Spinners viram febre entre os jovens

Psicólogo alerta para discurso comercial, e Inmetro indica brinquedo apenas para maiores de 6 anos


Por Matheus Policarpo

30/07/2017 às 04h00

 

Matheus Policarpo estudante colaborar sob a supervisão da editora Carla da Hora
(Foto: Leonardo Costa)

Ioiô, tamagotchi, geloucos, pega-vareta e outros brinquedos já disputaram o brilho dos olhos de muitas crianças, adolescentes e até adultos nas duas últimas décadas. Lembram-se dos tazos? E dos autoramas? Agora, a mais nova sensação (mundial) é o fidget spinner – ou hand spinner, um brinquedo que gira ininterruptamente por alguns minutos. Na China, uma indústria localizada no município de Yimu atingiu o número de 80 mil unidades fabricadas por dia em abril deste ano. No Parque Halfeld, coração de Juiz de Fora, os caçadores de Pókemon Go já dividem espaço com usuários de spinner que equilibram o objeto na ponta dos dedos da mão ou do pé, e alguns na cabeça, nariz e até na língua. O ritmo de giro das hélices, possível graças ao sistema interno de rolamento (igual às rodinhas de skate, a ABEC), varia de acordo com a classificação (de 1 a 15), imprimindo maior precisão e velocidade.

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Na cidade, o spinner entrou na rotina de crianças e adolescentes. Sophia Ferreira, 13 anos, aderiu ao brinquedo há cerca de três meses. Sua mãe, Joana Ferreira, comemora as mudanças de comportamento da menina, que tem cinco peças do brinquedo. “Ela está participando mais, está mais interativa. Tem sido muito bom para ela, pois antes desse spinner ela brincava muito no celular, mas agora com esse brinquedo acho que está ajudando, ela se desligou do aparelho. Até eu gostei, porque tem vários tipos, e o fato de ele ficar girando me entreteu”, conta Joana. Entre as manobras, Sophia já consegue o impulso para trocar o objeto de mão enquanto ele gira. “Isso distrai e você pode brincar e fazer várias coisas com ele”, afirma.
Já Francisco Bara, 12, utiliza a própria diversão para lucrar. Além de se divertir com os minutos de rotação e manobras com o amigo Nickolas Brandão, 12, ele decidiu construir sua própria peça e comercializá-la, vendendo cada unidade por R$ 15. “Aprendi pesquisando no YouTube várias formas de fazer. É bem diferente dos brinquedos que já tive”, conta Francisco. Para fazer a peça, o garoto juntou braçadeiras de plástico de 15cm e quatro rolamentos de skate.

Há quatro meses brincando com os spinners, João Vitor Passarella, 14 anos, leva o seu para qualquer lugar por ser pequeno. “É legal, a gente relaxa. Tenho três. Um é de Led, com três cores, verde, azul e o colorido. Meus pais gostaram, porque, a primeira vez que eles compraram para mim, eu fiquei a noite inteira sem mexer no celular, daí eles adoraram a ideia”, conta João Vitor. Apesar disso, a mãe, Mônica Passarella, lembra dos cuidados que se deve ter com a peça, que é alvo de investigações do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) desde o mês passado devido aos acidentes provocados pelo brinquedo em outros países. “Ele brinca bastante, mas não deixa de fazer nada por conta disso. Mostrei fotos de acidentes e oriento para ele ter total cuidado.” O Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) alerta que o brinquedo não é indicado para crianças menores de seis anos.

Psicólogo alerta que apelo comercial não deve gerar expectativa

Em entrevista à Tribuna, o psicólogo Paulo Bonfatti diz desconhecer a ação do brinquedo como instrumento terapêutico para crianças com déficit de atenção, como sugerido por fabricantes, que definem o gadget como perfeito para “matar o tempo e aliviar o estresse, ansiedade e tédio”, sendo “também eficaz para o foco e pensamento profundo”. “É complicado atribuir ao brinquedo essa eficácia que substituiria anos de pesquisa. Cria expectativa para os pais. Acredito que seja uma fala mais comercial, pois não há evidência ou estudo. No ato de brincar existe uma experiência sensorial. A pessoa se fixa naquilo, mas não significa que seja um tratamento. Vivemos em um momento onde as tecnologias estão dificultando o contato social, a atividade física, o brincar, o desenvolvimento motor e neuropsicológico. Um brinquedo que não viabiliza algo eletrônico é interessante, mas não uma panaceia para resolver os problemas”, explica. De acordo com Paulo, é importante a presença dos pais neste momento de novas invenções. “Temos que estar atentos aos nossos filhos, isso é o mais importante. Estamos em uma sociedade muito rápida e consumista, às vezes a gente quer acreditar que algo vai se resolver sem a nossa participação, porém nada vai substituir os pais e o contato com as escolas”, destaca.

Passado

O spinner surgiu no início dos anos 1990, mas não se popularizou. Invenção da norte-americana Catherine Hettinger, o brinquedo parou de ser produzido na época por falta de recursos. Agora, o brinquedo voltou com uma gama de variações, com materiais como aço, titânio, cobre e até luzes de Led.

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