Dia dos Namorados “escalafobético”


Por Daniela Arbex

19/06/2016 às 07h00

Na semana passada, entrei no clima de romance e lá fui eu com meu marido passar o Dia dos Namorados no Arraial Velho de Santo Antônio, a conhecida Tiradentes, batizada assim em homenagem ao alferes Joaquim José da Silva Xavier. Frio de lascar no alto da montanha, clima perfeito para vinho e outras coisitas mais, afinal mães e pais também amam. Com a chegada de um casal de amigos de longa data, decidimos jantar juntos na Rua Direita, em um restaurante da hora super bem recomendado. Com o cardápio nas mãos, iniciamos a difícil tarefa de escolher um prato. Até que bati o olho na sugestão do chefe: lombo alto, servido com folha de mostarda na manteiga, purê de baroa e torresmo a pururuca com baixo teor de gordura. Aquilo deu água na boca.

– Nossa, parece muito bom, mas esse prato é meio escalafobético para o Dia dos Namorados, eu disse.

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O amigo que jantava conosco deu uma gargalhada.

– Escalafobético? Adoro essa palavra, eu uso muito, respondeu o cardiologista que tem duas décadas a mais do que eu.

Naquele momento, me dei conta do tempo, do quanto ele passa rápido e sobre o que nos torna verdadeiramente felizes. Aliás, tenho percebido que deixei de ser aquela menina, embora eu ainda me sinta como antes, cheia de sonhos a realizar.

Viajando no tempo, me lembrei do encontro que tive recentemente com uma colega de escola. Quando a vi, fiquei surpresa, pois ela estava bem diferente. A passagem dos anos não foi generosa com ela. Tiramos uma foto juntas e, para minha surpresa, ao me olhar naquele retrato, vi que eu estava muito parecida com minha colega, embora não tivesse me dado conta disso. Ri de mim mesma ao analisar a imagem e perceber que o relógio não para pra ninguém, embora a gente sempre ache que sim.

Outro dia, deixei meu carro no estacionamento de um amigo de infância. Quando cheguei, ele estava no caixa, usando óculos de aro preto. Ao me aproximar, percebi que os olhos dele estavam muito inchados.

– O que houve, perguntei.

– Fiz cirurgia plástica, pois minha pálpebra caída estava me incomodando até para ler. Na nossa idade…

– Credo, que história é essa de nossa idade? Não sei nada disso não, disse, cortando aquele papo escalafobético.

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Voltando para o jantar em Tiradentes, o adjetivo em desuso que utilizei para me referir à sugestão do chefe despertou em nós discussões sobre o tempo que a gente não mede em idade, mas em vivências ricas de sentimentos e de aprendizado. Foi então que ouvi da minha amiga ruiva – aliás uma das mais lindas que já conheci -, que ela pretende ser uma vovó de cabelo vermelho, porque, da tintura, ela não abre mão. Eu também não vou querer assumir meus cabelos brancos, só não sei qual cor usarei quando a velhice chegar. Acho que ainda terei tempo para resolver esse dilema.

Deixando as esquisitices de lado, espero que os próximos 30 anos me encontrem junto dos meus amores e da escrita, a forma que encontrei para tentar interferir neste mundo. Aliás, o sonho do escritor é viver na memória de alguém.

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