Criança raiz


Por Juliana Netto

07/10/2021 às 07h00

Muita gente, assim como eu, deve estar na expectativa pelo feriado de 12 de outubro, dia de Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil. Também Dia das Crianças. Confesso que por aqui a ansiedade pela oportunidade de folga prolongada já vem desde domingo à noite, naquelas últimas horinhas de descanso. E naquele domingo, dia em que acompanhei partes da decisão do terceiro lugar da Copa do Mundo Fifa de Futsal, entre Brasil e Cazaquistão – vencida por 4 a 2 pelos brasileiros, de virada – comecei a pensar no texto desta coluna.

Por pouco acompanhar o futsal atualmente, senti certa dificuldade em reconhecer o rosto dos novos jogadores canarinhos. Em alguns lances bateu aquela certa comparação com a modalidade do passado, de Falcão e Manoel Tobias, época em que a seleção brasileira impunha total respeito.

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Pois bem! Na mesma semana em que Instagram, WhatsApp e Facebook saíram do ar, deixando empresas, profissionais de vários segmentos de mercado e a população em geral desorientada, acabo fazendo um apanhado de tudo isso. Será que nossa perda de notoriedade nos esportes coletivos não estaria relacionada a questões tecnológicas e também na forma como as crianças têm vivido suas infâncias?

Thierry Henry, em entrevista após a eliminação da seleção verde-amarela para a França na Copa de 2006, disse que a diferença entre um jovem francês e um nascido no Brasil era a de que o brasileiro passava o dia na rua lapidando sua técnica. Algo que não era a realidade dos franceses, que precisavam ir à escola. Em uma época em que ainda não existia redes sociais, a declaração do craque francês, ainda assim, gerou polêmica por alguns a enxergarem como estereotipada e preconceituosa.

Sem entrar no julgamento do mérito, caso venha ao Brasil, Henry já não verá muita molecada na rua. Afinal, ralar a ponta dos dedos no asfalto chutando bola dura, marcar golzinhos com chinelo de dedo, montar rede de vôlei nos postes de energia, fazer cestas de basquete com saco de laranjas, etc. virou raridade também aqui em solo tupiniquim. Salvo em algumas periferias ou bairros onde ainda há um convívio mais próximo entre a vizinhança. No geral, a garotada tem vivido presa em seus lares, jogando Fifa, e-sports ou com os olhos presos nas conversas do zap.

Naquele tempo “raiz”, realmente, o esporte coletivo do Brasil brilhava mais. Coincidência, diversas questões na formação de base, novos tempos e comportamentos? Não sei o que pode ser. Mas que a nostalgia daquele tempo de criança bate forte, isso bate.

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