A profecia do ‘Doutor’


Por Renato Salles

04/03/2016 às 07h00

Titular da Seleção de 1982, Sócrates é uma das maiores figuras do futebol. Um craque que carregava o adjetivo “brasileiro” na certidão de nascimento e sempre lutou, à sua maneira, por um país melhor. Se como jogador ele fazia barbaridades com o calcanhar do pé direito, como militante, não escondia sua verve esquerdista. Ideologias à parte, o fato é que o eterno camisa 8 se destacava por seu posicionamento político, algo raro entre os boleiros.

Há seis anos, o “Doutor” profetizava qual seria o maior medo do sistema: “Imagina a Gaviões da Fiel politizada? Você tem mobilização já pronta. Tem palco, duas vezes por semana, para exercer o seu direito, a ação política, só falta a politização.”

PUBLICIDADE

O ex-jogador não viveu para ver seu desejo se tornar profecia, com o crescente engajamento das arquibancadas, surgido a partir de mobilização da própria Gaviões. Manifestações que passam pela luta por ingressos mais baratos e pela política paulistana, chegando às ingerências dos grandes conglomerados de comunicação na gestão do esporte brasileiro.

Tais ações mostram a força de uma parcela importante da população. Mais do que curtir o “ópio do povo”, os torcedores se mostraram capazes de derrubar restrições da cartolagem contra os protestos e quebrar o silêncio da TV Globo, alvo de parte dos questionamentos.

Como em raras vezes na história, as arquibancadas forçaram a gigante da comunicação a fazer um “mea-culpa”, com o Galvão Bueno comentando as manifestações. “Protestar é sempre um direito”, afirmou. Galvão está certo pela metade. Lutar por um país melhor é também um dever. Assim como Sócrates, acredito no esporte como ferramenta de uma sociedade melhor e sonho com uma maior politização das arquibancadas. Muito além das ações pontuais de hoje.

O conteúdo continua após o anúncio

Os comentários nas postagens e os conteúdos dos colunistas não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é exclusiva dos autores das mensagens. A Tribuna reserva-se o direito de excluir comentários que contenham insultos e ameaças a seus jornalistas, bem como xingamentos, injúrias e agressões a terceiros. Mensagens de conteúdo homofóbico, racista, xenofóbico e que propaguem discursos de ódio e/ou informações falsas também não serão toleradas. A infração reiterada da política de comunicação da Tribuna levará à exclusão permanente do responsável pelos comentários.