On ou off, Onofre?

Em tempos de discursos muito polarizados, a comunicação também vem sofrendo com dicotomias.  A principal delas: mídia on ou off.


Por Marcos Villas Boas, Sócio da República Comunicação, Professor do curso de Publicidade e Propaganda e tenista nas horas vagas.

29/04/2018 às 09h00

Em tempos de discursos muito polarizados, a comunicação também vem sofrendo com dicotomias.  A principal delas: mídia on ou off. Para os vorazes defensores da mídia digital, como Marcelo Asty, analista de marketing digital da República, estamos próximos de assistir o fim do Jornal impresso, da TV aberta, do Rádio. Para os amantes do offline, como nossa profissional de Atendimento, Ana Leitão, a mídia online está longe de ter o alcance, impacto e credibilidade das mídias, digamos, tradicionais. A discussão é interessante, porém, como toda polarização, há exageros dos dois lados.

Essa história de online e offline, me faz lembrar de um amigo de Caxambu, capital do Sul de Minas. Para ele, faz tempo que on e off são como os lados de uma mesma moeda: indissociáveis. Ele explica. Chamou o Uber pelo aplicativo é on, entrou no carro é off. Acionou o delivery pelo celular é on, mordeu o sanduíche é off.  Deu match no Tinder é on, saiu pra jantar é off. Fiel à sua teoria, passava os dias classificando o comportamento humano dentro dessa perspectiva. Até o dia em que sua namorada, extremamente nervosa, fez um questionamento incisivo sobre uma mensagem de uma tal de Fernanda no celular dele. É on ou off, Onofre? Titubeou na resposta. Recebeu um tapa, que classificou como off e uma mensagem de adeus via celular, que, obviamente, era on.

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É bom entendermos que a sociedade está migrando da fase de estar conectada para ser conectada. E isso vem impactando por demais nossos hábitos, costumes e formas de consumir, inclusive, a mídia. A distância entre a escolha de um produto e a efetivação da compra está cada vez menor, e a velocidade da internet está formando uma geração que busca a instantaneidade em tudo, o tempo todo. O sistema criado pela rede de supermercados Home Plus, da Tesco,  que permite ao consumidor escolher produtos, em uma prateleira virtual numa estação de metrô, finalizar a compra pelo smartphone e receber os produtos em casa, é um ótimo exemplo de como essa convergência digital está exigindo das marcas respostas cada vez mais rápidas, seja para estimular o consumo, para responder questionamentos e críticas ou para interagir com seus consumidores pelas redes sociais, smartphones e, em breve, pela geladeira ou micro-ondas. Estamos falando da Internet das Coisas – IOT (Internet of Things) – que vai acelerar ainda mais todo esse processo, mas isso é assunto para uma próxima edição da nossa coluna.

Voltando a falar das mídias tradicionais, alguns números são bastante fortes. É fato que a circulação dos jornais impressos vem caindo, ao mesmo tempo que a versão digital cresce no Brasil.  Pesquisa de 2017, realizada pelo IVC (Instituto de Verificação de Circulação) mostrou um crescimento da circulação digital de jornais como o Correio Braziliense (crescimento de 88,4%,); Valor Econômico (38,8%); Zero Hora (32,2%) e Super Notícia (20,8%). Segundo uma outra pesquisa, do Ibope, na última década, apesar do volume de TVs ligadas no Brasil ter crescido quase 11%, os grandes canais abertos, como Globo, SBT e Band, perderam participação. No Rádio, a pesquisa Ibope de 2018 realizada em São Paulo, identificou uma pequena redução no número de ouvintes por minuto, enquanto a audiência via internet (streaming) cresceu. É o online mostrando sua força, sem dúvida, porém, uma coisa que as novas mídias ainda não alcançaram foi a credibilidade dos veículos tradicionais. Seja pela total irresponsabilidade no compartilhamento de informações sem fundamentos ou pelo crescimento absurdo das fake news (notícias falsas), o fato é que a audiência da mídia digital, principalmente, das redes sociais, está sendo questionada por grandes marcas como Unilever e Procter e Gamble. Nesse sentido, o equilíbrio entre audiência e ambiência começa a ser buscado pelos profissionais de Marketing e onde se anuncia passa a ter um peso tão forte quanto o número de views ou compartilhamentos. Nesse sentido, há um movimento muito forte dos veículos tradicionais em direção ao ambiente digital,  buscando, principalmente, fincar essa bandeira da credibilidade, da ambiência ideal para as marcas.

Em Juiz de Fora, é possível perceber isso claramente.  Todos os grandes grupos de comunicação da cidade estão, agora e mais do que nunca, marcando seu território no ambiente digital. Despertaram para o que Onofre já falava faz tempo: somos todos on e off.

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