Novos trens musicais para ouvir nas férias
Oi, gente.
A última coluna antes das férias é dedicada a alguns dos novos álbuns que ouvimos com maior ou menor intensidade nas últimas semanas, com uma seleção bem variada. Temos um dos nossos preferidos dos últimos anos, o The National; os veteranos Bruce Springsteen e Morrissey, o primeiro com um trabalho calcado no folk-pop e o segundo apostando num disco de versões; e ainda conferimos os retornos das gurias do L7 e dos topetudos do Stray Cats.
É o que temos para o momento, mas retornamos com baterias recarregadas em agosto, o mês do cachorro com sérios problemas psiquiátricos.
Vida longa e próspera. E obrigado pelos peixes.
THE NATIONAL, “I am easy to find”
O oitavo álbum do grupo de Cincinnati, Ohio, é dessas coisas lindas de ouvir do início ao fim. As 16 faixas do sucessor de “Sleep well beast” (2017) são melodicamente mais leves e melancólicas que o trabalho anterior, mantendo a aproximação da banda com os sons eletrônicos e algumas participações especiais que dão um colorido diferente ao disco.
Com temas menos políticos, as músicas seguem com aquelas letras maravilhosas do vocalista Matt Berninger sobre amor e dor (ah, riminha safada), relacionamentos, conflitos sentimentais, distanciamento, separações… Destaques? “You had your soul with you”, “Rylan”, “Light Years”, “Hairpin turns”, “Quiet light”, “The pull of you” e “Dust swirls in strange light”. Mas dá para ouvir os 63 minutos do álbum do início ao fim, sem cansar, e depois partir para o curta-metragem dirigido por Mike Mills a partir de algumas canções de “I am easy to find”, estrelado pela atriz Alicia Vikander.
L7, “Scatter the Rats”
Apesar de ser uma banda punk em suas origens, o L7 passou a transitar pela segunda divisão do grunge lá pelo início dos anos 90, o que deu ao grupo alguma notoriedade. A equação Seattle + o hit “Pretend we’re dead”, turbinado pelo videoclipe na hoje quase defunta MTV, fez com que o quarteto, inclusive, tivesse seus fãs no Brasil e se apresentasse no finado Hollywood Rock. Mas o tempo passou, o L7 foi sumindo, sumindo, até encerrar as atividades em 2001, voltar em 2014 e só agora lançar o seu sétimo álbum de estúdio.
Musicalmente falando, “Scatter the Rats” parece ter sido gravado nos anos 90, preservado em âmbar, enterrado num terreno baldio e recuperado por algum arqueologista sonoro do século XX. O que não quer dizer que o disco seja ruim, muito pelo contrário: dá para agradar tanto aos saudosistas do grunge quanto à turma que começa a se aventurar agora pelos bons sons. É aquela boa e velha mistura do grunge, com guitarras pesadas, apelo pop, algumas faixas mais lentas, letras feministas, políticas e engajadas.
Não é nada revolucionário como há 25 anos atrás, mas músicas como “Proto Prototype”, “Baby burn”, “Garbage truck”, “Stadium west” e a faixa-título não deixam gosto de coisa velha em nossos ouvidos.
BRUCE SPRINGSTEEN, “Western stars”
O novo álbum do ídolo da Dona Sônia, que nos salva todo dia com seu café no esquema, é o primeiro trabalho de inéditas desde “Wrecking ball”, de 2012, e desta vez “The Boss” abriu mão dos parceiros da E-Street Band para entregar ao mundo um disco imperdível, deixando a guitarra de lado para se dedicar a uma mistura de folk e pop que nos leva facilmente até os anos 70. Para quem duvida, o próprio Springsteen declarou em entrevista que entre as influências do álbum estão Glen Campbell e Burt Bacharach.
“Western stars”, talvez pelas influências musicais, deixa situações e personagens mais obscuros, pessimistas, para apostar em letras sobre mudança, transformação, uma nova chance, em meio a paisagens que Bruce Springsteen consegue nos fazer imaginar pór meio das melodias. Músicas como a faixa-título, “Hitch Hikin'”, “Chasin’ wild horses”, “Tucson train” e “The wayfarer” mostram que “The Boss”, à beira do 70º aniversário, ainda continua como um dos titãs da música americana.
MORRISSEY, “California son”
Os últimos meses não estão sendo nada fáceis para Morrissey, e a verdade é que a culpa é toda dele. As mais recentes declarações do ex-Smiths têm provocado polêmica pelo teor racista e xenófobo, incluindo ainda posições lamentáveis sobre o Brexit, União Europeia, anti-imigração e quase tudo possa ser considerado absurdo, enfim.
Para piorar, o lançamento de “California son” quase nada acrescenta à carreira do mancuniano. Conhecido por já ter lançado versões isoladas e inspiradas de músicas como “Moonriver” e “Back on the chain gang”, pela primeira vez o cantor lança um álbum de covers, apresentando releituras para canções dos anos 60 e 70 de Carly Simon, Roy Orbison, Jobriath, Joni Mitchell e Bob Dylan, entre outros, com um resultado no mínimo irregular. Mas a verdade é que, assim como o “Tidal album” do Weezer, “California son” é desnecessário em sua essência.
Há bons momentos, claro, como “Morning Starship”, “When you close your eyes”, a balada “It’s over” e no desavergonhado clima kitsch de “Lady Willpower”, mas Morrissey também erra e feio nas versões de “Only a paw in their game”, “Lenny’s tune”, “Some say I got Devil” e “Wedding bell blues”, neste caso acompanhado por Billie Joe Armstrong, do Green Day.
STRAY CATS, “40”
Entre separações e reuniões, turnês comemorativas, álbuns ao vivo e de covers, o Stray Cats passou quase 30 anos sem lançar material inédito. “40” é o primeiro trabalho desde “Choo Choo Hot Fish”, de 1992, com novas canções criadas pelo grupo formado há quatro décadas por Brian Setzer, Slim Jim Phantom e Lee Rocker. Para quem gosta de rockabilly, não há o que reclamar.
É rock dos anos 50 e 60 em sua essência, com todos aqueles riffs e batidas e grooves gostosos de se ouvir, bom para colocar a galera para dançar em músicas como “Cat Fight (Over a dog like me)”, “I’ve got love If you want it”, “Mean Pickin’ Mama” e “Rock it off”. Mas nem só do rockabilly vive o homem, e “40” abre espaço ainda para a surf music em “Desperado” e “I attract trouble”. Então aproveite que o inverno no Brasil é quase tropical para curtir uns roques ensolarados em casa, na estrada, até mesmo no churrasco.