Iniciando o crescimento sustentado
Por Wilson Rotatori, Vinícius Nardy, João Victor Rezende, ísis Lira e Luís Filipe Massei
O segundo trimestre deste ano trouxe um alento para os brasileiros. Em comparação com o mesmo período do ano anterior, o Produto Interno Bruto exibiu um crescimento de 0,3%. Em relação aos três primeiros meses de 2017, o PIB apresentou novamente números positivos, agora com uma elevação de 0,2%. Nesta comparação, o setor agropecuário, que tinha sido o principal determinante para o resultado positivo de 1% no PIB no primeiro trimestre, apresentou variação nula no último período. Enquanto isso, a indústria demonstrou leve queda, de 0,5%, e o setor de serviços cresceu 0,6%.
Embora os números não pareçam empolgantes, eles trazem uma informação importante quando olhamos o resultado pela ótica dos gastos observados na economia. Nota-se que o grande impulsionador do “bom” resultado do PIB foi o Consumo das Famílias, que, na comparação trimestre/trimestre anterior, elevou-se 1,4% e, contra o mesmo período de 2016, 0,7%. Explica-se tal fato pelo início da recuperação dos empregos (eram 14,17 milhões de desocupados no início do ano, contra 13,46 milhões agora), redução nos juros (a meta para Taxa Selic, que iniciou o ano em 13% a.a., atingiu 8,25% a.a. na última reunião do Copom) e desaceleração da inflação (o IPCA acumula alta de apenas 2,46% em 12 meses).
Porém, definitivamente, ainda não há recuperação nos investimentos para o aumento da capacidade produtiva. Na comparação trimestre/trimestre anterior, houve queda de 0,7% na Formação Bruta de Capital Fixo. Em paralelo com o mesmo período de 2016, diminuição ainda maior: 6,5%. Nas indústrias, por exemplo, ainda há enorme capacidade ociosa, o que dificulta investimentos no setor. O consumo governamental está a cada trimestre perdendo seu espaço.
Quando comparado com o primeiro trimestre deste ano, houve redução de 0,9% e, em relação ao segundo trimestre de 2016, de 2,4%. O ambiente de sucessivos cortes de gastos devido à crítica situação fiscal (onde a previsão de déficit é da ordem de R$159 milhões) explica esses números.
E o que podemos ressaltar da dança dos números mostrada acima? Há dois pontos primordiais: a retomada, ainda que tímida, do consumo das famílias e o resultado decepcionante dos investimentos. No que diz respeito ao primeiro, cabe destaque a demanda crescente das famílias por bens de consumo. Isso sinaliza um alento para a produção industrial, que apresentou queda no período analisado, mas deve começar uma recuperação a reboque do aumento do consumo. Já no que tange ao investimento, o problema é mais sério. Os números decepcionantes podem ser atribuídos, em parte, ao cenário de incerteza política que arrebata o país e, em certa medida, ao quadro econômico geral, onde a inflação baixa demonstra uma demanda ainda enfraquecida (mesmo que o consumo familiar esteja subindo). Essa combinação atua como um fator desestimulante para a ampliação da capacidade produtiva.
Como pode ser percebido, um fator atua na contramão do outro. Contudo, a expectativa é de que o efeito da elevação do consumo se sobreponha aos entraves do investimento. Sendo assim, o consumo pode tornar-se um ponto de partida para que a economia brasileira volte aos trilhos do crescimento sustentado, ou seja, vindo do setor privado – pelas famílias primeiro e, depois, pelas empresas.
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