Palavras Mágicas 

O encanto presente nas palavras mágicas do cotidiano são evidentes, abrem portas, mas estão se perdendo no ritmo acelerado dos enredos e diálogos contemporâneos


Por Renan Ribeiro

25/03/2022 às 07h00

O tema do meu convite de formatura em Comunicação foi o universo do circo. Entre as inspirações para trajes e poses, eu decidi pegar as referências de mágico: terno, cartola, capa, luvas, varinha e cartas que voam. Ainda tenho a foto grande pendurada no quarto. Meu primo Matheus, toda vez que me vê pessoalmente, se lembra daquela imagem. Sempre que pode, me pergunta sobre truques de mágica. Digo a ele sempre que a mágica está nas palavras, mesmo que ele ainda espere ver eu tirar um coelho de dentro de um chapéu a qualquer momento.

Quando ele pede para citar encantamento, eu trago alguma das histórias da infância para brincar com ele. “Alacazam”, “Abracadabra”, “Wingardium Leviosa” e o que mais vier na mente. Para além da brincadeira, sempre faço questão de enfatizar com ele o uso das palavras mágicas que eu aprendi quando pequeno. Expressões que são simples, mas abrem portas, janelas e têm a capacidade de melhorar o dia das pessoas.

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Entrei em uma pequena lanchonete do Centro para comprar uma garrafa d’água. O estabelecimento estava vazio e havia apenas um rapaz no caixa. “Você pode pegar para mim uma garrafa d´água, por gentileza?”, eu disse. Ele pegou o objeto e me entregou. No ato, agradeci. “Muito obrigado, viu?” Paguei e antes que eu me virasse para sair, ele me disse: “parabéns e obrigado pela educação, você foi a primeira pessoa que me cumprimentou hoje ao longo do dia.” Eu respondi com um: “Imagina!”.

Deveria ter saído da loja feliz, afinal de contas, é raro nos dias de hoje receber um elogio sincero assim, mas as palavras daquele jovem me entristeceram. Percebi por meio daquele lamento, que as palavras mágicas que sempre prezei tanto estão sendo menos utilizadas do que deveriam.

Em outros espaços, comerciais ou não, ouvi queixas semelhantes. Pessoas impacientes, que exigem sempre atenção exclusiva para suas necessidades, ignorando filas, ordens, que querem passar na frente a todo custo e não medem as consequências de suas atitudes e lidam com as outras pessoas com arrogância e empáfia, como se fossem ilhas, como se não precisassem de ninguém.

Não é com palavras duras, ordens, exigências, falta de empatia, respeito e de educação que nos conectamos com as outras pessoas.

O uso de palavras mágicas se tornou, para mim,uma primeira maneira de observar as pessoas. Quem as usa passa a despertar um senso de humanidade, causar identificação e abrir portas por meio de algo que deveria ser regra, não exceção. Muitas vezes, os adultos apresentam exemplos equivocados de conduta, que irão arrastar nossas crianças à reprodução de comportamentos semelhantes, se não nos colocarmos mais atentos em todas as nossas relações.
Espero que assim como meu primo tem descoberto o poder que as palavras mágicas têm, possamos redescobrir a importância delas, tirando-as com uma frequência maior de dentro das nossas mangas.

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