Como será que termina?


Por Renan Ribeiro

18/06/2021 às 07h00

Fiquei boquiaberto ao saber da cratera aberta em Santa Maria Zacatepec no México. As imagens que vi na internet eram impressionantes. Os pedaços de terra que caiam e ampliavam o buraco, aumentando o diâmetro dele em pouco tempo. Por algum prazo que não consegui calcular, mergulhei em notícias e postagens sobre a possível falha geológica, que trouxe insegurança para a população do entorno.

Todo grande acontecimento natural curioso como esse desperta em mim aquele assombro engraçado que faz você sentir atração e repulsa pelo assunto ao mesmo tempo. Mais que isso, toda vez que algo dessa natureza surge, se abre uma caixa de questionamentos na mente, que nos levam para bem longe. Será que algo semelhante pode ocorrer aqui? Quais são as causas e consequências? O que é possível fazer para interromper os danos causados por esse transtorno?

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A falta de respostas para tantas perguntas urgentes chega a outros pontos. Até onde vai? Como as pessoas vão lidar com isso? Como será que termina? Quando chega aí, vem outro susto, provocado pela sensação de finitude. É momento que entendemos como as coisas são relativamente pequenas diante do todo. E que muitas coisas independem da nossa vontade e estão completamente fora do nosso cálculo ou controle.

É o que levam a pensar as imagens sobre o derretimento de grandes calotas polares, de animais que foram mortos por incêndios, ou vazamentos de produtos químicos, os estragos causados por ondas gigantes, toda e qualquer ocorrência capaz de deixar pessoas do mundo inteiro assustadas sempre permitem a reflexão sobre limites e sobre o caráter frágil da vida.

Até hoje, no entanto, ouso dizer que a situação com maior impacto sobre esse aspecto é a pandemia. No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, há mais de 496 mil mortos pelo coronavírus. Há 15 meses não tem um só dia em que a gente não escute, veja, ou saiba de algo relacionado à doença. Passamos praticamente um ano e meio querendo saber como e quando será que termina esse período. Nenhum acontecimento anterior mostrou de tantas formas diferentes o quanto a vida vale, o quanto ela é frágil, passageira e importante. Mas ainda assim, há quem se recuse a tomar as poucas medidas que existem para a autoproteção e para a proteção de quem está no entorno.

Algumas respostas sobre a pandemia nós já temos. Os cientistas repetem, pacientemente, todos os dias. Vacinação, distanciamento, uso da máscara. Vamos vencer esse momento de um jeito ou de outro, mas mais do que nunca o exercício da consciência e da responsabilidade precisam estar afiados. Não sabemos que tamanho a cratera com a qual nos deparamos todos os dias, causada pela dor, pela saudade ou pelo horror pode chegar a atingir, acredito que também não estejamos dispostos a pagar para ver onde ela pode chegar.

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