Olho por olho, dente por dente


Por Daniela Arbex

04/04/2018 às 07h00- Atualizada 04/04/2018 às 22h26

Se alguém arranca o olho a um outro, se lhe deverá arrancar o olho. Se alguém espancar outro mais elevado que ele, deverá ser espancado em público 60 vezes, com o chicote de couro de boi. Olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé. Criada no Reino da Babilônia 1.700 anos antes de Cristo, a Lei de Talião estabelecia como princípio de justiça para a sociedade mesopotâmica que o mal causado a alguém deveria ser proporcional ao castigo imposto. Na prática, porém, o cumprimento da lei que pretendia colocar todos os homens em condição de igualdade não era o mesmo quando o ofendido pertencia a uma categoria social inferior, como o escravo. Se um homem livre furasse o olho de um escravo ou lhe fraturasse o osso, pagaria com uma mina de prata, ou seja, o dinheiro livrava o autor de sofrer a pena da revanche.

Mais de três milênios depois da imposição do Código de Hamurabi, o homem conseguiu chegar à Lua, identificar a nanopartícula, inventar aparelhos como o que transmite radiação eletromagnética capaz de penetrar em objetos sólidos para a realização de diagnósticos médicos, transplantar órgãos e encontrar um novo sistema planetário composto por sete planetas com o tamanho bem parecido ao da Terra. Mas o avanço tecnológico e científico não tem sido acompanhado de discernimento.

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Em pleno século 21, um adolescente de 13 anos teve a mão decepada na Vila Olavo Costa, uma das regiões mais vulneráveis de Juiz de Fora, durante um crime cometido por vingança. O garoto foi atingido por um facão e, ao ser socorrido, apontou um suspeito que confessou a violência. O jovem acabou tendo que amputar a outra mão também afetada pelos golpes que, segundo o autor, impediriam o rapaz de cometer novos crimes. Por um instante, a Rua Hortogamini dos Reis se transformou na praça pública de Sumeria, a antiga capital da Babilônia. Aliás, onde o braço do Estado não alcança, os códigos dos povos não civilizados são recriados. É vida que segue sendo banalizada pelo mal. Os homens continuam sem saber o que fazem.

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