É preciso se esforçar para manter a mente o mais aberta possível neste mundo ogro em que orbitamos. Há uma semana, vivi mais uma destas experiências. Por mais que muitos neguem vieses de preconceito e sexismo em nosso cotidiano, eles estão ali sempre a nos assombrar. Por vezes, isso nos assusta por dentro. Confesso minha “ogrice” um tanto quanto infundada com relação à Seleção feminina de futebol. Simplesmente por ser “feminina”, já que respiro o esporte bretão desde as primeiras nuances de razão (?) de minha vida. Na última sexta-feira, parte do comportamento retrógrado que insistia em povoar minha inconsciência, felizmente, esvaiu-se.
Para romper um pouco do preconceito foi preciso me dispor a viver, de fato, a experiência a qual eu mesmo marginalizava. Lá fui eu e parte de meus melhores amigos até o Mineirão, assistir a Brasil e Austrália, pelas quartas de final do torneio feminino de futebol das Olimpíadas do Rio. Um breve perrengue na entrada do estádio parecia o sinal de que aquilo poderia se transformar em uma roubada. Ledo engano. Foi um dos melhores jogos que assisti e um estádio em minha vida.
Bastou árbitra canadense Carol Anne Chenard trilar o apito para eu perceber que o jogo era o mesmo futebol que eu sempre fui apaixonado. Perceber também a gana das meninas em desempenhar seu trabalho com raça, dedicação e amor. Vontade de vencer que vai muito além do rótulo e do lugar-comum em ser comparada aos milionários atletas do masculino.
Como a ficha sempre cai, percebi que elas não querem ser um “Neymar” ou um “Zé da Couves” de saias. Elas são atletas. Talentosas, a despeito da falta de investimento de um mercado que destina grana apenas para o futebol dos homens. Elas são Marta, Formiga, Cristiane, eu ou você.
Independentemente do resultado nos Jogos ou da disputa pelo bronze de hoje, são pessoas de ouro, de peito aberto para superar – dentro e fora de campo – adversários duros como o preconceito e pensamento retrógrado de nossa sociedade, aquele que insistimos em disfarçar de “cotidiano”.