Menos foices e martelos, mais mentes brilhantes

Por Conjuntura e Mercado

04/10/2016 às 07h00 - Atualizada 04/10/2016 às 09h04

Ao contrário de séculos atrás, quando a grande força das economias vinha do estoque de metais, especiarias e produtos agrícolas mantido por elas, o mercado mundial que conhecemos atualmente é bem mais complexo e dinâmico. Desde a Revolução Industrial ocorrida a partir do século XVIII, o que move as economias e gera bem-estar nas potências mundiais atuais são as inovações. Gênios como Henry Ford, Bill Gates e Steve Jobs fundaram empresas que estão no topo, em termos de valor de mercado, há anos. Seus feitos são fruto tanto do talento desses gênios como de importantes medidas tomadas pelas empresas e países no quesito inovação.

Em reunião do grupo dos 20 países mais ricos do mundo (G20), ocorrida nos dias 4 e 5 de setembro, a inovação foi o tema discutido. O objetivo era incitar os países a adotarem posturas mais inovadoras de modo a dinamizar o crescimento da economia mundial, ainda inerte frente às clássicas medidas monetárias e fiscais de estímulo econômico adotadas recentemente. De acordo com o presidente da China, Xi Jinping, em declaração dada à imprensa no final da reunião, a inovação deve ser o caminho a garantir paz e prosperidade às nações. A aposta do G20 consiste em dar mais peso à ciência e a tecnologia, promovendo a “quarta revolução industrial” e estimulando ainda mais a economia digital.

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Para tal, um dos motores é o investimento pelas empresas em P&D (Pesquisa e Desenvolvimento). De acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em 2013, os países que mais investiram em P&D (em percentual de seu PIB) foram Israel (4,2%), Finlândia (3,6%), Coréia do Sul (3,6%), Japão (3,4%) e Suécia (3,4%). O Brasil, com 1,3% de investimento, aparece em 36º lugar. De acordo com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Informação, cerca de 53% deste investimento foi despendido pelo Estado, ao contrário do que ocorre nas grandes potências. Nos EUA, por exemplo, 66% desse investimento é aportado por empresas privadas; na Coréia do Sul, 73%, e, na China, 75%. A enorme dependência do Estado no quesito investimento em P&D faz com que, em momentos de crise, o Brasil seja obrigado a cortar investimentos importantes, que garantiriam competitividade às suas empresas justamente quando tal competitividade se faz mais necessária. Em momentos assim, os investimentos privados e os incentivos governamentais às empresas são fundamentais. Um exemplo desses incentivos é a ‘Lei do Bem’, que prevê desde descontos no IPI na compra de equipamentos destinados à inovação até a dedução de IRPJ por vezes superior aos valores investidos.

Tais iniciativas, no entanto, ainda são insuficientes. Em um ranking mundial elaborado pela União Europeia em 2013, das 2.000 empresas que mais investiram em P&D, apenas oito eram brasileiras. A Vale era a empresa brasileira mais bem ranqueada, ocupando a 98ª posição. A segunda empresa brasileira melhor posicionada era a Petrobrás, na 118ª posição, seguida da Embraer na 391ª posição. O ranking ainda contava com a presença da TOTVS, CPFL, Weg, Braskem e Itautec, todas abaixo da milésima posição. Com tais resultados, não surpreende que o valor de mercado de todas as 276 empresas brasileiras de capital aberto listadas na BM&F/Bovespa equivalha ao de apenas duas empresas americanas: Apple e IBM somam US$ 731 bilhões de valor de mercado, contra US$ 715 bilhões de toda a bolsa brasileira.

Nesse quesito, o caminho a ser trilhado para sairmos da “armadilha da renda média” é longo, sendo necessários investimentos permanentes em tecnologia e, principalmente, em educação de qualidade. Mais mentes brilhantes e criatividade são o pavimento que nos levará, com menos solavancos, até o futuro.

 

Por Fernanda Finotti Cordeiro Perobelli, Idala Carolina, Kamilla Menezes, Bruno Perry e Vinícius Versiani. Email para cmcjr.ufjf@gmail.com.

 

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Regina Campos

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