Meu filho vai ser o Totó!


Por Daniela Arbex

18/11/2018 às 08h10

Há algum tempo, Diego chegou em casa com uma novidade: a escola preparava uma peça para o final do ano. Curiosa, descobri que seria uma livre adaptação de O Maravilhoso Mágico de Oz, um dos mais populares livros da literatura infantil americana, cuja sequência resultou na criação de dezenas de outras obras. Empolgado, ele me contou seu papel. Foi escolhido para ser o Totó. Na hora, levei um susto. Sem deixar que ele percebesse o meu estado de espírito, perguntei por que ele foi escolhido para representar aquele personagem.

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– Por que a tia disse que sou muito “agilidoso”, respondeu Diego, orgulhoso de si mesmo.

Dei um abraço nele e o parabenizei. Mas preciso confessar o inconfessável: fiquei doída por dentro. Por que meu filho, entre todas as outras crianças, seria o cachorro da história? Senti vergonha da pequenez dos meus pensamentos, afinal, o Totó era o melhor amigo da Dorothy, a heroína dos livros de Oz. Criada pelo escritor L. Frank Barum, a história é sobre a menina que, após a passagem de um ciclone em sua cidade, é levada, junto com seu cachorro (Diego, no caso), para a Terra de Oz, de onde só sairá após encontrar o caminho da Cidade das Esmeraldas. É lá onde mora o poderoso mágico que poderá levar Dorothy e seu fiel companheiro de quatro patas de volta para Kansas, na região Centro-Oeste dos Estados Unidos.

Aqui no Brasil, Diego ensaiava em casa o seu latido todos os dias. E, apesar do esforço que fiz para enxergar a grandeza daquele papel, eu não tinha conseguido ver graça naquilo. Por isso, ao encontrar a professora de literatura no pátio da escola, deixei escapar a pergunta mais sem noção que uma mãe pode fazer.

– Tia, o Diego vai ser o Totó por que você acha que ele não tem capacidade para ser outra coisa?

Se arrependimento matasse, eu tinha morrido naquela hora. A professora ficou tão sem graça com a maluquice do meu questionamento, que ela tentou encontrar palavras para me explicar o óbvio: Diego tinha perfil para ser o Totó. Era alegre, amigo, leal, rápido, “agilidoso” de fato.
Puxando na memória, lembrei dos meus papéis nas peças da Academia, onde fiz teatro por alguns anos. Fui bicho em todas elas… Me vesti de coruja e até de tartaruga, que nem é “agilidosa”, embora na disputa de uma corrida, ela ganhe disparado de uma lesma, cujo deslocamento é de 16,5 centímetros por minuto. Cheguei a rir com alguns amigos do jornal sobre a sina da nossa família.

O interessante é que partiu do Diego (dele, mesmo, eu juro) a insatisfação por não ter fala na peça. Diego reivindicou sua voz – uma atitude corajosa para um menino de 7 anos -, e trouxe para casa os diálogos que ganhou após seu protesto pacífico.

O tempo passou e me deu milhões de segundos suficientes para eu me arrepender da minha “egolatria” (idolatria egocêntrica de mãe). Além da ajuda do sensível jornalista Mauro Morais, e da editora de Cultura Isabel Pequeno, o talentoso Marcos Araújo, ator de teatro nas horas que sobram entre a rotina de pai e de jornalista na Tribuna, me fez ver com muita dose de humor que grandes talentos também tiveram seu momento de bicho-grilo nos palcos da vida. Reconheci meu erro de julgamento, mas quem nunca foi tolo assim?

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O fato é que Diego está muito feliz e cada vez mais animado com o dia em que seu Totó irá falar pelos cotovelos e latir melhor do que qualquer vira-lata do planeta. Já eu, estou muito orgulhosa dele!

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