Gamadinho

A tarde de trabalho foi brevemente interrompida por uma embalagem que não aparecia em casa há anos, um doce de amendoim que leva o nome Gamadinho. Foi o meu irmão que encontrou a guloseima. Chamamos a bala por nomes diferentes. Para mim, é dadinho. Mas também já ouvi chamarem de bala do coração. Ambos fazem sentido.

Descobri que o docinho revela muito mais do que o sabor de uma massinha que derrete na boca. Cada papel prateado desembrulhado, além de agitar as papilas gustativas, também acorda uma série de lembranças que atravessa e afeta diferentes gerações.

Minha mãe afirmou que a bala tem sabor de infância. Compartilhei uma foto nas redes sociais e logo descobri que muitas outras infâncias contêm o mesmo gosto. A minha, a do meu irmão, a de tios, primos, amigos com idades muito distintas. Todos relataram o apreço ao docinho.

Alguns achavam que a produção da gulodice tinha sido suspensa. Cheguei à conclusão de que nos esquecemos de buscar os sabores da infância, mas desconfio que seja só impressão. Na verdade, me parece ser um dos únicos itens que não teve a fórmula tão modificada com o tempo, a ponto de perder sua essência, como dezenas de outros produtos, que se tornaram irreconhecíveis. De início, cogitei que a reação que recebi fosse exagerada, mas eu mesmo não resisti e viajei por meio da memória afetiva.

Uma amiga me disse que sonhou com o Gamadinho, uma tia me disse para eu providenciar algumas balas para ela. Parece bobo, mas vi uma conexão bonita nascer do encontro desse apreço por algo tão pequeno e tão simples. Pensei em quantas coisas são capazes de despertar sentimentos semelhantes.

O nome que dão às coisas sempre diz muito para mim. Pelo retorno que recebi, percebi que o idealizador da receita foi certeiro, não só quando escolheu Gamadinho, que junta o afeto, o formato (quadradinho), a porção e o efeito, mas também quando ilustrou a embalagem com um coração. A simplicidade e o acerto foram capazes de atravessar décadas e fazer algo tão pequeno provocar sensações tão gostosas.