à celebridade, a política norte-americana, as fake news, o abuso de poder e a certeza da impunidade daqueles que se sentem acima dos limites éticos e morais. Mas tem mais, e que podemos ver como os principais temas dessa temporada: a masculinidade tóxica e a fragilidade masculina.

E ninguém representa melhor esses dois tópicos que o Capitão Pátria (Antony Star, absolutamente fantástico): frustrado, surtado, arrogante, sentindo-se acuado, o grande vilão da série expõe toda sua fragilidade, egolatria, prepotência, arrogância e sociopatia ao testar quais limites pode ultrapassar. Ele mata, trucida, toma o controle da Vought, ameaça matar milhões de pessoas, é temido e idolatrado; ao mesmo tempo, percebe que ainda não recebeu tudo o que acredita merecer, e isso faz toda a diferença quando aparece na TV falando tudo o que pensa, ou quando é aplaudido mesmo quando comete um assassinato em plena luz do dia, à frente de todos.

Outros dois machos-alfas que também representam esse dilema são a nova adição a “The Boys”, o Soldier Boy (Jensen Ackles) e Butcher (Karl Urban. O primeiro – um equivalente ao Capitão América – é um super-herói surgido nos anos 40, durante a Segunda Guerra Mundial e dado como morto por cerca de 40 anos. Ele representa a visão ultraconservadora dos Estados Unidos, o tipo da cara que certamente votaria em Donald Trump; Butcher, por sua vez, tem de lidar com o sentimento de impotência, a relação complicada com Ryan (Cameron Crovetti), o filho do Capitão Pátria com a sua esposa Becca (Shantel VanSanten), que pediu a ele que cuidasse do garoto. São essas questões que fazem com que ele, disposto a acabar de uma vez por todas com o Capitão Pátria, resolva experimentar uma variante do Composto V, que é a origem dos poderes dos super-humanos.

É esse sentimento de fragilidade que também faz com que Hughie (Jack Quaid) – que se sente como o cara que precisa ser protegido o todo tempo por Luz-Estrela (Erin Moriarty) – tome o Composto V e se sinta, enfim, invencível. “The Boys” ainda encontra tempo para explorar as fragilidades e o passado do Francês (Tome Capone), além da sua relação com Kimiko (Karen Fukuhara). Também há espaço para entendermos melhor as motivações e os traumas de Leitinho da Mamãe (Laz Alonso). A terceira temporada ainda consegue tempo para personagens como Trem-Bala (Jessie T. Ucher), Maeve (Dominique McElligott), Profundo (Chace Crawford), Black Noir (Nathan Mitchell) e até mesmo a surtadíssima Ashley Barrett (Colby Minifie).

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“The Boys” encarou o desafio de abordar novos temas na terceira temporada, além de aprofundar o desenvolvimento dos personagens, embarcar em novas tramas e lidar com eventos de grande impacto. E conseguiu se sair bem com um roteiro muito amarradinho, momentos e episódios memoráveis e uma senhora expectativa deixada para a quarta temporada. Foram episódios tão bons que o “Herogasm” (a suruba anual de super-heróis) foi quase café com leite nesse terceiro ano de loucuras, mortes, perversões, porradaria, sangue, desmembramentos, pessoas e cabeças que explodiram, drama, suspense, reviravoltas, o diabo a quatro.

Vida longa e próspera. E obrigado pelos peixes.

Júlio Black

Júlio Black

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