Elefante branco
Ainda é muito cedo para falar qualquer coisa sobre o processo envolvendo o ex-reitor Henrique Duque. Não nos cabe, como jornalistas, julgar nada, muito menos ninguém. Como toda a cidade, acompanhamos com perplexidade o desdobrar da operação Editor, que levou para uma cela de dez metros quadrados do Ceresp três pessoas ligadas à UFJF e por que não dizer a história da universidade?
O que me cabe como cidadã juiz-forana, no entanto, é lamentar o desperdício de dinheiro envolvendo o que é público, e, nesse sentido, custeado por todos nós. No caso da ampliação do Hospital Universitário é urgente pensar uma solução para um empreendimento que já consumiu mais de R$ 100 milhões dos cofres públicos e que, mesmo paralisado desde o segundo semestre de 2015, continua custando muito caro, já que as perdas de materiais usados e que estão estragando com o tempo já somavam pelo menos R$ 1 milhão em dezembro de 2016, conforme sindicância.
Em realização de reportagem da Tribuna, estive essa semana percorrendo os pavimentos do prédio projetado para oferecer a usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) 342 novos leitos. Um espaço que poderia não só tratar e salvar vidas, mas ser um importante centro de ensino e pesquisa como tradicionalmente são os Hospitais Universitários do país, apesar de todo sucateamento.
Confesso que, quando caminhei pelo Bloco E, entre aqueles corredores vazios que ainda exibem vestígios da frenética construção do passado, fiquei pensando sobre o que move o ser humano. Ganância, idealismo, vaidade, espírito público, desejo de poder? Diante de um projeto dessa dimensão, que certamente impactaria toda a região que tem na cidade uma referência em qualidade de saúde, foi impossível não pensar em como uma estrutura como aquela pode terminar assim? Ou melhor, não terminar? Ao mesmo tempo, como concluir um gigantesco complexo hospitalar que antes mesmo de funcionar parece já estar morrendo?
Será que as obras de ampliação do HU reeditarão em solo mineiro o famoso Elefante Branco da Argentina? Elefante Branco é o nome do filme que trata da forma como ficou conhecido um edifício abandonado pelo governo argentino desde a década de 1930. Em seu planejamento inicial, o prédio, que existe até hoje em Buenos Aires, deveria ter se tornado o maior hospital de toda a América Latina, mas abriga cerca de 30 mil pessoas que não têm para onde ir.
Como é doloroso perceber que, mais uma vez, o que está em jogo é a viabilidade não só de um hospital, mas de um país.