Expectativa x realidade
Já são quase onze meses saindo quase nada de casa. Meu cotidiano nas ruas é reservado ao essencial. Trabalho. Mercado. Resolver tretas para os meus pais. Foi assim ao longo da pandemia. Rolaram breves viagens para o mato e para a casa da namorada, é verdade. Mas o fato é que abri mão de muita coisa nos últimos meses.
Um exemplo bobo disso é que, até março do ano passado, visitava toda semana a barbearia. Rolê simples, mas rejuvenescedor. Aproveito, inclusive, para deixar um abraço para o amigo Luiz, responsável pelo tapa no visual semanal e dono de humor peculiar. Saudades, irmão.
Pois é, abri mão do rolê na pandemia. Nos últimos 11 meses, só fui à barbearia uma vez. E não foi no Luiz, mas, de última hora, às vésperas de gravar uma série de entrevistas com os candidatos à Prefeitura entre outubro e novembro do ano passado.
Na ocasião, foi barba e cabelo e um tanto de receio de baixar a guarda para o vírus. Deu tudo certo, felizmente. Mais de cinco meses depois, uma vez mais, não teve jeito: resolvi dar um trato no que ainda resta de cabelo. A coisa estava feia.
Ainda me privando de muita coisa nessa pandemia, resolvi confiar a missão à namorada. “Alessandra, venha cá, por favor.” Coloquei a minha cabeça a prêmio e um jogo na TV. “Seja o que Deus quiser”, foi o pensamento retórico.
Enquanto ela guiava a máquina por meu cocuruto, eu assistia ao duelo entre Internacional e Sport. Para os colorados, valia um passo adiante na corrida pelo título. Para os pernambucanos, fôlego renovado na corrida contra o rebaixamento.
Pela relevância do duelo, esperava por um bom jogo. Contudo, como naquele meme “expectativa x realidade”, o que vi foi um duelo sofrível, em que o Inter se perdeu na ansiedade e o Sport escondeu-se num placar improvável.
Aliás, essa foi a realidade de todo o Campeonato Brasileiro: jogos ruins, poucas emoções e nenhum encantamento. Sem torcida, a baixa qualidade do futebol nacional ficou ainda mais evidente e não se fez conforto nesse momento da vida em que precisamos tanto de distração.
Em tempo: na contramão do “expectativa x realidade”, Alessandra passou no teste, meu cabelo ficou suave e dá para segurar a bronca até a próxima visita ao amigo Luiz.