Ando mesmo descontente


Por Gabriel Ferreira Borges

19/03/2019 às 07h10- Atualizada 19/03/2019 às 10h03

Das mais plásticas seleções de todos os tempos, o escrete de 1970, assumido por Mário Jorge Lobo Zagallo meses antes da Copa do Mundo do México, era comandado pelo comunista João Saldanha à época do AI-5. Dentre algumas viagens internacionais para excursões, Saldanha, como testemunhara o filho – também João -, levava documentos para denunciar à imprensa a violação de direitos humanos empreendida pela ditadura militar. Em 1969, Saldanha perdeu o amigo Carlos Marighella; em 1970, o comando técnico da Seleção Brasileira. Zagallo, então, assumiu. Posteriormente campeão, foi, junto a Pelé, Tostão, Jairzinho, Paulo Cézar Caju e cia., peça de propaganda dos anos de chumbo.

À época presidente da velha Confederação Brasileira de Desportos (CBD), João Havelange a deixou em 1974. Conheceria, em pouco tempo, o sanguinário Jorge Rafael Videla, com quem conviveria durante a Copa do Mundo de 1978, na Argentina. No jogo derradeiro, Videla entregara a taça a Daniel Passarella, compatriota e capitão da Seleção Argentina. Havelange pouco se incomodaria com as vidas argentinas tiradas pelo ditador. O avante Reinaldo, entretanto, na mesma Copa, comemorara um gol com o punho em riste. Negro, Reinaldo, inspirado no movimento dos Panteras Negras (EUA), criticara diretamente as ditaduras sul-americanas. A CBD era então comandada pelo general almirante Heleno de Barros Nunes.

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Disseram, certa vez, que política e futebol não se misturam. Como se a política se resumisse às instituições e aos seus respectivos protagonistas. Como se o futebol fosse entretenimento barato; produto bem desenhado de uma indústria bilionária. Caíram no conto do vigário, pois. Haverá, semanalmente, nesta coluna, uma luta a ser travada; um curso pelo esporte por suas vias culturais e históricas e, por consequência, políticas. Pelo futebol, sobretudo. Não há expressão sem que haja cultura. À medida do possível, dentro das alternativas dos meus poucos anos dados pela vida. Incisivo, sempre, porém. A palo seco, como sugeriu Carolina, companheira. Pois ando mesmo descontente.

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