O que esperar para 2021?

Por Rafael Teixeira e Victor Chiaratti

05/01/2021 às 07h00 - Atualizada 04/01/2021 às 22h26

O ano de 2020 foi um ano incomum que necessitou da utilização de diversos, e novos, instrumentos para minimizar os problemas surgidos em razão da pandemia. Essas variações puderam ser vistas nos mais diversos âmbitos da política monetária, desde o
grande ciclo de cortes da taxa básica de juros, Selic, até os programas de ampliação do crédito e transferência de renda, com destaque para o auxílio emergencial e a redução de alguns impostos, que visam a estimular a atividade econômica e/ou conter a subida de
preços.

Ao falarmos de uma taxa Selic que encerrou o ano em seu menor patamar desde o início do Plano Real, atingindo 2% ao ano (a.a.), torna-se claro o objetivo de incentivar a realização de novos investimentos – um dos componentes do Produto Interno Bruto (PIB)
brasileiro – evitando assim uma perda ainda maior da renda agregada nacional.

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Para se ter uma ideia, as projeções chegaram a apontar uma possível queda do PIB na ordem de 6,51% em meados de junho, alcançando 4,4% ao final de 2020. Já para 2021, as expectativas de inflação (3,34% a.a.) e da taxa Selic (3,13% a.a.) estão próximas, fazendo com que a taxa real – resultante do valor da Selic descontada a inflação – fique próxima a zero, segundo o Relatório Focus em 24 de dezembro. Essa elevação da taxa Selic ainda continuaria a manter os estímulos adotados pelo Comitê de Política Monetária (Copom) em 2020, ou seja, continuaria a estimular a concessão de crédito e o investimento.

Junto aos diversos problemas decorrentes da pandemia, o país também passou ao longo de 2020 por instabilidades no comportamento inflacionário como reflexo das movimentações na atividade econômica, ambiente internacional e estímulos adotados. A retração no consumo levou a uma deflação de 0,38% em maio, enquanto a recuperação desigual entre os setores da economia estimulou aumentos de preços consecutivos, sobretudo no ramo alimentício. As expectativas apontam para um IPCA de 1,23% em dezembro, alcançando 4,39% neste ano, segundo o Relatório Focus. Ajustes fiscais, no entanto, fazem com que as expectativas apontem para um IPCA de 3,4% ao final de 2021, reduzindo o peso que o índice tem no bolso do brasileiro, que sofreu ao longo de 2020 um aumento de custos somado à redução de sua renda.

Já com relação ao programa do auxílio emergencial, o governo chegou a transferir R$ 293,79 bilhões para as pessoas em situação de vulnerabilidade social em decorrência da pandemia. No somatório de diversos programas sociais, segundo o Ministério da Cidadania, houve a diminuição da extrema pobreza em 80%, e o aumento da rede de proteção social, totalizando R$ 365 bilhões investidos nas políticas sociais. Até o momento, o também chamado coronavoucher não foi prorrogado, porém algumas medidas foram mantidas, como a redução total do imposto de importação das mercadorias utilizadas para o combate da Covid-19, que foi prorrogada até 30 de junho de 2021.

A melhora no cenário externo proporcionada pela eleição presidencial nos EUA e a descoberta das vacinas contra o Covid-19 fazem com que 2020 levem consigo as principais incertezas geradas pelo advento da pandemia, enquanto as promessas de reformas no âmbito fiscal deixam o mercado levemente otimista sobre a economia brasileira para o ano de 2021. Vale ressaltar, no entanto, que somente a vacinação do povo brasileiro e o equilíbrio das contas nacionais serão capazes de guiar o país para a normalidade econômica em sua trajetória de crescimento de longo prazo.

 

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