Muito errado
Eram os últimos minutos do dia quando escutei o espocar de alguns fogos de artifício já deitado, em minhas leituras finais do dia, naquela infindável “última olhada” em todas as redes sociais que nos dominam. “Parece final de campeonato”, pensei. Mas era só a quarta rodada de uma disputa que se encerra em cerca de dois meses.
Corri para o Twitter, óbvio. Não há lugar melhor para se antenar sobre atualidades e frivolidades. Se garimpar bem, rola até de encontrar bons fios que reforçam o tecido social em meio à desinformação reinante.
Voltando à razão dos fogos, a alegria era geral entre os tuiteiros. Parecia final de Copa do Mundo, na verdade. O país em festa. A satisfação pela saída da rapper Karol Conká do tal BBB 21 era quase unânime, com a exceção de 0,83% que confirmava a regra: o Brasil queria a “cabeça” da curitibana. Até aí, tudo muito bem. Ótimo até, eu diria. Felicidade coletiva é sonho e utopia.
A treta é que a alegria não escondia certo ódio reinante. Se o sentimento ruim não chegava à marca de 99,17% das pessoas que se manifestavam, mantinha-se em um patamar alto. Assim, em meio à catarse, me veio certa angústia. É incrível como há uma parcela significativa da sociedade que ama odiar. Há quem, de fato, torça mais contra do que a favor, no BBB, no futebol ou na vida.
No domingo passado, por exemplo, tive a mesma sensação ao ver alguns flamenguistas comemorando mais – ou na mesma proporção – o rebaixamento do Vasco do que a vitória rubro-negra contra o Inter, que deixou o time muito perto do título. Para mim isso é um trem meio incompreensível.
No caso do tal BBB, independentemente do que a moça tenha feitos aos olhos do grande irmão, nada justifica o ódio, o linchamento e o justiçamento, sob riscos de nos tornarmos exatamente aquilo que criticamos.
Quando o rancor pauta a resenha, o mesmo vale para o futebol ou para a barbárie que se tornou nossa discussão pública no Fla-Flu político do cotidiano, apenas mais um lugar em que o ódio assumiu o protagonismo.
Conforme o dicionário, torcer é “apresentar uma atitude de apoio em relação às iniciativas ou ações de alguém, com desejo de êxito” ou “manifestar com entusiasmo a preferência por um atleta, uma agremiação, um time”. Ou seja: quem torce contra está fazendo errado. Muito errado.